sexta-feira, 26 de setembro de 2014

As Substâncias Húmicas em Fertilizantes Orgânicos

As substâncias húmicas são importantes para os cereais devido
a suas ações como estimulante

  • As substâncias húmicas são reconhecidas como principal componente da matéria orgânica, influenciando as propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos. 
A adição destes compostos no solo pode estimular o crescimento das plantas, porém os humatos comerciais não parecem conter quantidades suficientes das substâncias necessárias para produzir os efeitos benéficos anunciados. A fiscalização desses produtos é de responsabilidade do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) que define o uso de um método que deixa a desejar quanto à economicidade e a rapidez de resultados. 
  • Foi realizado um trabalho com o objetivo de avaliar e propor alternativas ao método oficial de extração e fracionamento de substâncias húmicas em fertilizantes orgânicos baseado no diferencial de solubilidade em ácido e base. Realizados oito ensaios com sete repetições cada em três amostras de fertilizantes orgânicos comerciais adquiridos conforme a relação, ácido húmico e ácido fúlvico de cada um. 
Os ensaios consistiram em modificações do método proposto pela IN nº 28 e BENITES et al. (2003), tendo em evidência a massa inicial, o extrator, o tempo de contato do extrator com a amostra e separação das frações via centrifuga e filtro. Foram determinados os teores de carbono orgânico total para as frações ácido húmico, ácido fúlvico e extrato húmico total. 
  • Os resultados foram analisados estatisticamente por análise de variância e médias comparadas por Scott Knott e por contraste. O ensaio recomendado para quantificação de extrato húmico total, ácido húmico e ácido fúlvico é o método que consiste na extração com pirofosfato de sódio com hidróxido de sódio por 24 horas em uma alíquota referente a 30 mg de carbono orgânico total e fracionamento sob membrana de celulose de 45µm. O método recomendado permite a otimização da rotina analítica em virtude do menor uso de insumos e do uso de vidraria e equipamentos mais simples.
A matéria orgânica do solo pode ser dividida em dois grupos fundamentais. O primeiro é constituído pelos produtos da decomposição dos resíduos orgânicos e do metabolismo microbiano como proteínas e aminoácidos, carboidratos simples e complexos, resinas, ligninas e outros. O segundo grupo é representado pelas substâncias húmicas propriamente ditas, constituindo aproximadamente 90% da reserva total do carbono orgânico. 
  • As substâncias húmicas podem ser classificadas segundo a sua solubilidade, reatividade e tamanho de suas moléculas em humina, ácidos húmicos e fúlvicos. A humina é a fração insolúvel tanto em meio alcalino como em meio ácido, o ácido húmico é a fração escura extraída geralmente em meio alcalino e insolúvel em meio ácido diluído e os ácidos fúlvicos são frações coloridas alcalino-solúveis que se mantêm em solução após a remoção dos ácidos húmicos por acidificação.
A adição de substâncias húmicas em solos representa vantagem econômica, mas a resposta à adubação foliar representa uma alternativa por causa das quantidades necessárias relativamente pequenas. As formas de matéria orgânica mais utilizadas são: esterco animal, palhadas, compostos de lixo, torta de mamona, vermicomposto, lodo de esgoto e compostos de leonardita e turfa.
  • A avaliação do potencial de ácidos húmicos isolados de diferentes fontes de matéria orgânica sobre o crescimento e desenvolvimento de plantas de interesse agronômico tem sido explorada em experimentos em casa de vegetação. Efeitos diretos de sua aplicação sobre o crescimento e metabolismo das plantas têm sido descritos para ácidos fúlvicos e para ácidos húmicos. 
Trabalhos relatam o efeito sinergético da interação entre substâncias húmicas e fertilizantes minerais sobre o crescimento de plantas cultivadas em solução nutritiva, mostrando efeitos positivos consistentes na biomassa vegetal. Experimentos em áreas de produção apontam resultados positivos e significativos para o aumento de produtividade de diversas culturas em talhões que receberam adubação foliar com soluções de ácidos húmicos. 
