quarta-feira, 8 de abril de 2015

Bhopal: O Maior Acidente Químico da História

O Desastre de Bhopal ganha este nome por ter acontecido na cidade de Bhopal, 
na Índia, cerca de 40 toneladas de gases tóxicos vazaram de uma 
fábrica de pesticidas de origem norte-americana 
conhecida como Union Cabide

  • A Tragédia, ou Desastre de Bhopal, foi um acidente industrial que ocorreu na madrugada de 3 de dezembro de 1984, em Bhopal, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. 
É considerado o pior desastre industrial ocorrido até hoje, quando mais de 500 mil pessoas, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases. O número total de mortes é controverso: houve num primeiro momento cerca de 3.000 mortes diretas, mas estima-se que outras 10 mil ocorreram devido a doenças relacionadas à inalação do gás.
  • A Union Carbide, empresa de pesticidas de origem americana, negou-se a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como conseqüência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos expostos. Cerca de 150 mil pessoas ainda sofrem com os efeitos do acidente e aproximadamente 50 mil pessoas estão incapacitadas para o trabalho, devido a problemas de saúde. 
As crianças que nascem na região filhas de pessoas afetadas pelos gases também apresentam problemas de saúde. Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e de seu novo dono, a Dow Química(Dow Chemicals), informações sobre a composição dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde. 
  • Apesar deste quadro absurdo, a fábrica da Union Carbide em Bhopal permanece abandonada desde a explosão tóxica enquanto que resíduos perigosos e materiais contaminados ainda estão espalhados pela área, contaminando solo e águas subterrâneas, dentro e no entorno da antiga fábrica. Hoje sabe-se que o composto quimico era o isocianato de metila
Na madrugada entre dois e três de dezembro de 1984, 40 toneladas de gases letais vazaram da fábrica de agrotóxicos da Union Carbide Corporation, em Bhopal, Índia. Foi o maior desastre químico da história. Gases tóxicos como o isocianato de metila e o hidrocianeto escaparam de um tanque durante operações de rotina. 
  • Os precários dispositivos de segurança que deveriam evitar desastres como esse apresentavam problemas ou estavam desligados. Estima-se que três dias após o desastre 8 mil pessoas já tinham morrido devido à exposição direta aos gases. 
A Union Carbide se negou a fornecer informações detalhadas sobre a natureza dos contaminantes, e, como conseqüência, os médicos não tiveram condições de tratar adequadamente os indivíduos expostos. 
  • Mesmo hoje os sobreviventes do desastre e as agências de saúde da Índia ainda não conseguiram obter da Union Carbide e de seu novo dono, a Dow Química, informações sobre a composição dos gases que vazaram e seus efeitos na saúde. Infelizmente, a noite do desastre foi apenas o início de uma longa tragédia, cujos efeitos se estendem até hoje. 
A Union Carbide, dona da fábrica de agrotóxicos na época do vazamento dos gases, abandonou a área, deixando para trás uma grande quantidade de venenos perigosos. A empresa tentou se livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao governo da Índia uma indenização irrisória face a gravidade da contaminação.
  • Hoje, bem mais de 150.000 sobreviventes com doenças crônicas ainda necessitam de cuidados médicos, e uma segunda geração de crianças continua a sofrer os efeitos da herança tóxica deixada pela indústria.
A Tragédia:
  • Na noite do desastre, as seis medidas de segurança criadas para impedir vazamentos de gás fracassaram, seja por apresentarem falhas no funcionamento, por estarem desligadas ou por serem ineficientes. Além disso, a sirene de segurança, que deveria alertar a comunidade em casos de acidente, estava desligada. 
Os gases provocaram queimaduras nos tecidos dos olhos e dos pulmões, atravessaram as correntes sangüíneas e danificaram praticamente todos os sistemas do corpo. Muitas pessoas morreram dormindo; outras saíram cambaleando de suas casas, cegas e sufocadas, para morrer no meio da rua. Outras morreram muito depois de chegarem aos hospitais e prontos-socorros. 
  • Os primeiros efeitos agudos dos gases tóxicos no organismo foram vômitos e sensações de queimadura nos olhos, nariz e garganta, e grande parte das mortes foi atribuída a insuficiência respiratória. Em alguns casos, o gás tóxico causou secreções internas tão graves que seus pulmões ficaram obstruídos; em outros, as vias aéreas se fecharam levando à sufocação. 
Muitos dos que sobreviveram ao primeiro dia foram diagnosticados com problemas respiratórios. Estudos posteriores com os sobreviventes também apontaram sintomas neurológicos, como dores de cabeça, distúrbios do equilíbrio, depressão, fadiga e irritabilidade, além de danos nos sistemas músculo-esquelético, reprodutivo e imunológico.
  • Segundo José Possebon (coordenador de Higiene do trabalho da Fundacentro), a tragédia poderia ter sido evitada. Os sistemas de segurança da fábrica eram insuficientes, devido ao corte de despesas com segurança imposto pela matriz da empresa, nos EUA, que por sua vez acontece por causa do retorno esperado da indústria não ser suficiente.
