segunda-feira, 21 de outubro de 2013

A Poluição Marinha (O Petróleo)

A Poluição Marinha

  • As atividades humanas se desenvolveram ao longo da história alavancadas por novas tecnologias. A exploração dos recursos naturais se torna ainda mais intensa após a Revolução Industrial, quando houve progresso e diversificação da produção industrial.
Apesar de toda esta tecnologia influenciar tantas vezes positivamente na economia mundial e promover a geração de empregos e renda para a população, também representa uma fonte geradora de poluição, afetando a qualidade de vida das pessoas e a preservação do meio ambiente.
  • Um dos recursos naturais estratégicos utilizados pela indústria do petróleo e gás natural é o mar, cuja superfície total é de aproximadamente 361,3 milhões de km², o que representa 70,8% de toda a superfície do globo. 
O volume total das águas dos mares é de 1.338,5 milhões de km³, ou seja, 93,9% da hidrosfera, que é composta de todas as águas do globo [POLMAR, 2005]. 
  • Este meio natural tão importante é um grande recebedor da poluição gerada pelo homem a exemplo de esgotos, resíduos sólidos e compostos orgânicos como é o caso do petróleo. 
O petróleo é uma das mais importantes fontes de energia utilizadas pelo homem e de poluição para o meio ambiente. O petróleo é composto pela mistura de diferentes hidrocarbonetos, com estruturas e características diferentes, que podem variar de gás leve (metano) até óleo cru pesado. Os hidrocarbonetos são formados pelo agrupamento de átomos de carbono e hidrogênio e podem causar sérios danos ao ambiente marinho. 
  • A poluição por óleo causa colapso em diversas atividades realizadas no mar, como a pesca artesanal e industrial, o turismo, o lazer e a navegação além de comprometer as áreas de preservação. As fontes da poluição por petróleo no mar são diversas e provêm geralmente do transporte por dutos submarinos, navios, limpeza de embarcações, plataformas petrolíferas, operações offshore e despejos industriais e urbanos. Estas atividades geram danos para comunidades, economia da região e são incalculáveis, sobretudo, para a biota marinha.
No Brasil a busca por petróleo data do final da década de 30, quando historicamente foi perfurado o primeiro poço exploratório na cidade de Lobato, interior do Estado da Bahia. Anos mais tarde com o progresso e a modernização do setor, do aumento do consumo de energia no país e da crise do petróleo surgiu a necessidade de expandir a exploração para outras áreas como a Bacia de Campos que é hoje uma das principais áreas de produção e província de extração de petróleo e gás natural no Brasil e a que mais produz na margem continental brasileira.
  • Nesta Bacia existem plataformas petrolíferas, responsáveis por toda produção da região que englobam poços exploratórios e poços de desenvolvimento ligados a uma teia de dutos submarinos e de linhas flexíveis e responde por mais de 80% de todo o escoamento da produção nacional de petróleo e gás natural, possuindo também o maior número de reservas descobertas, classificadas, provadas e exploradas no país [Petrobrás, 1999]. 
Esta área está localizada na região geográfica que se estende por parte do litoral Norte do Estado do Rio de Janeiro e da costa sul do Estado do Espírito Santo e é formada por depósitos sedimentares originados, sobretudo pelos depósitos erosionais de parte das rochas da Serra do Mar. Em virtude da privilegiada localização áreas como as da Bacia de Campos tornaram-se espaços estratégicos de interesse nacional para produzir petróleo.
  • Além das relevantes belezas naturais, a Bacia de Campos é cenário de desenvolvimento científico e tecnológico, abrigando uma das maiores reservas de petróleo e gás natural do mundo: o pré-sal.
Esta nova descoberta expandiu o comércio local e intensificou os processos de exploração de petróleo que pode elevar o Brasil a um nível necessário ao seu desenvolvimento econômico, além de maximizar as perspectivas de riqueza para a região sudeste e para todo o país. Isso significa que os recursos materiais para o progresso da área já existem e são importantes mas, não são o bastante para o seu estudo e preservação. 
  • Por isso, é necessário investir principalmente em saber ambiental, pois estas recentes descobertas tecnológicas embora tragam uma perspectiva de crescimento também provocam muitos problemas ambientais.
A exploração de petróleo tornou-se tão intensa que atinge até mesmo áreas topograficamente difíceis de explorar, e que tantas vezes são considerados apenas os benefícios sem reconhecer as limitações do ambiente e os prejuízos que podem ser causados ao equilíbrio ambiental. 