  • Alguns parâmetros em condições de laboratório são influenciados pelas substâncias húmicas, tais como aumento no comprimento e peso de brotos, influência na iniciação da raiz, no crescimento da plântula, da inflorescência e na absorção de nutrientes. Devido ao custo relativamente alto na geração de produtos que contenham substâncias húmicas, parece que perspectivas futuras para uso econômico desses produtos na agricultura são melhores para a aplicação via foliar. 
Em virtude da necessidade dos fertilizantes para a produção agrícola nacional e considerando a relevante participação dos mesmos no custo de produção, a fiscalização sobre a produção, importação e comércio de fertilizantes, se faz necessária para garantir a conformidade dos mesmos colocados à disposição dos produtores rurais. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) possui a atribuição legal de fiscalizar a produção e o comércio de fertilizantes.
  • Os estabelecimentos produtores e importadores de produtos a granel devem executar o controle de qualidade das matérias-primas e dos produtos fabricados ou importados, bem como das operações de produção. Amostras de fertilizantes são coletadas com a finalidade de comprovar a conformidade do produto, baseado em métodos oficiais.
O método recomendado para determinação de substâncias húmicas foi oficializado com a publicação da IN nº 28 em 2007 contemplando a determinação do extrato húmico total, dos ácidos húmicos e dos ácidos fúlvicos baseados no procedimento da diferença de solubilidade e precipitação com ácidos e bases. 
  • Os métodos para análise de fertilizantes são baseados nos métodos para solo e na literatura científica sendo semelhante às adotadas por outros países. Tratando-se de substâncias húmicas a metodologia oficial brasileira é semelhante à adotada na Espanha. Esse método deixa a desejar quanto aos aspectos de economicidade e rapidez de resultados.
Os fatores que tem dificultado os avanços no estudo de substâncias húmicas em solos tropicais e fertilizantes orgânicos são a ausência de ensaios de proficiência, de material de referência certificado e a falta de métodos para extração, fracionamento e, especialmente quantificação das frações húmicas. 
  • A International Humic Substances Society (IHSS) recomenda um método para a extração das substâncias húmicas de material de solo e posterior fracionamento em ácido húmico e acido fúlvico e humina, baseado na solubilidade diferencial destas frações em meio alcalino e ácido. 
Contudo, este método é laborioso e deve ser empregado quando se pretende extrair substâncias húmicas com alto grau de pureza para fins de caracterização. Nas análises de rotina é sugerida a adaptação deste método de extração e fracionamento visando à quantificação das frações húmicas por meio de procedimento simplificado e de fácil execução para amostras de solo conforme BENITES et al., (2003).
  • Além dos métodos citados existem outros procedimentos utilizados para fracionamento das substâncias húmicas como a extração com diferentes solventes orgânicos, a cromatografia de exclusão com base no tamanho molecular, a cromatografia de exclusão com base no tamanho molecular e alta pressão, a cromatografia com afinidade por metais, a cromatografia em fase reversa, a ultrafiltração, a eletroforese e por diferença de solubilidade e precipitação com ácidos e bases, porém o único procedimento que fraciona as substâncias húmicas em ácido húmico e ácido fúlvico dentre os apresentados é aquele dado pela diferença de solubilidade e precipitação com ácidos e bases.
Para atender a essa grande e crescente demanda os laboratórios tem, muitas vezes, que lançar mão de artifícios que acelerem os resultados e, entre eles, estão os métodos simplificados. Esses métodos são bem mais rápidos e econômicos, mas exigem bastante atenção, porque, sendo muito sensível, qualquer variação pode resultar em erros. 
  • Portanto a hipótese foi que modificações do método da IN nº 28 e BENITES et al. (2003) implicam na obtenção de resultados semelhantes aos originais para os teores de ácido húmico, ácido fúlvico e extrato húmico total. O objetivo desse trabalho foi propor uma alternativa simplificada, econômica e com menor geração de resíduos, considerando princípios do método proposto para amostras de solo conforme BENITES et al. (2003).

