terça-feira, 4 de novembro de 2014

A Construção Enxuta

O modelo de construção enxuta (ou lean construction) toma por base os princípios 
do sistema Learn e os aplica ao setor da construção civil.

  • A eficiência dos conceitos gerenciais da industria japonesa, com todas as suas técnicas que levam á. qualidade, e alta produtividade, e visando maior lucro por meio de menores perdas em cada etapa do processo produtivo, despertou o interesse do setor da construção civil de diversos países. 
Assim criou-se um novo conceito em gestão de produção, inspirado no conceito japonês da "lean production", a "lean construction", que adaptado para o português foi chamado de "construção enxuta". Segundo CONTE (1998), 
"A lean production busca sistematicamente o surgimento e a manutenção de um ambiente produtivo voltado para a melhoria continua dos processos de produção e, conseqüentemente, da qualidade percebida pelo cliente, seja ele externo ou interno .... todas as melhorias desenvolvidas devem ocorrer com um nível cada vez menor de perdas".
Este novo conceito aplica-se bem a construção civil, principalmente quando se busca menor desperdício, maior qualidade, produtividade e aloca~ao de recursos na hora certa. E se bem aplicado, o conceito de "construção enxuta", pode trazer maiores lucros, e um diferencial de mercado importante para a competitividade. 
  • Na construção civil, diversos são os pontos que podem ser explorados, por serem pouco percebidos ou de pouco interesse da malaria dos concorrentes, como: atendimento ao com o minimo de desperdícios e problemas no canteiro, aprimoramento continuo dos processes produtivos, constante melhoria das relações com fornecedores e parceiros de produção como as empreiteiras, planejamento prévio de toda a obra evitando surpresas durante a execução e consequentes atrasos.
O conceito de "construção enxuta" e a aplicação do conceito production " ( aplicado nas industrias ), a construção civil fazendo-se as adaptações necessárias para este setor, desenvolvendo uma base para a melhoria continua dos processos, fazendo ressurgir a importância do planejamento, de todas as etapas de uma obra desde o projeto ate a sua conclusão. Alguns pontos devem ser salientados:" Learn design - o projeto deve ser claro, com todas as suas especificações, métodos construtivos e detalhes necessários tendo sempre em vista a execução, dentro das necessidades do cliente. 
  • As avaliações de pós-ocupação são um item muito importante para adaptações e acertos em projetos e construções futuras; " Learn supply "- a obra deve contar com um sistema de abastecimento de materiais e serviços bem determinado e que realmente funcione; evitando atrasos por falta de material ou pessoal;
As empresas responsáveis pelo projeto e/ou pela construção, devem gerenciar seu processo produtivo de forma bem definida, aberto as inovações e ideias visando melhorias, mas sem abrir mão da qualidade e da produtividade de cada etapa, e com verificações constantes de sua eficácia. 
  • Os conceitos de "construção enxuta" tem se disseminado pelo mundo, incentivando e concentrando desde 1993, grupos de pesquisadores, como e o caso do International Group for Learn Construction - I.G.LC., cujo objetivo e formar um sistema de informação e novas ferramentas, para tornar possível a antecipação de imprevistos e proporcionar certa estabilidade ao ambiente construtivo. 
"Na medida em que as empresas adquirem estabilidade no processo as surpresas acabam, os estoques diminuem, o ritmo do trabalho acontece sem correrias de ultima hora. Assim o engenheiro responsável pela obra pode se dedicar as atividades de engenharia e logística fundamentais para a otimização da execução das atividades a jusante"(CONTE, 1998).
Para SANTOS, POWELL & FORMOSO (!998), o aumento transparência e fundamental para a construção enxuta e " ... pode ser definida como a habilidade que um processo de produção (ou suas partes) possui em comunicar informação útil ao ser humano". 
  • A transparência pode ser implementada segundo os autores, com algumas medidas: redução da interdependência entre as equipes de trabalho da obra, utilização de controle visual para verificação de problemas na produção, facilitar a observa~o dos processes em andamento na obra, deixar visíveis as informações pertinentes a cada processo inclusive quanto ao cronograma, organização e limpeza do posto de trabalho, medição do desempenho da produção.
Este tipo de gestão nao deve ser uma padronização, mas sim um meio de organizacional adaptável a qualquer tipo de obra ou projeto de acordo com as necessidades e técnicas construtivas, buscando a eficiencia do planejamento e da execução. Um aspecto importante e o canteiro de obra, que deve ser bem planejado afim de facilitar o andamento da obra e as atividades cotidianas dos trabalhadores.
  • A eliminação de atividades que não agregam valor a obra deve ser considerada como um dos principais objetivos a se cumprir visando a racionalização e otimização dos processes em uma construção enxuta, ou como ate poderia-se dizer um canteiro "enxuto". ROSSO (1990), 