  • Desta maneira, é necessário conhecer os atributos ambientais dos espaços e os danos causados pela ação do homem ao explorar estes locais para a partir disso, estabelecer as estratégias mais eficazes para a proteção ambiental da áreas exploradas.
Essas atividades modernas trazem riscos ambientais para a área como a poluição marinha que pode ser definida como a introdução direta ou indireta, pelo homem, de substâncias ou energia no ecossistema de modo a resultar em efeito deletério aos recursos vivos, prejuízo à saúde humana e redução em sua qualidade da água e de atividades a ela relacionadas, tais como pesca, recreação e outras [BÍCEGO, 2008]. 
  • É certo que algumas das fontes de poluição são provenientes de emanações naturais (exsudações naturais) de fendas em rochas reservatórios, onde a pressão interna por ser maior, rompe as armadilhas naturais das rochas mas, as deficiências na segurança operacional que podem causar acidentes e os derrames propositais podem resultar em grandes deposições e representam potenciais fontes de introdução de óleo nos oceanos.
Uma das consequências da exploração do petróleo é a contaminação do meio ambiente marinho por hidrocarbonetos. A entrada de óleo no mar pode decorrer de diversas operações (exploração, perfuração, armazenamento, transporte, limpeza de terminais e plataformas). 
  • Apesar do sucesso das medidas de controle e prevenção para diminuir o despejo de óleo no mar, estimativas de 1981, mostraram que aproximadamente 3,2 milhões de toneladas de óleo por ano entraram no ambiente marinho, considerando-se todas as fontes. [GESAMP, 1993, apud. Bícego et. al. 2008]. 
Felizmente, após vinte anos a contribuição de óleo para os oceanos diminuiu e atingiu a marca de 1,3 milhões de toneladas por ano. Essa diminuição deve-se às medidas de controle e prevenção implantadas pelas empresas petrolíferas, sobretudo em plataformas onde o número de acidentes em é pequeno em relação aos que ocorrem com petroleiros e outros tipos de navios. 
  • Os petroleiros, que são embarcações de transporte de petróleo, podem carregar mais de 500 mil toneladas de óleo cru de uma só vez e contribuem com uma quantidade significativa de petróleo e derivados para o ambiente marinho [NRC, 2003; apud. Bícego et. al. 2008]. 
As fontes de introdução podem ser destacadas em quatro principais categorias: infiltrações naturais através de fendas nos fundos oceânicos, extração, transporte e consumo de petróleo. 
  • Além das fontes destacadas pode ocorrer ainda a introdução direta de óleo no mar acidentalmente ou por negligência, pela deposição atmosférica (partículas sólidas ou líquidas dispersas no ar). 
Outra grande preocupação é com referência a introdução das águas de produção no meio marinho. 
A água de produção é uma mistura da água de formação com a água do mar injetada no interior dos poços para aumentar a pressão interna e facilitar a extração de petróleo. Estas águas são descartadas diretamente no mar por algumas plataformas marítimas e contém traços de óleo e outras impurezas na sua formação.
  • Ao redor do mundo muitos acidentes com navios petroleiros são registrados, como na Guerra do Golfo em 1991, onde foram depositadas mais de 1.000.000 de toneladas de óleo no mar, sendo considerado este o maior de todos os derrames já ocorridos. 
No Brasil, um dos maiores acidentes registrados envolveu o petroleiro Brazilian Marina, que se chocou com uma rocha no Canal de São Sebastião, litoral Norte de São Paulo, prejudicando seriamente as praias da região [CETESB, 1978; apud. Bícego et. al. 2008].
  • Entretanto, a maior contribuição de poluição por óleo para o mar, é através da remoção terrestre da água de rios contaminados e da descarga operacional proveniente de operações de transporte e consumo [NRC, 2003; apud. Bícego et. al. 2008].
Por causa da aceleração dos processos de exploração na área e uma vez que existem poucos trabalhos de pesquisa sobre o tema, há a necessidade de produzir estudos que discutam e avaliem a problemática a fim de encontrar soluções ambientalmente viáveis para ela.
  • Além de tudo, há ainda a precisão de analisar os casos considerando os aspectos legais, como o que está escrito na Constituição Federal, em seu artigo 225 que aborda a proteção jurídica do meio ambiente, deixando clara a preservação e defesa deste para as presentes e futuras gerações, sempre buscando harmonizar equilíbrio ambiental e desenvolvimento socioeconômico. 