As Substâncias Húmicas em Fertilizantes Orgânicos

Fertilizante Orgânico:
  • Fertilizante, sinônimo de adubo, que deriva da palavra Dubban, termo do idioma frâncico, falado na Idade Média por povos francos e germanos, significa uma intervenção destinada a melhorar a terra. Por volta de 1850, essa palavra já fazia parte do idioma português. Para alguns linguistas, adubo vem do latim ad úbero, que quer dizer “adjetivo que se ajusta a adubo quando o assunto é terra” (DIAS, 2005).
A história da adubação ocorreu concomitante à história da agricultura. A adubação era feita com materiais retirados da natureza, como madeira, trapos e até esqueletos humanos retirados de catacumbas. O adubo passou a ser um produto de primeira necessidade na agricultura, que então começava a se intensificar. 
  • O adubo virou negócio na Europa devido ao avançado estágio de sua agricultura em algumas regiões, na medida em que pela primeira vez se puseram em prática a compra, a venda e a exportação de adubos naturais. Para aumentar a produtividade das lavouras, agricultores passaram a aplicar na terra esterco animal, lixo urbano, lodo de esgotos e estrume humano. 
Todavia, esses produtos não passavam de meras fontes alternativas de adubo, cobrindo pouco as necessidades que não paravam de crescer nas lavouras. A maior parte dos adubos vinha mesmo do estrume animal, com todos os seus problemas (DIAS, 2005).
  • Atualmente, os cultivos intensivos nas mesmas regiões ano após anos promovem na camada superficial do solo perdas, seja pela erosão, seja pela própria cultura que, em parte, é exportada para consumo, como conseqüência a planta começa a ter deficiência nutricional e a colheita diminui. 
A única maneira de resolver esse problema e conseguir de novo boas colheitas é através de uma adubação bem feita, dando-se à planta os elementos de que necessita. Atualmente, a abordagem ecológica e a compreensão de um desenvolvimento sustentável face à crescente perda do potencial produtivo e à indiscriminada degradação dos ecossistemas assumem grande importância na pesquisa científica. 
  • A qualidade do solo é considerada como a capacidade de manutenção da produtividade biológica, da qualidade ambiental e da vida vegetal e animal saudável na face da Terra (DORAN & PARKIN, 1994). Essa qualidade está estreitamente correlacionada ao sistema de produção e a sustentabilidade do mesmo, sendo sensível às alterações decorrentes das práticas de manejo. 
A melhoria da qualidade do solo é obtida quando ocorre a melhoria dos atributos químicos, físicos e biológicos do solo que podem ser através da adoção de práticas agrícolas que favoreçam a qualidade do solo. 
  • A incorporação de matéria orgânica pode auxiliar o processo de regeneração de áreas degradadas do ponto de vista físico, melhoria da estrutura do solo, reduz a plasticidade e a coesão, aumenta a capacidade de retenção de água e a aeração, permitindo maior penetração e distribuição das raízes. 
A matéria orgânica do solo atua diretamente sobre a fertilidade do solo por constituir a principal fonte de macro e micronutrientes essenciais às plantas, como também indiretamente, através da disponibilidade dos nutrientes, devido à elevação do pH, além de aumentar a capacidade de retenção dos nutrientes, evitando suas perdas. Biologicamente, aumenta a atividade da biota do solo, sendo fonte de energia e de nutrientes para a mesma (CANELLAS, 2005).
  • As formas de matéria orgânica mais utilizadas são: esterco animal, palhadas, compostos de lixo, torta de mamona, vermicomposto, lodo de esgoto e compostos de leonardita, as quais apresentam características distintas e desvantagens semelhantes, como baixos teores em nutrientes e matéria orgânica humificada, alto custo e, em alguns casos, presença de patógenos e elevados teores de metais tóxicos. 
Nesse sentido, a turfa apresenta-se como um material orgânico promissor, pois é naturalmente rica em substâncias húmicas, amplamente disponível em todo o território nacional e de baixo custo (FRANCHI et al., 2003). 