Até os dias de hoje não se sabe quem seria realmente o responsável pelo incidente, a empresa responsável pela Union Carbide, a Dow Chemical Company, começou por acusar um suposto movimento terrorista indiano. Mais tarde, quando a história se tornou insustentável, acusou um empregado de sabotagem. 
  • O processo arrastou-se por longos anos até que um tribunal dos EUA decretasse que a sabotagem tinha sido o fator que levou ao desastre. Dow Chemical nunca aceitou que o julgamento fosse feito no local onde efetivamente deveria ter sido realizado, na Índia. O responsável pela fábrica continua fugido nos EUA e os pedidos de extradição para a Índia foram sistematicamente recusados.
Em 2001, a Dow Química comprou a Union Carbide. Por esta aquisição, a Dow passou a ser responsável não apenas pelos ativos da empresa, como também por seus passivos ambientais e pelos crimes cometidos em Bhopal. No entanto, a Dow continua negando sua responsabilidade pelo crime cometido.
  • A empresa tentou se livrar da responsabilidade pelas mortes provocadas pelo desastre, pagando ao governo da Índia uma indenização irrisória em face a gravidade da contaminação. A Union foi intimada a compensar aqueles que, com o desastre, perderam sua capacidade de trabalhar. 
A companhia se recusou a pagar US$ 220 milhões exigidos pelas organizações de sobreviventes. Em fevereiro de 1989, depois de cinco anos de disputa legal, o Governo Indiano e a empresa chegaram a um acordo de US$ 470 milhões. Supostamente, esta quantia deveria pôr fim a toda responsabilidade da indústria perante à sociedade. 
  • A indenização médica, de US$ 370 a US$ 533 por pessoa, seria suficiente apenas para cobrir despesas médicas por cinco anos. Muitas das vítimas, incluindo-se crianças sofrerão os efeitos pelo resto da vida. A indenização acordada não cobriu despesa médicas ou prejuízos relacionados à exposição contínua à área contaminada. O maior acidente industrial do mundo custou à Union Carbide apenas US$ 0,48 por ação.
Os moradores encontram-se revoltados e indignados com a situação em que vivem. Rachna Dhingra é um morador que sente na pele a tortura causada pela toxicidade do local e, segundo ele, o governo não é nem um pouco sensível à essa situação: olha para os sobreviventes com um olhar de desgosto.Boatos dizem que as vítimas não receberam todo o dinheiro da compensação paga pela Union Carbide ao governo.
  • Vinte e cinco anos depois as ações tomadas foram apenas retóricas ou cosméticas. As pessoas continuam, na prática, sem qualquer tipo de compensação ou apoio que lhes permitam, por exemplo, cuidados médicos relativos com a sua situação de saúde e a Dow continua a afirmar que essas compensações nunca terão lugar.
Em 7 de Junho de 2010, um tribunal indiano a empresa química norte-americana Union Carbide e sete dos seus funcionários, de nacionalidade indiana, por negligência agravada que pode resultar no decreto de sentenças de prisão a ascenderem aos dois anos, mais multas.
  • Segundo a UNION CARBIDE a empresa alega hoje em dia em seu site que vazamento de gás da fábrica em Bhopal, na Índia, foi causada por um ato de sabotagem, que resultou em perda trágica de vidas.
Aquisição da Union Carbide pela Dow Química:
  • Em 2001, a Union Carbide foi adquirida pela multinacional Dow Química, sediada nos Estados Unidos. Com a compra da Union Carbide por um total de US$ 9,3 bilhões, a Dow se tornou a maior indústria química do mundo. 
A Dow comprou não apenas os bens da empresa, mas também a responsabilidade pelo desastre de Bhopal. Mesmo assim, a empresa se recusa a aceitar a responsabilidade moral pelo passivo ambiental adquirido. Ao mesmo tempo em que a responsabilidade legal da Dow está sendo julgada pela justiça norte-americana, os moradores de Bhopal continuam a sofrer os impactos do desastre. 
  • De acordo com a Dow, com a fusão das duas empresas, a receita anual passou a ser superior a US$ 24 bilhões, e seus ativos estão avaliados em mais de US$ 30 bilhões. Em novembro de 2000, o novo presidente eleito da Dow, Michael D. Parker, demonstrou preocupação com as questões referentes à Union Carbide em Bhopal em seu primeiro informe oficial à imprensa: 
“É claro que temos consciência do incidente em Bhopal e de sua associação ao nome da Union Carbide, mas é importante ressaltar que [a Union Carbide] fez o que foi preciso para adotar os programas adequados para meio ambiente, saúde e segurança”.
  • Assim como no caso dos atentados terroristas de 11 de setembro nos Estados Unidos, a morte de inocentes civis em Bhopal também chocou o mundo e provocou mudanças no comportamento da indústria. 
Depois desse desastre, a legislação ambiental e de segurança química em muitos países ricos ficou mais rigorosa. Nos Estados Unidos, foi criada a legislação de Direito à Informação, e a indústria química desenvolveu códigos de conduta, como a Atuação Responsável (Responsible Care). 
De acordo com Sam Smolik, vice-presidente da Dow para questões de meio ambiente, saúde e segurança, em um discurso feito recentemente, “(...) em 1984, a terrível tragédia que ocorreu em Bhopal, na Índia, serviu para despertar a indústria química como um todo...”. No entanto, as mudanças ocorridas no setor químico não foram suficientes e trouxeram poucos benefícios aos indivíduos mais afetados pelo acidente, cujos pedidos de indenização justa e de descontaminação da área continuam sendo ignorados.