Esse mesmo artigo trata os recursos naturais como bens ambientais, não pertencendo estes a ninguém, ou seja, são “de uso comum do povo”. Essa afirmativa transparece os princípios do desenvolvimento sustentável: o de utilizar os recursos naturais na atualidade sem comprometer a capacidade de uso das futuras gerações.
  • A legislação ambiental brasileira é uma das mais completas do mundo mas, tem reagido por vezes paliativamente às pressões das demandas ambientais nas áreas em que se explora petróleo, fazendo concessões de licenças a empreendimentos de interesse estratégico, como os blocos de exploração de petróleo.
O Estado do Rio de Janeiro através de seus instrumentos de políticas públicas associado aos critérios dos investidores e aos órgãos de proteção ambiental nacionais como o CONAMA, Ministério do Meio Ambiente e IBAMA têm buscado um equilíbrio através do controle das atividades industriais e ambientais nesta área, como os programas de preservação do meio ambiente do governo brasileiro, através da atuação da principal petrolífera estatal do país. 
  • Estas políticas públicas estão relacionadas à redução dos impactos ambientais negativos causados por desastres ambientais em áreas de interesse nacional, como é o caso da Bacia de Campos [Pedro, 2007].
Desta maneira, a preservação ambiental de áreas onde se produz petróleo é importante para as espécies e para o homem, sendo necessário encontrar um ponto comum entre o poder público e sociedade civil para responsabilizar mais energicamente as empresas poluidoras, através de medidas eficazes.
  • Este artigo tem o objetivo de sintetizar quais são os principais efeitos ambientais da poluição marinha causada por petróleo no ambiente marinho e em linhas gerais nos seus organismos.
A metodologia utilizada foi feita de forma elementar, baseada no levantamento de dados bibliográficos e na coleta de informações científicas acerca da problemática analisada. Aos dados bibliográficos foram acrescentadas informações obtidas em registros digitais, de órgãos governamentais ligados ao saneamento ambiental e à produção do petróleo no país, que divulgam dados relacionados com o tema abordado no presente trabalho. 
  • Este material contém informações relevantes, embasado no que já existe de publicações com referência ao tema porém, permitindo expor uma nova linha sobre o assunto que possa servir de consultas futuras, pois condensa informações importantes destas fontes de pesquisa.
Planeja-se empregar os conhecimentos obtidos na literatura científica, levando em consideração os danos causados pelo petróleo, a fim de discutir as possíveis consequências para as comunidades marinhas, quando ocorrem vazamentos de óleo no mar, principalmente pelos gigantes da indústria petrolífera. 
  • A sequência de elaboração deste artigo busca facilitar a compreensão geral das consequências de um derramamento de petróleo no mar, ressaltando importantes áreas em exploração. A introdução expressa a delimitação do tema, objetivos, relevância da pesquisa e os procedimentos metodológicos. 
Os demais tópicos apresentam quais são os principais efeitos do derramamento do petróleo para os organismos marinhos, discutindo ainda brevemente questões ligadas à ecotoxicologia aquática.
  • Os ambientes aquáticos incluem uma diversidade e complexidade de vários tipos de ecossistemas como rios, riachos, lagos, lagoas, estuários, águas costeiras, oceanos profundos, águas doces e salgadas, cada um contendo características próprias. 
Os seres bióticos (vivos) são de grande variedade, como animais, plantas e microrganismos que vivem em diversos nichos ecológicos nos ecossistemas e os seres abióticos, que incluem os componentes da água (sedimento, material em suspensão, capacidade de solubilidade ou espalhamento) [LOMBARDI, 2008].
  • Quando ocorre um derrame de óleo no mar este fenômeno é chamado de maré negra. Logo que o petróleo e seus derivados são introduzidos no ambiente marinho ocorrem imediatamente mudanças nas propriedades químicas e físicas desta substância. 
Primeiro, o óleo se espalha pela superfície da água e é transportado pelo vento, correntes marítimas, ondas, pela ação das marés e da dinâmica costeira do local. Em seguida, o óleo se agrega aos organismos e partículas sólidas existentes na atmosfera e na água, para depois sedimentar. Os compostos que têm um ponto de ebulição menor evaporam por causa da velocidade do vento, temperatura da água, do ar e estado do mar. 