  • Segundo Instrução Normativa Nº 23 de 31 de agosto de 2005 (BRASIL, 2005) a matéria orgânica é o composto principal do fertilizante orgânico que é definido como produto de natureza fundamentalmente orgânica, obtido por processo físico, químico, físico-químico ou bioquímico, natural ou controlado, a partir de matérias-primas de origem industrial, urbana ou rural, vegetal ou animal, enriquecido ou não de nutrientes minerais.
O interesse pelo consumo de fertilizantes orgânicos no Brasil tem aumentado significativamente nos últimos anos, devido principalmente à busca de alternativas de manejo do solo com enfoque orgânico e com aspectos distintos do sistema convencional de uso intensivo de fertilizantes químicos. 
  • Esse interesse está estreitamente relacionado à expansão do mercado de produtos orgânicos, que, segundo a revista Globo Rural online de 11 de fevereiro de 2011, o faturamento está em torno de R$ 400 milhões. Segundo a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), produtos orgânicos são aqueles em que o sistema de produção exclui o uso de fertilizantes sintéticos de alta solubilidade e pesticidas (SIMÕES, 2007).
Segundo CANELLAS (2005) na agricultura familiar, é comum encontrar o esterco curtido (composto) dos animais como a principal fonte de adubação da terra. O processo modernizador tratou de adubar a planta. No sistema solo, o processo de fornecimento de nutrientes pela adubação orgânica é distinto daqueles em que os adubos industriais são empregados. 
  • Na adubação convencional, são empregados compostos de alta solubilidade e concentração. As formulações e as quantidades de adubos a serem utilizadas são desenvolvidas buscando fornecer somente o que as plantas necessitam para produzir. Nos modelos de adubação orgânica, a dinâmica é diferente. Se, na utilização dos adubos industriais, o objetivo é suprir as plantas, a adubação orgânica busca o equilíbrio entre os diferentes constituintes do solo. 
A disponibilização dos nutrientes contidos nos compostos e resíduos é lenta, o que permite a redução das perdas. Além disso, observa-se o aumento da população de minhocas, insetos, fungos e bactérias benéficas ao solo. Esses organismos vivem associados às raízes e podem ser úteis às plantas mediante processos simbiônticos ou mesmo pela mineralização dos resíduos. Outro fato que merece destaque é a melhoria das propriedades físicas do solo, permitindo um melhor desenvolvimento radicular e consequentemente um melhor desenvolvimento vegetal CANELLAS (2005).
  • O fertilizante orgânico, ao fermentar e se decompor, gera húmus e compostos minerais assimiláveis pelas plantas. Assim como a matéria orgânica, para fornecer os nutrientes, necessita sofrer um processo de decomposição microbiológica, acompanhado da mineralização dos seus constituintes orgânicos. 
A transformação de fontes estruturalmente identificáveis como os açúcares, polissacarídeos, proteínas em compostos húmicos amorfos é chamado de humificação, e o grau de humificação é um parâmetro importante para determinação da qualidade da matéria orgânica do solo (ZECH et al., 1997; BAYER et al., 2002) e de resíduos orgânicos (ROVIRA et al., 2002; PLAZA et al., 2005). 
  • Em relação à resposta de uma dada cultura, a diferença entre aplicar diretamente resíduos orgânicos estabilizados e não estabilizados está na quantidade e época em que os nutrientes mineralizados estarão disponíveis para as plantas, assim como na intensidade com que ativam os microrganismos do solo. No caso de adubos orgânicos que têm como objetivo aumentar a capacidade de troca catiônica do solo, o ideal é a aplicação de material já humificado (PLAZA et al., 2003; GRIGATTI et al., 2004). Além disso, se o composto não estiver estabilizado, pode causar efeitos tóxicos para as plantas (ATIYEH et al., 2001). 
Os compostos frescos ou não estabilizados podem atingir altas temperaturas devido à fermentação e inibir a germinação de sementes e o alongamento de raízes, além de contaminar o operador, o solo e os vegetais (SEDIYAMA et al., 2008).