Salienta ainda, que: 
a " ... organização racional do canteiro tem ... como principal objetivo resolver de forma satisfatória o problema dos transportes internos, que apenas oneram o produto final sem acrescentar nada a sua qualidade", pois, " ... 
Transportes desordenados resultam numa incidência elevada de tempos improdutivos das próprias operações de configuração e de união". Os materiais devem ser estocados de acordo com as exigências de conservação, e depositados nos melhores locais para acesso e próximos de onde serão utilizados.
O conceito gera uma cadeia, e conforme reforça CAPOZZI (1998), a
 " ... união da cadeia lean construction, lean design e lean supply se fecha no lean Enterprise: um circulo em que todos ganham, visto que a melhoria de desempenho representa menores custos e alta qualidade".
O domínio e o desenvolvimento de práticas para a redução do desperdício e o aumento da eficiência das equipes que estão executando uma obra, devem ser sempre alvo dos responsáveis pela construção, pois, alem de econômicos, os beneficios tambem podem ser de caráter ambiental,no sentido de se atingir a ecoeficiência do processo.

Cuidados que podem gerar economia nas edificações:
  • Um grande passo em direção a economia e racionalização de recursos e a conscientização de profissionais responsáveis pelos projetos das edificações, em todas as etapas. 
A população tambem deve ser instruída para que pratique atitudes ambientalmente corretas, e consumam bens e produtos fabricados segundo conceitos que visem melhorias das condições de vida sem detrimento do meio 
  • Neste estudo, a formação e a informação dos profissionais da área edificações ( engenheiros civis e que atuam em projetos e exceção de edifícios) são vistas como fatores de grande importância.
Os prédios devem ser implantados nos terrenos de forma a garantir o posicionamento adequado em relação ao sol Alem disso devem ser construídos com materiais de resistência e durabilidade adequadas, aproveitando as caracteristicas climáticas locais para a otimização da iluminação e da ventilação Desta forma, evita-se o consumo indevido de água e energia elétrica, em equipamentos e sistemas" 
  • O uso de aparelhos e equipamentos elétricos adequados as necessidades de cada empreendimento, e produzidos segundo os melhores preceitos de eficiência energética, pode proporcionar economia para os usuários, alem de beneficios institucionais para a empresa construtora, funcionando tambem como um bom marketing Esses procedimentos devem ser adotados desde a concepção do projeto ate a conclusão da obra"
Combatendo-se o desperdício energetico através de sistemas e projetos mais eficientes, visando-se nao só a construção mas tambem o uso e manutenção das edificações, gera-se uma economia significativa e de rápido retorno dos investimentos. 
  • A simples mudança de habito da população, no uso da energia elétrica e na compra de equipamentos mais eficientes, já e capaz de gerar economia mais significativas. Porem as precárias condições econômicas da maior parte da população levam, devido ao alto preço, ao consumo de equipamentos de qualidade inferior, os quais em geral consomem mais energia. 
As mudanças de habito são mais fáceis de acontecer através da educação da população, por meio de uma eficiente estrategia de marketing, aproveitando-se a grande penetração da mídia nas várias camadas da sociedade, influenciando o tempo e a forma de uso de equipamentos como o ferro de passar roupas, o chuveiro elétrico, a elétrica e aparelhos eletrodomésticos, como foi constatado no inicio do Piano de Racionamento no Brasil em 2001.
  • PROCEL (1999) tenta auxiliar os usuários na escolha de eletrodomésticos através concessão de um "Selo de Economia de Energia", que pode ser encontrado em várias marcas de geladeiras, freezers e aparelhos de ar-condicionado, e que devido a necessidade de redução do consumo no período de "Racionamento de.Energia", passou a ser mais difundido na mídia e, por isso mesmo, mais procurado pelo consumidor comum.
Neste selo aparece, por exemplo, o consumo mensa! de energia elétrica visando orientar melhor o consumidor sobre a eficiência dos aparelhos comercializados no pais. O Programa indica ainda alguns cuidados na compra e instalação de aparelhos de ar-condicionado, como: dimensionamento de acordo com a necessidade inclusive do termostato; privilegiar as marcas com o selo PROCEL; instalar o aparelho em local abrigado do sol direto e sem bloquear as grades de ventilação; manter portas e janelas fechadas no ambiente climatizado e evitar o sol direto, com dispositivos de sombra; limpar sempre os filtros; e por fim desligar os aparelhos quando seu uso não se fizer mais necessário.
  • A troca das lampadas incandescentes por lampadas frias de rosca tambem pode ser vantajosa, porem devido ao alto custo unitário destas lampadas, este procedimento torna-se mais viável para condomínios e locais onde os custos podem ser diluídos e o uso surte retorno mais rápido pelo longo período em que ficam acesas.