  • Por causa da evaporação um óleo leve pode perder mais de 70% de seu volume e um óleo médio pode perder até 40%. “A evaporação é o processo mais importante em termos de balanço de massa e pode ser responsável pela perda de 75% do volume em um derrame de óleo leve e 40% em um óleo médio”. [BÍCEGO, 2008].
Outro processo que pode acontecer é a emulsificação do óleo na água, o qual logo ganha a aparência de um “mousse de chocolate” que tem considerável efeito tóxico no sistema biológico. “Neste caso, o óleo representa apenas uma pequena fração em relação à quantidade de água na “mistura”, que pode chegar até 80%” [Bícego et. al. 2008]: 
“Muitas vezes os microrganismos se encarregam de degradar o óleo, dependendo do tamanho da população, variedade de espécies, concentração de oxigênio e nutrientes” [Bícego et. al. 2008].
A Poluição Marinha por petróleo

  • Porém, este processo pode ser relativamente lento nos lugares em que não há tanta disponibilidade de nutrientes, pois o curso de degradação microbiológica depende deste tipo de suprimento.
De igual maneira, grande parte do óleo que se evapora pode ser oxidado fotoquimicamente e o restante dos produtos por serem mais solúveis, se espalham na coluna d água. A água, por causa da sua transparência, permite que o sol penetre até uma considerável profundidade e os compostos oleaginosos suscetíveis a degradação pela luz solar se decompõe por fotólise.
  • Esta sucessão de mudanças podem ocorrer ainda em combinação com a degradação microbiológica. Em ambientes com alta intensidade de luz e baixa concentração de nutrientes, como por exemplo, em águas superficiais de regiões tropicais e subtropicais, a fotooxidação ocorre mais facilmente do que a degradação microbiológica. 
Geralmente o processo de degradação predomina mais e pode variar com o tempo, a natureza da exposição, o peso das moléculas dos compostos derramados, as condições climáticas e a dinâmica do ambiente que foi atingido. “Em alguns ambientes com baixa energia a degradação pode ser muito lenta e uma pequena quantidade de óleo pode permanecer neste local por muitos anos”. [BÍCEGO, 2008].
  • Alguns acontecimentos influem diretamente no grau de impacto do óleo no ambiente marinho a exemplo do tipo e quantidade de óleo derramado, que influem na intensidade do impacto e no tempo de recuperação da área atingida.
A amplitude das marés é outro fator que deve ser acatado, pois derramamentos que acontecem durante as marés vivas, também conhecidas como de sizígia, dirigem-se a atingir áreas muito mais longas do que quando estes derrames acontecem durante as marés de quadratura (marés mortas). 
  • As ondulações sazonais relativas às estações do ano também devem ser consideradas pois tornam o movimento das marés inconstantes. Isso causa consideráveis variações na permanência de comunidades biológicas no ambiente costeiro, podendo influenciar no grau de impacto que pode ser bastante diferente no verão e no inverno em um mesmo local. 
De igual relevância, a quantidade, intensidade e força das ondas e correntes, ou chamado grau de hidro-dinamismo, também sugerem variações no nível do impacto. Locais onde o movimento das águas é mais elevado tendem a dispersar o óleo de maneira rápida e eficiente. 
  • Já em ambientes resguardados das ações de ondas e correntes o óleo tende a permanecer por muito tempo, o que compromete a recuperação dos organismos presentes neste ambiente. O ciclo construtivo e destrutivo de praias arenosas é outro importante fator a ser considerado quando se faz um estudo de impacto ambiental causado por derramamento de óleo. 
Algumas praias sofrem retirada e reposição de areia causadas pelo movimento das marés, se um derrame acontecer na fase construtiva da praia, ou seja, quando entra areia, o óleo pode ser soterrado, causando a falsa impressão de que a praia está limpa. Contudo, o óleo pode encontrar-se recoberto por areia e quando ocorrer a deposição de sedimento arenoso o óleo tende a re-contaminar o ambiente [CETESB, 2011].
  • Também deve ser analisado o tipo de substrato que foi atingido por derramamento de óleo. Os substratos dividem-se em consolidados (rochas, costões, matacões, praias rochosas e de seixos) e não consolidados (areais e lodos). Nos ambientes costeiros formados por substratos consolidados o óleo adere às paredes rochosas e permanece agregado ali por muito tempo.
Os ambientes com substratos não consolidados sofrem com a penetração de óleo da superfície para o fundo do sedimento chegando a atingir as camadas mais profundas deste. Neste caso, quanto maior for o tamanho do grão do sedimento, maior será a penetração do óleo visto que o índice de vazios entre os grãos é maior. 