  • Uma das formas de adubação orgânica mais empregada é a aplicação de compostos de origem animal e vegetal. A compostagem é um processo natural de decomposição dos resíduos de diferentes origens, que é mediado por uma infinidade de organismos. Tem por objetivo acelerar a estabilização da matéria orgânica, permitindo que o material resultante possa ser utilizado como condicionador de solo e fornecedor de nutrientes. 
Durante o processo da compostagem, os microrganismos utilizam a matéria orgânica como fonte de energia, nutrientes e carbono. A partir de então, ocorrem diversas reações bioquímicas, formando como resultado final, gás carbônico, calor e material orgânico, normalmente de alta qualidade para o uso agrícola. Restos de cultivos, lixo e lodo de estação de tratamento e dejetos da criação de animais podem ser o material a ser compostado. Os nutrientes presentes no produto final da compostagem são liberados de forma lenta e gradual, diferentemente do que ocorre com os adubos sintéticos. 
  • A utilização de composto de lixo urbano e de lodos da estação de tratamento de esgoto, com finalidade agrícola, pode ser prejudicial se forem encontrados metais pesados e microrganismos patogênicos nas fontes de matéria orgânica ou no produto final, o composto. Como esses elementos estão presentes em pilhas, borrachas, tintas e baterias, lixo hospitalar, há necessidade de uma seleção prévia do material a ser compostado, além de um rigoroso monitoramento (CANELLAS, 2005).
De maneira geral, o processo de compostagem envolve duas fases distintas. A primeira, denominada bioestabilização, ocorre até aproximadamente 50 dias de compostagem e é caracterizada pela redução progressiva da temperatura do material após atingir um pico aproximado de 70ºC. Organismos patogênicos encontrados nos resíduos urbanos, como salmonelas, são eliminados nesta fase pelo calor gerado pelo próprio processo biológico. 
  • A fase seguinte é denominada maturação e dura aproximadamente 30 dias. A aplicação de compostos pode aumentar a produtividade das culturas, a capacidade de troca de cátions, o teor de nutrientes disponíveis e melhorar as características da matéria orgânica humificada. 
Além do efeito imediato, a aplicação de compostos orgânicos possui efeito residual, podendo beneficiar culturas subsequentes (CANELLAS, 2005). SEDYAMA (2009) concluiu que o composto orgânico produzido com palha de café, bagaço de cana-de-açúcar e dejeto líquido de suínos foi eficiente na nutrição das plantas de pimentão e consequentemente no aumento na produtividade de frutos.
  • A vermicompostagem também é uma prática muito utilizada para acelerar a estabilização da matéria orgânica dos resíduos orgânicos. As minhocas atuam como aceleradores do processo de decomposição. De forma semelhante ao observado na aplicação de compostos os benefícios da aplicação de vermicomposto vão desde o fornecimento de nutrientes até as melhorias de características físicas e biológicas do solo. 
YAGI et al., (2003) aplicaram doses equivalentes a 0, 14, 28, 56 e 70 toneladas ha-1 de vermicomposto de esterco bovino e observaram correlação direta entre a dose do fertilizante orgânico e os teores de P, Mg, K, Ca e o aumento linear no conteúdo da matéria orgânica do solo. Aumentos significativos no conteúdo de carbono nas frações humificadas também foram relatados a partir da aplicação de vermicomposto.
  • Em áreas de produção de suínos, o grande volume produzido de rejeitos necessita de destino adequado. Muitos agricultores utilizam esse material diretamente nas lavouras com a finalidade de fornecimentos de nutrientes. SEDYAMA et al. (2008) caracterizou e verificou a viabilidade da fermentação de esterco suíno para uso como fertilizante orgânico.
O esterco bovino talvez seja o material mais costumeiramente utilizado como adubo orgânico. A partir da aplicação de diferentes doses de esterco bovino, SILVA et al. (2004) observaram a influência desse material sobre o teor de água disponível e sobre a retenção de umidade do solo, com aumentos lineares de tais características. 
  • A aplicação do esterco também alterou, de forma linear, o teor de P no solo, aumentou o número de espigas empalhadas comercializáveis e o rendimento de grãos.