Bhopal: O Maior Acidente Químico da História

O isocianato de metila:
  • O isocianato de metila é um produto utilizado na síntese de produtos inseticidas, comercialmente conhecidos como Sevin e Temik, da família dos carbamatos, utilizados como substitutos de praguicidas organoclorados, como o DDT. Em condições normais, o isocianato de metila é líquido à temperatura de 0 °C e pressão de 2,4 bar.
Quem aspirar o isocianato de metila em forma de gás é submetido a uma morte lenta e aterrorizante. Como o veneno reage ao entrar em contato com a água, o ataque químico toma-se mais duro na exata medida em que o organismo secreta líquidos para se proteger da agressão. 
  • Nos olhos, por exemplo, assim que o lacrimejar fica mais intenso a córnea é atacada com tamanha ferocidade que chega a perder a transparência, tomando-se opaca e ocasionando a cegueira, só reversível mediante transplantes. O mesmo efeito pode ser sentido na boca, no nariz e nos pulmões.
Dentro do corpo, o isocianato de metila segue seu curso de destruição. Ao penetrar nos pulmões faz entupir os alvéolos, impedindo a passagem do oxigênio para a corrente sanguínea. As vítimas de Bhopal, assim, morreram com a sensação de que estavam se afogando. De nada adianta dar oxigênio extra à vítima, pois os alvéolos mantêm-se bloqueados. 
  • O isocianato tem a capacidade de dissolver algumas enzimas do organismo, principalmente a colinesterase, substância importante no processo de contração muscular. Sem essa substância, ocorrem convulsões involuntárias, torpor, confusão mental e a vítima entra em coma. Sabe-se que, a longo prazo, o composto tóxico está associado ao surgimento da agranulocitose, que diminui a capacidade da pessoa de enfrentar infecções.
O Fosfogenio:
  • O fosgênio é um gás incolor a temperatura ambiente com odor de fruta em decomposição. É usado na fabricação de polímeros de isocianato, agrotóxicos, corantes, produtos farmacêuticos, entre outros. Foi usado como arma química.
A cloropicrina é um líquido claro e oleoso a temperatura ambiente, com odor muito irritante. É usada como reagente na síntese de substâncias químicas orgânicas, na fabricação de violeta de metila, como fumigante para grãos. Foi usada como arma química.
O PFIB é um gás incolor formado durante a fabricação de tetrafluoroetileno e em pequenas quantidades na decomposição térmica de politetrafluoroetileno (PTFE), acima de 360C, e solventes clorados.