  • Utilizando outro exemplo, podemos citar as praias de areia fina que tendem a resistir mais à ação de óleo nos sedimentos uma vez que os espaços entre os grãos de areia são menores, dificultando a penetração do óleo.
Em substratos rochosos, como nas praias de costão batido, os ecossistemas interagem entre si através da transferência de energia, nutrientes, migração de espécies e ciclo reprodutivo.
  • Estes tipos de ecossistema são especialmente frágeis devido às ações do óleo, pois têm elevado número de biodiversidade e são formadas por substratos consolidados, podendo conter zonas que não estão sujeitas às ações das marés, já os ambientes muito dinâmicos concentram menor diversidade de espécies e tendem a sofrer menos devido à grande quantidade de reações físicas que acontecem nestes locais [CETESB, 2011].
Além dos ecossistemas também é necessário considerar os efeitos biológicos nos organismos que podem variar de acordo com a composição química do petróleo. 
  • Desta forma, petróleos diferentes geram consequências distintas, então, todos os organismos não serão afetados da mesma maneira e não sofrerão as mesmas consequências do contato com o óleo. Assim, em uma amostra cujo peso da molécula do composto derramado for maior, mais probabilidade de toxidez e tempo necessário para sua degradação. 
Ao contrário dos substratos sólidos, na água, são os compostos com menor peso molecular, que causam mais degradação, porque se espalham e dissolvem mais rapidamente, ou seja, dentro de uma mesma série, quanto maior for o peso molecular do composto, maior será a toxicidade. 
  • Entretanto na água, os compostos com menor peso molecular causam mais danos devido à maior solubilidade e, portanto, maior disponibilidade.
Dentre os principais compostos que apresentam efeito tóxico pronunciado estão os Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos, também conhecidos como HPA. Estes têm como característica resistência à degradação microbiológica, pois fixam facilmente suas moléculas na superfície de outras substâncias, podendo persistir ali por muito tempo.
  • Estes compostos são especialmente tóxicos e geram efeitos carcinogênicos nos organismos marinhos e humanos. Os demais efeitos que podem ser observados em organismos atingidos por óleo que contêm uma maior quantidade de HPA são: distúrbios no fígado, sistema imunológico, leucemia, tumores no pulmão e estômago. 
Outros transtornos como danos às células sanguíneas, tecidos ósseos, sistema nervoso, dermatite de contato na pele, mucosa e olhos também podem ocorrer. [BÍCEGO, 2008]. 
  • Apesar desta mistura ter efeito prejudicial para as comunidades aquáticas, normalmente ela produz efeitos mais nocivos quando produzidas por processos de combustão, como a queima de madeira ou carvão. [BÍCEGO, 2008].
Logo, os impactos causados pelo óleo no ambiente marinho e sua biota se diferenciam em virtude das características dos compostos mas também, de fatores que são capazes de atingir a dispersão de óleo derramado, persistência no ambiente e biodisponibilidade.
  • Em mar aberto, mesmo as concentrações de óleos como os HPA, que são compostos leves, podem decair dramaticamente em virtude do movimento das correntes marinhas, fato que não se observa em ambientes mais próximos à costa como as baías, os estuários, os mangues e os marismas, por se tratarem de ambientes abrigados que concentram baixo grau de hidro-dinamismo e assim, têm pouca concentração de energia.
Entretanto, é importante observar outros fatores como as propriedades do óleo, tipo de organismos e vegetação presentes no ambiente, além das ações das ondas e permeabilidade dos sedimentos, uma vez que essas condições determinam a constância do óleo no ambiente marinho. Como diz [BÍCEGO, 2008]: 
“Uma vez que o óleo atinge a linha da costa, vários fatores determinam a sua persistência: propriedades do óleo, porosidade dos sedimentos, presença de organismos, erosão e atividades de ondas, tipo de vegetação etc.”
De igual maneira, os efeitos biológicos dos hidrocarbonetos do petróleo nos organismos dependem de fatores como persistência, biodisponibilidade, valores de acúmulo, metabolização e da capacidade que os contaminantes têm de interferir nas trocas que os organismos marinhos fazem com o meio.
  • Quando uma área marinha é atingida, algumas populações podem levar mais de uma década para se recuperarem, este tempo depende do volume derramado, propriedades do óleo e tipo de área atingida. Em linhas gerais os organismos marinhos sofrem efeitos físicos e químicos, provenientes da toxicidade dos compostos presentes. 