Além dos resíduos de origem animal, a aplicação de matéria orgânica de origem industrial e urbana pode ser também de interesse para a agricultura. A utilização desses materiais é justificada pela necessidade de encontrar um destino apropriado para sua reciclagem, evitando-se o risco do armazenamento de grandes quantidades de lixos e dejetos e impacto ocasionado pela emissão desse material nos cursos de água. 
  • A qualidade do material incorporado ao solo limita, portanto, sua utilização em larga escala. O uso agrícola do composto de lixo só pode ser viável do ponto de vista técnico, social e ambiental se suas características químicas não possibilitarem alterações que comprometam a qualidade do solo, das águas e dos produtos resultantes. 
O uso intensivo de estercos, compostos, vermicompostos encontra um obstáculo na quantidade e no volume que deve ser transportado até as lavouras. É um trabalho penoso com gasto elevado de energia e que, dependendo da distância entre a fonte dos estercos e a lavoura a ser adubada, muitas vezes, pode não estar em conformidade com a racionalidade do agricultor familiar (CANELLAS, 2005).

Substâncias Húmicas:
  • A matéria orgânica do solo pode ser dividida em dois grupos fundamentais. O primeiro é constituído pelos produtos da decomposição dos resíduos orgânicos e do metabolismo microbiano como proteínas e aminoácidos, carboidratos simples e complexos, resinas, ligninas e outros. Essas macromoléculas constituem, aproximadamente, 10 a 15% da reserva total do carbono orgânico nos solos minerais. 
O segundo grupo é representado pelas substâncias húmicas propriamente ditas, constituindo 85 a 90% da reserva total do carbono orgânico (KONONOVA, 1982; ANDREUX, 1996). A formação das substâncias húmicas se dá por inúmeros mecanismos e rotas bioquímicas, que são mais ou menos atuantes de acordo com a quantidade do substrato orgânico e das condições químicas e ou bioquímicas do meio onde se processam essas reações (STEVENSON, 1982). 
  • Embora as substâncias húmicas não sejam consideradas polímeros, por não apresentarem uma unidade básica definida que se repita regularmente (HAYES et al, 1989), as mesmas se constituem de uma série de unidades estruturais aromáticas, produzidas pela degradação microbiana de compostos orgânicos, que se ligam por meio de ligações covalentes, formando o núcleo da macromolécula (FRUND et al., 1994; GUGGENBERGER & ZECH, 1994). 
A partir desse núcleo aromático são associados outros compostos existentes no meio, como compostos nitrogenados e substâncias alifáticas (SCHNITZER & SCHUTTEN, 1992). Ao longo da macromolécula húmica são encontrados diversos grupos funcionais, entre os quais estão os grupos fenólicos e carboxílicos. De acordo com as condições do meio, força iônica e pH, os grupos funcionais da molécula orgânica podem estar ionizados, representando importante fonte de carga para a capacidade de troca catiônica do solo e fazendo com que esta se comporte como um polieletrólito (HAYES et al., 1989).
  • As substâncias húmicas podem ser classificadas segundo a sua solubilidade e reatividade, o que de certo modo, depende do tamanho de suas moléculas. São classificadas em humina, ácido húmicos e fúlvicos. 
A humina é a fração insolúvel tanto no meio alcalino como no meio ácido, o ácido húmico é a fração escura extraída geralmente em meio alcalino e insolúvel em meio ácido diluído e os ácidos fúlvicos são frações coloridas alcalino-solúvel que se mantêm em solução após a remoção dos ácidos húmicos por acidificação e possuem um maior conteúdo de grupos funcionais ácidos. Alguns autores consideram ainda os ácidos himatomelânicos, que são a fração solúvel em álcool dos ácidos húmicos (STEVENSON, 1994). 
  • Segundo VAUGHAN & McDONALD (1976), nas substâncias húmicas somente frações de peso molecular menor são biologicamente ativas. VAUGHAN & ORD (1981) através de estudos também indicaram que as frações de ácido húmico de peso molecular baixo são absorvidas ativamente e passivamente pelas plantas, enquanto que as de peso molecular maiores do que 50000 g.mol-1 são absorvidas somente passivamente. 