Isocianato de metila
Isocyanatomethane, methyl carbylamine

Comportamento do ambiente:
  • O fosgênio é degradado lentamente na atmosfera por reação com radicais hidroxila e tem meia-vida de 44 anos. No solo pode apresentar alta mobilidade e pode volatilizar de superfícies secas do solo. 
Na água, o composto provavelmente não adsorve a sólidos em suspensão e sedimentos. A substância é muito volátil e hidrolisa rapidamente na água sugerindo que a bioconcentração não é um processo ambiental importante.
  • A cloropicrina é formada na água potável por reação do cloro com ácidos húmicos, aminoácidos e nitrofenóis. A presença de nitratos aumenta a quantidade formada. Na água, a cloropicrina é reduzida para clorofórmio quando agentes redutores são adicionados para remover o excesso de cloro. Na presença da luz é degradada para dióxido de carbono, íon cloro e íon nitrato. 
O PFBI no ar é degradado por reação com radicais hidroxila, com meia-vida estimada em 5,7 dias. No solo, o composto apresenta mobilidade leve. Na água, pode adsorver-se fracamente a sólidos em suspensão e sedimento.

Exposição humana e efeitos à saúde:
  • A inalação é a principal via de exposição ao fosgênio. A exposição a altas concentrações pode irritar os olhos, nariz e garganta. Os sintomas observados são: ardor e lacrimejamento dos olhos, dor na garganta, dispneia, tosse e opressão torácica, que ocorrem geralmente com concentrações acima de 3 ppm de fosgênio.
A exposição humana a cloropicrina ocorre principalmente por inalação e contato direto. Os principais efeitos da exposição são: irritação dos olhos, nariz e garganta, com lacrimejamento, tosse, vertigem, fadiga e cefaleia. A ingestão produz náuseas, vômitos, cólicas e diarréias. 
  • A exposição prolongada pode causar problemas respiratórios, como irritação das vias aéreas e dificuldade respiratória. A inalação de concentrações muito altas pode levar a edema pulmonar, inconsciência e morte. Indivíduos asmáticos expostos a cloropicrina sofrem ataques de asma devido a propriedades irritantes da substância. A irritação da pele pode produzir cicatrizes permanentes.
A principal via de exposição ao PFIB é inalatória. Exposição a altas concentrações pode irritar os olhos, nariz e garganta. Há poucos dados sobre os efeitos do gás para o ser humano. A exposição a altas concentrações causou a morte de animais.