Os efeitos podem ser combinados, uma vez que óleos de alta densidade (óleos pesados) causam maior efeito físico de recobrimento e nos óleos mais leves o efeito químico de toxicidade é mais pronunciado. Entre os componentes mais tóxicos para os organismos estão o benzeno, tolueno, etilbenzeno e o xileno - BTEX, que apresentam alta solubilidade em água e torna os organismos marinhos mais suscetíveis, através da ingestão de água ou alimento contaminado, absorção por tecidos, brânquias e mucosas [BÍCEGO, 2008].
  • Os organismos marinhos (zooplâncton e fitoplâncton) podem ser atingidos pelos efeitos físicos de recobrimento e químicos de toxicidade, que podem levá-los à morte. 
Dentre os efeitos do recobrimento dos organismos por óleo pesado está a asfixia que impede que os organismos façam as trocas necessárias com o ambiente, a exemplo das funções fisiológicas básicas como respiração, excreção, alimentação e fotossíntese, prejudicando ainda a locomoção e a regulação de temperatura do corpo, levando ao stress térmico e consequente morte. Os principais efeitos tóxicos incluem a disfunção do sistema excretor, metabólico e nervoso dos organismos, especialmente após os primeiros dias decorridos do derrame.
  • Além de afetar os organismos já nascidos, o derramamento de óleo no ambiente marinho atinge os que ainda não nasceram comprometendo a quantidade de ovos com sucesso de fertilização, o que leva a redução do número de indivíduos nas populações, podendo abalar a conservação de espécies ameaçadas de extinção [CETESB, 2011].
Outras Considerações:
  • Uma vez que as águas costeiras são recursos naturais de interesse público é necessário, e por que não dizer compulsória a sua preservação. 
A poluição marinha causada pela extração de petróleo de forma sistêmica ou acidental deve ser minimizada pelas indústrias e pela sociedade para evitar a morte dos organismos marinhos e ajudar a conservar o equilíbrio neste meio.
  • Entretanto, vale salientar que a poluição marinha causada pelo derramamento de petróleo ou quaisquer de seus derivados gera, além do impacto ambiental, em todas as esferas (poluição química, térmica, visual, entre outras) um alto custo para todos, por causa da interdição das águas costeiras para a limpeza do ambiente, que no caso de costas com substratos consolidados, torna-se ainda mais dispendiosa, levando mais tempo.
Além disso, a pesca, as atividades de lazer e turismo e a balneabilidade das praias também são afetadas negativamente, impedindo o trabalho das famílias que dependem do mar para sobreviver.
  • Tendo em vista que um vazamento de óleo pode causar um acidente de grandes proporções, se faz necessário trabalhar com uma legislação ambienta mais rígida que busque cada vez mais obrigar as petrolíferas a ampliar seu leque de ações na área de prevenção, como também buscar melhorar a capacidade profissional de seus funcionários na busca de empoderamento dos mesmos através de ações práticas na sua área de trabalho.
Por gerar impactos ambientais negativos as atividades ligadas a este setor devem exigir um licenciamento ambiental, que determina os limites que devem ser respeitados para impedir ou minimizar os impactos de um evento indesejável. Uma legislação forte obriga as empresas a investirem mais em seus funcionários, criando neles uma visão crítica e interdisciplinar.
  • Para atingir um patamar aceitável em termos de segurança ambiental e marítima, as companhias petrolíferas devem trabalhar em parceria com o Estado e a sociedade civil sempre com a intenção de fortalecer o pilar fundamental da segurança ambiental: a prevenção.
Em vista do exposto, é papel da sociedade fiscalizar, cobrar e exigir medidas legais que impute aos poluidores da indústria petrolífera a obrigação moral e social de responder por suas ações próprias. 
De toda forma, é de responsabilidade de cada profissional e cidadão comum, buscar ações que evitem ou ao menos minimizem acontecimentos que causem danos ou prejuízos à economia, a segurança e ao meio ambiente. 
  • Para isso, é necessário que cada dia mais sobretudo os profissionais especializados, busquem novas alternativas como o uso de energias limpas que podem substituir parcialmente e satisfatoriamente as fontes poluentes atuais.

Todos os dias os oceanos e mares recebem milhões de toneladas  
de substâncias poluentes, dejetos vindos de áreas centrais  
carregados pela água dos rios.