É provável que o ácido fúlvico seja biologicamente mais ativo que o ácido húmico (CHEN, 1990). Esse fato é corroborado pelos resultados dos estudos de VAUGHAN & McDONALD (1976). Os ácidos húmicos freqüentemente contêm frações de peso molecular baixo, portanto seu potencial para a atividade biológica não deve ser subestimado.
  • Substâncias húmicas são amplamente reconhecidas como principal componente da matéria orgânica, influenciando indiretamente as propriedades químicas, físicas e biológicas dos solos. A maior parte do carbono orgânico da superfície do planeta encontra-se na matéria orgânica humificada, ou seja, nas substâncias húmicas. 
Além de fornecer nutrientes para as plantas por meio da mineralização (processo definido genericamente como a transformação das formas orgânicas dos elementos em formas iônicas através da ação das enzimas dos microrganismos), as substâncias húmicas também podem estimular diretamente o desenvolvimento e o metabolismo das plantas através de mecanismos ainda não totalmente elucidados. 
  • Em solos, a adição de compostos contendo substâncias húmicas pode estimular o crescimento de plantas pelo efeito do fornecimento de nutrientes minerais e presumivelmente por causa dos efeitos das substâncias húmicas, mas os humatos comerciais aplicados aos solos agrícolas normalmente produtivos em taxas recomendadas por seus produtores não parecem conter quantidades suficientes das substâncias necessárias para produzir os efeitos benéficos anunciados. Aumentos de produção, com o uso de tais produtos, não parecem ser suficientes para compensar os maiores custos de produção dos fazendeiros (CHEN & AVIAD, 1990).
ROSA (2009) propõe o uso de substâncias húmicas proveniente do carvão mineral brasileiro. Entretanto, a adição de substâncias húmicas em solos não é econômica, mas a resposta à adubação foliar tem um maior potencial econômico por causa das quantidades necessárias relativamente pequenas. Devido ao custo relativamente alto da geração de produtos que contenham substâncias húmicas, parece que perspectivas futuras para uso econômico desses produtos na agricultura são muito melhores para a aplicação de adubação foliar (CHEN & AVIAD, 1990). 
  • MELO (2008) caracterizou em termos de proporções de substâncias húmicas diversos fertilizantes orgânicos e condicionadores de solo como fontes de substâncias húmicas normalmente utilizadas na agricultura tais como o esterco bovino, o esterco suíno, o esterco de galinha, composto orgânico, material húmico comercial, substrato orgânico e lodo de esgoto. A utilização agrícola de resíduos sólidos, como adubo orgânico, deve ser realizada segundo critérios técnicos. 
Nesse caso, a quantificação dos teores de N mineral e de N potencialmente mineralizável presente nos resíduos orgânicos é critério importante para definir as doses de resíduos a serem adicionadas nas lavouras (ABREU JÚNIOR et al., 2005 citado por MELO, 2008). Novas pesquisas devem ser realizadas, para estudar outras concentrações de ácidos húmicos, mais adequadas ao fornecimento na forma sólida em recobrimento de sementes, bem como tratamento adicional para aumentar sua disponibilidade (CONCEIÇÃO, 2008).
  • Efeitos diretos de sua aplicação sobre o crescimento e metabolismo das plantas têm sido descritos para ácidos fúlvicos (VAUGHAN & MALCOM, 1989) e para ácidos húmicos (CHEN & AVIAD, 1990). Vários trabalhos relatam o efeito sinergético da interação entre substâncias húmicas e fertilizantes minerais sobre o crescimento de plantas cultivadas em solução nutritiva, mostrando efeitos positivos consistentes na biomassa vegetal. 
A avaliação do potencial de ácidos húmicos isolados de diferentes fontes de matéria orgânica sobre o crescimento e desenvolvimento de plantas de interesse agronômico tem sido amplamente explorada em experimentos em casa de vegetação (CHEN & AVIAD, 1990). Experimentos em áreas de produção apontam resultados positivos e significativos para o aumento de produtividade de diversas culturas em talhões que receberam adubação foliar com soluções de ácidos húmicos (BROWNELL et al., 1987). 