Justiça para Bhopal:
  • A Union Carbide foi intimada a indenizar aqueles que, com o desastre, perderam sua capacidade de trabalhar. Em fevereiro de 1989, depois de cinco anos de disputa legal, o governo indiano e a empresa chegaram a um acordo, fixando a indenização em US$ 470 milhões. 
Essa quantia deveria ser capaz de pôr fim a toda responsabilidade da indústria perante à sociedade. A indenização média, de US$ 370 a US$ 533 por pessoa, era suficiente apenas para cobrir despesas médicas por cinco anos. Muitas das vítimas, assim como seus filhos, sofrerão os efeitos do desastre pelo resto de suas vidas.
  • Organizações locais de sobreviventes estimam que entre 10-15 pessoas continuam morrendo a cada mês como resultado da exposição. Desde 1984, mais de 140 ações civis a favor das vítimas e sobreviventes de Bhopal foram iniciadas nas Cortes Federais dos Estados Unidos, na tentativa de obter indenização apropriada. Os casos continuam em curso.
Contaminação na Fábrica e Arredores:
  • Em 1999, o Greenpeace e grupos comunitários de Bhopal visitaram a fábrica abandonada para avaliar as condições ambientais do local e dos arredores. 
A equipe documentou a presença de estoques de agrotóxicos, assim como resíduos perigosos e material contaminado espalhado por todo o terreno. Encontraram níveis elevados de metais pesados e compostos clorados no solo e na água, e, em alguns locais, os níveis eram bastante alarmantes.
  • As amostras coletadas pelo Greenpeace mostraram níveis elevados de compostos clorados no lençol freático amostrado a partir da água de poços, incluindo clorofórmio e tetracloreto de carbono, indicativos de contaminação a longo prazo. 
Além disso, foram encontrados no solo chumbo, níquel, cobre, cromo, hexaclorociclohexano (HCH) e clorobenzenos. A contaminação geral do local e dos arredores deve-se a vazamentos e acidentes rotineiros durante o período em que a fábrica funcionava, ou às contínuas emissões resultantes dos resíduos tóxicos que permanecem no local.
  • A muitos dos indivíduos que continuam habitando as redondezas da fábrica, incluindo sobreviventes do desastre, não resta outra alternativa a não ser usar água do lençol freático contaminada com poluentes tóxicos. Desde 1990 a comunidade já luta por água limpa. Testes realizados pelo governo local em 1996 apontaram níveis elevados de contaminação, concluindo que muitos dos poços tinham condições de potabilidade inadequadas.
O Greenpeace e os sobreviventes de Bhopal exigem que a Dow Química:
  • Descontamine a área e se responsabilize pelos custos da operação, como seria exigido nos Estados Unidos;
  • Assegure tratamento médico e as condições necessárias para tratamento a longo prazo de sobreviventes do desastre;
  • Indenize as pessoas afetadas pela exposição ao gás, assim como suas famílias;
  • Providencie água potável para as comunidades que são forçadas a consumir água de poços contaminados;
Além disso, o Greenpeace e as organizações de sobreviventes exigem que governos assinem tratados internacionais para responsabilizar as empresas criminal e financeiramente pelos desastres industriais e pela poluição resultante.

