terça-feira, 25 de novembro de 2014

O Minério de ferro e o crescimento dos BRICS

Presidenta Dilma Rousseff durante reunião dos Chefes de Estado e de Governo
dos BRICS  (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).
Los Cabos - México, 18/06/2012. 

O termo BRIC foi criado pelo economista Jim O’Neill, em 2001, mas ganhou força com o artigo “Dreaming with BRICs: The Path to 2050” dos economistas Dominic Wilson e Roopa Purushothaman (2003) do banco de investimento norte americano Goldman Sachs para referir-se aos quatro países que apresentarão maiores taxas de crescimento econômico até 2050 e ultrapassarão os G6 dentro desse período. Os países que compõe os BRICS são: Brasil, Rússia, Índia e China. Os países não compõem um bloco econômico, trata-se apenas de uma associação comercial e integram características semelhantes, dentre elas: PIB em crescimento, mão-de-obra, ainda que não qualificada, com alta disponibilidade, mercado consumidor em ascensão e disponibilidade de recursos naturais.
  • Nos últimos anos os BRICs foram os responsáveis pela manutenção do crescimento do PIB mundial uma vez que as economias desenvolvidas passaram por períodos de crise (tanto nos EUA com a crise subprime em 2008 e, mais recentemente, na Europa com a questão do elevado déficit público) e, portanto, um crescimento muito aquém do esperado para tais economias. Dessa forma, o entendimento de como se deu o crescimento destes países tornou-se foco tanto no meio acadêmico como no meio corporativo.
De acordo com Vieira e Verissimo (2008), um dos primeiros trabalhos publicados a respeito do tema crescimento econômico é o de Solow (1956) responsável por criar o modelo neoclássico de crescimento econômico e que lhe resultou em um prêmio Nobel em 1987.
  • Segundo Rodrigues (2004), o modelo de Solow propunha a acumulação de capital como o principal motor de crescimento econômico de curto prazo, de tal forma que o investimento, a medida que aumenta a capacidade produtiva, seria crucial ao crescimento econômico.
A teoria de crescimento baseado no modelo neoclássico seguiu ao longo não somente nos anos 50 e 60 com diversos autores além de Solow, como Swan (1956) e North (1974). Tais modelos tinham por base a chamada propriedade de convergência, cuja ideia era de que economias com níveis mais baixos de PIB per capita, maiores seriam as taxas de crescimento previstas, sendo essa propriedade associada ao suposto de retornos decrescentes do capital (Vieira e Verissimo, 2008). Uma visão mais simplificada desse modelo de crescimento surge com a afirmação de North (1974):
“O crescimento econômico significa essencialmente um aumento na produtividade, isto é, o que faz um país crescer e aumentar o seu bem estar é que ele produz mais produtos e serviços em termos per capita.”
Segundo Canuto, Higachi e Porcile (1999), três observações se mostraram inconsistentes com as predições do modelo neoclássico e, portanto, motivaram o surgimento de novas teorias de crescimento:A produtividade do trabalho e a renda per capita têm aumentado de modo permanente desde a revolução industrial. No entanto, essa teoria carecia de uma explicação para esse fato estilizado ao assumir que a mudança técnica é exógena, a teoria deixaria de explicar a real origem do progresso econômico, dessa forma, a solução seria endogenizar a mudança técnica;
  • De acordo com os modelos neoclássicos, há tendência de, em algum momento, haver convergência entre países ricos e pobres. No entanto, na análise de séries históricas há, na verdade, um aumento do gap da renda per capita entre os países ricos e pobres países. 
  • A falha se concentra em assumir que a oportunidade de progresso tecnológico é igual para os dois tipos de países, o que não é verdade;
  • A terceira crítica diz respeito à mobilidade de fatores de produção e diferenciais internacionais de remuneração que não seguem o padrão observado. 
Sendo assim, nos anos 80, a hegemonia do modelo de Solow perde espaço para modelos de crescimento endógeno que consistem em uma ampliação do modelo neoclássico.
  • Esse modelo assume que o crescimento ocorre devido a melhorias tecnológicas automáticas que ocorrem quando empresas desenvolvem novos e melhores produtos para maximizar seus lucros e não exógenas ao modelo como propunha Solow. A teoria busca compreender as forças econômicas que estão por trás do progresso tecnológico. Dessa forma, tanto o crescimento como a tecnologia são compreendidos como resultados endógenos da economia.