Emanuel Amaral Com interface simples e prática, sistema permite que 
operários programem tarefas nos terminais de computador.

A participação do Estado e das ONG's:
"De nada adiantam as leis, se a população não estiver engajada no processo e se os meios empresariais não estiverem motivados. " (PELICJONI & B!CUDO, 1996).
Conforme a constituição brasileira (BRASIL, 2000), no Artigo 225 , todos tem direito ao meio ambiente, que e de uso comum e " ... essencial a sadia qualidade de vida ... ", e o Poder Publico e a coletividade tem o " ... dever de defende-Io e preservação para as presentes e futuras gerações". Assim, a propria constituição brasileira torna clara a posição que o governo deve ocupar na proteção do ambiente, da fauna, da flora, da biodiversidade, na ocupação do solo, no controle da industria e do comercio, na educação e conscientização da população.
  • As Organizações nao-governamentais- ONG's, que dedicam seus trabalhos e recursos as questões ambientais são grandes responsáveis pela conscientização mundial sobre o desenvolvimento sustentável e suas facetas sócio-econômicas, tanto entre industrias, quanto entre os consumidores e ate, porque não dizer, governos dos diversos países que se vem obrigados inclusive por pressões de organizações internacionais, a adotarem padrões de emissão de poluentes e estudos ambientais para seus empreendimentos e parques industriais.
Várias ONG's tambem tem se empenhado na fiscalização e denuncia dos abusos por parte das industrias, fon;ando a ação dos governos. Muitos programas de conscientização e atividades de ensino para a população tambem tem sido realizadas ou estimuladas por muitas dessas organizações, com grande sucesso, pois educando-se as crianças e adolescentes forma correta, as chances de se obter um futuro melhor para todos são evidentemente maiores.
  • Os governos precisam dar o exemplo de conciliação entre desenvolvimento e respeito ao ambiente, através da adoção de ações com este objetivo, nos edifícios, nas empresas e obras publicas, prestação de serviços para a população como tratamento de água, produção de energia, coleta e destinação de lixo. 
Mesmo agora após a privatização de muitas empresas publicas, o governo pode estabelecer regras para as concessionárias atuem de forma coerente com os novos anseios e necessidades da sociedade, incentivando programas de coleta seletiva e reciclagem de lixo, em todos os niveis da sociedade.
  • O governo deve ainda envolver a população, como salienta JACOBI (1998), a " ... administração dos riscos socioambientais coloca cada vez mais a necessidade de ampliar o envolvimento publico, através de iniciativas que possibilitem um aumento do nivel de consciência ambiental dos moradores, garantindo a informação e a consolidação institucional de canais abertos para a participação ... ", assim a população pode exercer tambem, pressão sobre as empresas e sobre o próprio governo.
A posição adotada pelos governos de todos os países e de extrema importância para que as atividades produtivas internas e externas sigam linhas que respeitem o ambiente. Os reflexos destas atitudes podem ser positivos ou negativos economicamente, por isso muitos países hesitam em assinar e seguir os tratados internacionais, como por exemplo, o referente a emissão de dióxido de carbono. 
  • Os interesses de grandes corporações estão em jogo nestes assuntos, e muitas vezes estes interesses exercem uma pressão tao grande que retardam decisões que conduziriam a mudanças significativas em seus processos produtivos. Ate mesmo a construção de barragens, estradas e aterros sanitários devem entrar neste contexto.