Os detalhes:
  • Bhopal, centro da Índia, 3 de dezembro de 1984. Um local e data que fazem a gente ter dois sentimentos distintos.O primeiro é de tristeza em saber que quase 4 mil morreram neste dia por causa de um acidente em uma indústria química. 
Somado-se as 20 mil vítimas fatais posteriores, além das 500.000 mil pessoas que sofreram injúrias por causa do gás, estes números fizeram deste episódio o mais terrível na história da indústria química. 
  • O segundo sentimento é de justiça, pois a negligência de meia dúzia de funcionários e dos donos da indústria fez milhares de pessoas vítimas do "gás da morte‟. Vejamos como foi esta história e qual foi seu desfecho.
A cidade de Bhopal fica a beira de um grande lago, quase no centro da Índia. Com mais de um milhão de habitantes na época, era um lugar agitado e cheio de vida. Mas na noite de domingo do dia 2 para a segunda-feira do dia 3 de dezembro de 1984, esta cidade seria o cenário de uma tragédia sem precedentes. 
  • Estima-se que pelo menos quatro mil pessoas tenham morrido (muitas enquanto dormiam) devido a um vazamento de gás venenoso, o metil isocianato (MIC). 
O acidente foi resultado da inesperada reação química deste gás com água que ocorreu nas instalações da Union Carbide, indústria química multinacional de agrotóxicos, a qual produzia condições para que houvesse alimentos para uma Índia em plena expansão populacional nas décadas de 60 e 70. 
  • O pesticida produzido pela Union Carbide era conhecido como Sevin, que agia atacando o sistema nervoso dos insetos. Sua produção envolvia substâncias muito perigosas e. na noite do dia 3 de dezembro, estas substâncias ficaram „fora de controle‟.
As razões para que ocorresse o acidente ainda hoje são controversas. Porém, várias fontes indicam a manutenção errada (limpeza) dos canos que conduziam a matéria prima para síntese do Sevin o fator inicial do acidente. Como na preparação de um bolo, a indústria química possuía os ingredientes que, quando misturados na proporção certa, resultam no pesticida. O gás fosgênio era um destes ingredientes. Extremamente letal, foi utilizado nas guerras mundiais.
  • Mas o fosgênio era apenas um dos componentes e, devido a sua periculosidade, era armazenado em quantidades suficientes para a síntese de curtos períodos de produção. Outros componentes eram utilizados, em especial o MIC, o qual, ao contrário do fosgênio, era armazenado em vários tanques pressurizados, cada um com capacidade para 42 toneladas de gás liquefeito, capazes de matar milhares de pessoas caso algo desse errado. 
O MIC é usualmente sintetizado a partir de metilamina e fosgênio. Em seguida, MIC reage com naftol para formar o inseticida conhecido como Sevin, o qual foi introduzido no mercado em 1958. 
  • Em 1984, a indústria funcionava apenas com um quarto da capacidade total de produção devido a diminuição da demanda deste pesticida e o surgimento de concorrentes mais eficientes. A intenção da fábrica era fechar a filial, mas pressões governamentais solicitaram o seu funcionamento. Com redução de pessoal e procedimentos de manutenção falhos, a empresa continuou a operar.
Voltando ao acidente, durante a etapa de manutenção, a adição de água promoveu o entupimento dos canos, em virtude da sujeita que acumulou-se com a lavagem. Com isto, a água começou a fazer o caminho inverso que deveria. Devido a alta reatividade do MIC, a interação entre os dois líquidos seria altamente perigosa.
  • Caso alguém inalar baixas concentrações de MIC, esta pessoa vai ser afetada primeiramente nas partes úmidas do corpo, como os olhos, a boca e as vias respiratórias superiores.Em altas concentrações, o MIC chega no pulmão e o danifica, fazendo-o sangrar provocando asfixia com o próprio sangue, mecanismo semelhante com que o fosgênio faz como gás de guerra.
Pelo planejamento da empresa, deveria existir um impedimento da entrada de água no tanque. Mas este foi apenas um dos inúmeros pontos falhos de segurança que a indústria química Union Carbide cometeu. A tragédia teve início quando 35 toneladas de MIC reagiram com água e vaporizaram.
  • Mas somente isto não causaria a morte de milhares de indianos. Uma incrível combinação de falhas ocasionou a tragédia. Por exemplo, antes da limpeza dos canos, um procedimento de segurança adequado é isolar uma seção para que a água não possa fluir para dentro dos compartimentos com as substâncias perigosas.
Este procedimento, que demora cerca de duas hora para ser executado, foi ignorado pelos funcionários da Union Carbide, os quais fizeram a lavagem dos canos sem isolá-los das demais seções.
  • Mesmo com a entrada de água, o acidente poderia ser evitado. Porém, os medidores de pressão da válvula que ligava os canos aos tanques de reservatório estavam com defeito. Pior, a válvula estava com vazamento e, se gás saia, água poderia entrar. 
E entrou. Um dos produtos da reação do MIC com a água é o dióxido de carbono, além de muito calor (papo de cientista: reação exotérmica). Então, temos um ciclo auto consistente: quando mais calor é gerado, mais rápida é a reação e, quanto mais rápida, mais calor é liberado. Isto em química é conhecido como princípio Le Chatelier.
  • Mas ainda sim o acidente poderia ter sido evitado. Os tanques possuíam um sistema de resfriamento, mas este estava desligado desde o mês de maio daquele fatídico ano. Com o aquecimento, uma reação secundária de junção de três moléculas de MIC (papo de cientista: trimerização), etapa que gera uma molécula estável e mais calor. 
Com tanta pressão sendo gerada, a válvula explodiu e o gás produzido começou a fluir pela tubulação da indústria e depois saiu para a atmosfera. E assim começou a matança. Este poderia ser o final infeliz desta história, mas ainda tem mais.
  • Em junho deste ano (quase 26 anos depois), a corte indiana condenou oito pessoas por negligência ao não prevenirem um dos piores acidentes industriais do mundo. O juiz Mohan P. Tiwari condenou os acusados por terem “causado mortes por negligência” e por “homicídio culposo, sem intenção de matar”. Deverão ficar dois anos na prisão.
Apesar de ser pouco provável, esta história tem um lado positivo. Juntando-se a acidentes de menor escala na década de 70 até o ponto culminante do desastre em Bhopal, houve modificações na regulamentação internacional sobre acidentes químicos. Infelizmente, para aprender as lições, os responsáveis pelas normas de segurança precisaram esperar milhares de mortes para tomar uma atitude.

Bhopal: O Maior Acidente Químico da História