No modelo de Romer (1996), por exemplo, a tecnologia é determinada de forma endógena quando existe busca de novas ideias por pesquisadores que visam lucrar com tais invenções. Sendo assim, as inovações tecnológicas dependem da quantidade de pessoas envolvidas nessa busca e o nível de intensidade que essas o fazem.
  • O modelo proposto por Lucas (1988) também é exemplo dos modelos de crescimento endógeno da economia e que incorpora o capital humano. O modelo consiste em explicar a dinâmica de crescimento por meio da acumulação de capital humano, de modo que as diferenças nas taxas de crescimento entre os países são decorrentes primordialmente da intensidade com que ampliam as dotações desse fator ao longo do tempo (Aghion e Howitt,1999). De maneira prática, trabalhadores com mais estudo e habilidades, tendem a ser mais produtivos do que outros trabalhadores.
Um estudo empírico, baseado no modelo proposto por Lucas, é o de Barro e Sala-Martin (1995) que reuniram dados para mais de cem países na década de 60 a 90. O objetivo era demonstrar que a taxa de crescimento de um país seria positivamente afetada pelo nível de escolaridade e expectativa de vida, por menores gastos do governo, menores taxas de inflação, melhoria nos termos de troca e negativamente afetada pelo nível inicial do PIB per capita. Os resultados econométricos do estudo de Robert Barro, nomeado Inflação e Crescimento econômico, mostram que um aumento da inflação média em 10 pontos percentuais por ano implica em uma redução da taxa de crescimento do PIB real per capita de 0,2 a 0,3 pontos percentuais por ano e uma redução na relação investimento/PIB de 0,4 a 0,6 pontos percentuais. Porém esses resultados só demonstraram alta correlação quando incluída alta inflação na amostra. Por fim, Barro e Sala-I-Martin (1995) citam os efeitos de uma política monetária que mantém a taxa média de inflação em 10 pontos percentuais no longo prazo e observa que após 30 anos o PIB real viria a ser reduzido 4% a 7%, demonstrando a importância de uma política monetária com regime de meta inflacionária e, portanto, estabilidade de preços.
  • Existem outros estudos que dão ênfase ao grau de abertura como meio de explicar o crescimento do país. É o caso de Chang et all (2005) que obtiveram resultados positivos na regressão do PIB real em função da abertura comercial e outras reformas complementares. Tais reformas complementares podem ser exemplificadas pelo regime cambial, como mostrado no estudo empírico de Dubas et. al. (2005). Além da abertura comercial e do regime cambial, outros autores abordam a liberalização da conta de capital, que registra os empréstimos, investimentos diretos e aplicações financeiras provenientes do exterior.
A justificativa teórica para a liberalização consiste que essa levaria a melhoria na eficiência da alocação de recursos por meio de canais, resultando no crescimento econômico desses países, no longo prazo. No entanto, no estudo empírico não há evidências suficientes que provem o crescimento econômico a partir da liberalização da conta de capital.
  • Além desses fatores, a necessidade de investimentos nos processos de industrialização dos países em desenvolvimento impulsionou o comércio internacional de commodities. As matérias primas de extração mineral ou hard commodities, como o minério de ferro e o carvão, matéria prima para o aço, e o calcário, usado na produção de cimento, tiveram um elevado grau de importância uma vez que são produtos que tem grande representatividade no investimento e desenvolvimento econômico.
No presente trabalho, o objetivo inicial é identificar quais variáveis que influenciaram no crescimento econômico dos países que compõem os BRICs a partir de uma análise teórica de componentes macroeconômicos com a finalidade de justificar a demanda por commodities metálicas para o investimento em desenvolvimento aplicado à indústria siderúrgica, a qual os produtos são amplamente utilizados em investimento de infra-estrutura bem como em bens de capital, construção e automóveis. Para tal é necessário o entendimento da dinâmica de mercado tanto das commodities como da indústria siderúrgica, com grande participação no consumo de setores de construção e bens de capital.
  • Dessa forma, parte-se da hipótese de que o desenvolvimento dos BRICs exerceu influência significativa na demanda e nos preços do minério de ferro e que tal desenvolvimento pode servir como meio de determinar os preços do mesmo. A estrutura do trabalho está organizada de maneira que no capítulo 1 é realizado um breve histórico dos desafios enfrentados por cada um dos BRICs nas últimas duas décadas.