A necessidade de uma posição determinada e enérgica dos governantes pode acabar com problemas como o dos lixões, por exemplo, pois, como cita FRANCO (1999), " ... politicas economia, reaproveitamento e reciclagem materiais nao estão suficientemente difundidas e, dos mais de cinco e quinhentos municípios brasileiros, mais de cinco mil convivem com os problemas de lixões operados de forma inadequada".
  • Os órgãos governamentais podem e devem induzir, incentivar praticas e iniciativas conduzam as industrias (como tambem outros set ores da economia) a adequarem seus processos produtivos aos padrões ambientais, por meio de politicas internas, leis e normas que atraiam a atenção das empresas, despertando suas ações rumo a ecoeficiência. 
Desta forma, aproximando cada vez mais do almejado desenvolvimento sustentável. Para isto ate incentives fiscais entre outras vantagens podem e devem ser propostos, assim como, a criação de novos mecanismos que proporcionem o aumento da arrecadação de impostos já existentes, para serem destinados as questões ambientais.
  • Uma boa iniciativa adotada no Brasil foi o "Estatuto da Cidade", que ainda e muito recente e estão começado a ser divulgado e trabalhado, mas precisa ser conduzido com cautela para nao se tornar um instrumento de defesa de interesses individualistas, pois segundo a ASSOCIA(AO DE ENGENHEIROS E ARQUITETOS DE CAMPINAS- AEAC (2001), tais novos conceitos, como o estudo de impacto de vizinhança " ... exigido para a concessão de licenças e autorizações de construção, ampliação ou funcionamento de imoveis e empreendimentos", e a criação do " ... usucapião coletivo, o que facilita a regulariza<;ao de favelas, ocupações de areas de mananciais e assentamentos ... ".
Conforme explica o Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo - CREA-SP (2001), o "Estatuto da Cidade", e uma gestão de politica urbana, regulamentada pelo governo federal em 2001, que visa " ... fortalecer e regulamentar as formas de gestão democrática dos recursos e politicas publicas urbanas, exigindo a articulação entre diversos instrumentos de planejamento local, como os Pianos Diretores, ... , determinando que haja a participação da sociedade na elaboração ... ", que pode " ... ocorrer através de audiências publicas e debates com a população, . . . com os profissionais da área tecnológica, alem da realização de conferencias sobre assuntos de interesse urbano ... ", desde o nivel municipal ate nacional, e garantir " ... livre acesso de qualquer cidadão aos documentos e informações produzidos pelos governos".
O documento "Demografia, Poder local e a Agenda 21", de SÃO PAULO (Estado -1994), salienta, entre vários aspectos referentes a Industria da Construção, suas atividades produtivas e sua relação com o ambiente, e as responsabilidades dos governos:
"estabelecer industria autóctone de materiais de construção baseada, tanto que possível, na oferta local de recursos naturais"; "introduzir uma legislação e incentives financeiros que promovam a reciclagem de materiais de alto rendimento energetico na industria da construção e a conservação de energia nos métodos de produção dos materiais de construo;ao".
O conceito vem da língua inglesa, lean construction, e deriva do modelo 
industrial toyotista, lean production, que visava 
a otimização do processo.