  • Na última década, estudos envolvendo associação de substâncias húmicas com bactérias diazotrópicas endofíticas em plantas de interesse agrícola têm intensificado devido as suas potencialidades como agente de promoção de crescimento e proteção de plantas (OLIVARES, 2005). 
O recobrimento de sementes se mostra como opção de inoculação de bactérias diazotróficas endofíticas, da espécie Herbaspirillum seropedicae (Z67), para garantir a sobrevivência dessas bactérias, no recobrimento, até a emissão das raízes pelas plantas. A adição de ácidos húmicos, bactéria e o uso conjunto estimularam o crescimento vegetal. Os ácidos húmicos estimularam a colonização da microbiota nativa (CONCEIÇÃO, 2008).
  • Segundo CHEN (1990), alguns parâmetros em condições de laboratório são influenciados pelas substâncias húmicas, tais como aumento no comprimento e peso de brotos, enraizamento, crescimento da plântula, inflorescência e absorção de nutrientes. Efeitos diretos ou indiretos favoráveis também são observados, em resposta à aplicação de substâncias húmicas. 
Tais efeitos nas colheitas agrícolas estavam relacionados aos aumentos na concentração de ácidos fúlvicos na solução do solo, o que favoreceu crescimento vegetal ou aumentou as concentrações de micronutrientes solúveis. 
  • Os efeitos diretos requerem absorção pelo tecido da planta, tendo efeito em suas membranas, resultando em melhor transporte de elementos nutricionais. Esses efeitos são: aumento da síntese de proteínas e na atividade de enzimas, atividade semelhante ao hormônio vegetal, aumento da fotossíntese, e efeitos indiretos na solubilização de micronutrientes (ex: ferro, zinco, manganês) e alguns macronutrientes (ex: K, Ca e P), redução de níveis ativos de elementos tóxicos e aumento de população microbiana. 
Segundo NARDI (1991), os efeitos estimuladores do crescimento de plantas se refletem na aceleração das taxas de crescimento radicular, incremento de biomassa vegetal, alterações na arquitetura do sistema radicular, tais como incremento da emissão de pelos radiculares e de raízes laterais finas, resultando no aumento na área superficial/comprimento do sistema radicular. CANELLAS (2002) observou efeito positivo para milho na atividade de H+-ATPase na membrana plasmática através da expressão dessa enzima, no crescimento radicular e no crescimento radicular lateral. BALDOTTO (2009) verificou efeito positivo no crescimento vegetativo na fase de aclimatação de abacaxizeiro proveniente de cultura in vitro.
  • A turfa é um material de origem vegetal, parcialmente decomposto, encontrado em camadas, geralmente em regiões pantanosas e também sob montanhas (turfa de altitude). É formada principalmente por Sphagnum (esfagno, grupo de musgos) e Hypnum, mas também de juncos, árvores, etc. 
Sob condições geológicas adequadas, transformam-se em carvão, através de emanações de metano vindo das profundezas e da preservação em ambiente anóxico. Por ser inflamável, é utilizada como combustível para aquecimento doméstico. Sua composição é definida como Substâncias Húmicas (Ácido Húmico, Ácido fúlvico e Humina) e Substâncias Não-húmicas. Substâncias Húmicas possuem estrutura química não bem definida, sabe-se que possuem sítios de adsorção compostos por grupos ácidos carboxílicos, cetona, hidroxilas fenólicas e alcoólicas. 
  • Já a Substância não-húmica é composta por estruturas bem definidas, como lignina, proteínas, etc. Por conter em sua estrutura estes grupos funcionais, é utilizada como adsorvente de vários metais pesados presentes em ambientes aquáticos e em solos, onde complexam esses metais, contribuindo para o equilíbrio do meio ambiente.

As Substâncias Húmicas em Fertilizantes Orgânicos