Metade da mão de obra contratada para as obras vem da região; Quando os projetos estiverem prontos, promessa é gerar 50 mil postos de trabalho
 (Porto de Açu)

Na ponta da ponte, em alto-mar, a temperatura supera os 30 graus. O forte vento reduz a sensação térmica, mas deixa o mar agitado. As primeiras pedras lançadas para a construção do quebra-mar já começam a aparecer na superfície e vão proteger os navios que chegarão no futuro porto que está sendo construído. Ao todo, serão lançados 1,8 milhão de metros cúbicos de blocos de pedras no mar, o equivalente ao morro do Pão de Açúcar. 
  • Quando estiver pronto, o porto acomodará dez berços de atracação. O calado natural de 15 a 18 metros já seria suficiente para navios Panamax, nas medidas que cruzam o canal do Panamá. Mas as obras de dragagem vão aumentar a profundidade para 25 metros, o que inclui a nova geração de meganavios Chinamax, com capacidade de carga de mais de 350 mil toneladas de minério, que hoje chegam apenas a poucos portos existentes no mundo.
A obra ‘Superporto do Açu’ começou no fim de 2007. Até sua conclusão, prevista para 2012, receberá investimentos de R$ 4,5 bilhões. Mas o porto e a estrutura para o transporte do minério serão uma migalha se comparados a todos os projetos sonhados pelo empresário para a região.

O Crescimento econômico dos Brics:

Em 2003 os economistas Dominic Wilson e Roopa Purushothaman publicaram no artigo “Dreaming with BRICs: The Path to 2050” com projeções que explicam a chegada dos BRICs entre as seis maiores economias do mundo nos próximos quarenta anos. Segundo os autores esses países virão a ser o motor de crescimento da demanda e de poder de consumo e esse fato poderia anular os fortes impactos do envelhecimento da população e lento crescimento das economias desenvolvidas. Apesar de serem os países com crescimentos significativos nos últimos anos cada país do BRIC apresenta diferentes características políticas e econômicas.
  • Embora todos os países sejam unidades federativas apenas Brasil e Índia são bem resolvidos democraticamente, o primeiro uma república presidencial e o segundo uma república parlamentar. A Rússia, apesar de declarar-se uma república democrática, segue com fortes traços de autoritarismo e a China segue uma república comunista marxista. A China que cresceu cerca de 650% entre 1988 a 2010, seguido pelo Brasil com desempenho irregular.
A Rússia, como é possível observar, apresentou um período de crise no inicio da década de 90 e tem se recuperado ainda que de maneira muito lenta. A Índia segue crescendo de modo significativo e regular com crescimento de 7% ao ano. Em comum os países possuem algumas mudanças sérias em suas respectivas estrutura econômicas seguidas por um aumento da participação do setor de serviços na economia.
  • A média de crescimento do PIB dos BRICS mostrou-se maior em quase todo o período analisado, com exceção do inicio da década de 90 diante do decréscimo do PIB brasileiro nos três primeiros anos da década e, principalmente, pelo PIB russo que em 1993 apresentou uma variação negativa de 14% em relação ao ano anterior. Já nos anos 2000 os BRICS mostraram desempenho muito acima do crescimento do PIB mundial apresentando queda apenas nos anos da crise mundial. No entanto, é importante observar que o grupo dos países não apresentou decréscimos do PIB e isso é justificado pelo excelente desempenho chinês que manteve o grupo com crescimentos positivos principalmente no ano de 2009.
Uma característica bastante comum dos países analisados é seu caráter exportador, no caso do Brasil, Rússia e Índia de commodities primárias e alguns produtos acabados. No entanto, o maior destaque é para as exportações dos produtos chineses, sendo responsáveis pelo crescimento da exportação do grupo. Dessa forma, é possível observar um aumento na participação dos países do BRIC nas relações de troca comercial mundial tanto referente à exportação como importação.
  • Importante ressaltar o crescimento da participação das importações chinesas no comércio internacional mundial (ver Tabela 2). Isso porque grande parte dos produtos importados pelo país são primários trazendo benefícios aos seus parceiros comerciais, como é o caso da relação entre Brasil e China, sendo o Brasil diretamente beneficiado pela exportação de minério de ferro aos chineses.
Outro importante indicador de crescimento econômico é a formação bruta de capital fixo que inclui investimentos tanto em construção civil como em bens de capital e que são setores que demandam elevada quantidade de consumo de aço e, por conseqüência, utilização de suas matérias primas.
  • Dentre os BRICS, os que apresentaram maior participação da formação bruta de capital fixo foram Índia e China com médias acima da média mundial no período analisado. A Rússia apresentou médias semelhantes enquanto o Brasil possui o menor dinamismo e com médias abaixo do mundo.

O minério de ferro viaja bruto em trens que podem ter 330 vagões e 3,5 quilômetros de extensão para ser exportado. Só 2% do que sai da mina de Carajás é comprado pelas siderúrgicas nacionais