quarta-feira, 15 de abril de 2015

Economia dos recursos naturais

Não é novidade que a construção civil é uma das grandes responsáveis pelos impactos no meio ambiente - segundo pesquisas, sozinha, ela consome cerca de 75% dos insumos naturais do planeta. Mas o que tem sido feito, de fato, para reduzir esses efeitos?

  • A economia dos recursos naturais se alicerça na teoria neoclássica e nela promove algumas mudanças na forma de entender e tratar a economia e o meio ambiente, mas, de modo geral, os axiomas equilíbrio de mercado, preferência do consumidor e bem-estar permanecem inalterados. 
Embora os economistas neoclássicos reconheçam que o meio ambiente tem suas limitações, compreendem que o importante é o capital total, ou seja, quer sob a forma de produto do homem (capital manufaturado) ou sob a forma natural, é preciso preservá-lo e/ou expandi-lo. Significa que a preocupação da economia dos recursos naturais é perpetuar o padrão de bem-estar da sociedade, através do capital total, para as gerações futuras, demonstrando que, embora a natureza seja importância, na maioria dos casos, pode ser substituída pelo capital manufaturado, tendo em vista o aporte tecnológico e sua capacidade de superar qualquer entrave do sistema.
  • No caso específico dos recursos naturais renováveis, estes economistas entendem que, se no processo de exploração forem destruídas as condições ecológicas que permitem a regeneração natural, então, de acordo com Margulis (1990, p.156), esses possivelmente tornam-se exauríveis. 
Por isso, os neoclássicos admitem que o meio ambiente não pode continuar a ser entendido como ilimitado, pois, independentemente de toda tecnologia existente, a natureza acaba sendo afetada em sua capacidade de absorção e regeneração pelas atividades econômicas, ao ser utilizada como insumo e, principalmente, como depósito dos rejeitos desse processo. Sobre o assunto escreve Margulis (1990, p.157):
sempre que se fala na “crise ambiental” inclui-se a questão do aproveitamento dos recursos naturais. Em uma primeira análise isto é evidente, na medida em que tais recursos são afetados pelas atividades econômicas do homem com insumos, mas principalmente como depositários dos rejeitos destas atividades. Aí se enquadram as águas, o ar, os solos e o subsolo, as florestas naturais com sua fauna e flora, os oceanos, as regiões costeiras etc. Além do desgaste ou contaminação diretos que podem ser causados, registram-se os efeitos sobre as capacidades de absorção e regeneração destes recursos.
A economia dos recursos naturais entende que os problemas ambientais decorrem da forma como esses recursos são utilizados e, por conta desse entendimento, efetua uma análise custo-benefício do meio ambiente para a partir dela estabelecer formas de atingir a maximização do bem-estar social e promover, concomitantemente, a perpetuação do meio ambiente, através da conservação do capital natural (relativo). Para tanto, defende que a propriedade comum do meio ambiente tende a tornar os recursos renováveis escassos, pois o livre acesso, sem ônus, intensifica o uso e agrava o custo social. E, se aumenta o custo social, diminui o benefício percebido. 
  • Tal fato comprova que a utilização desses recursos não deve ser desordenada. É preciso que haja um consumo sustentável. Para tal, a economia dos recursos naturais admite estratégias ótimas de utilização que promovam sua administração e conservação. Procura, assim, definir um ótimo econômico de utilização do recurso, ou seja, mostra como efetuar o uso socialmente justo do recurso.
Admitindo que todo agente econômico visa maximizar lucro e o sistema econômico busca maximizar a satisfação, o Gráfico 1 mostra que ao longo da curva (Gx) a capacidade do sistema em proporcionar o bem-estar vai se alterando. Verifica-se que no início (ponto 0) o recurso se apresenta em grandes quantidades e o crescimento ocorre a taxas positivas; no entanto, esse crescimento não é indefinido. Há um ponto em que a capacidade do recurso chega no limite de exploração e qualquer crescimento adicional fará com que não apresente a mesma capacidade de reposição e regeneração. 
  • Esse é o ponto XPMS, o ponto de inflexão da curva (Ponto em que o crescimento é máximo) e é chamado de Produção Máxima Sustentável (PMS). O ponto em que o crescimento potencial é máximo é o ponto Xc. Nele os recursos já estão plenamente usados. Nesse caso, o ótimo econômico é aquele em que o crescimento é positivo e sustentável e é inferior ao de uso total do recurso.
Especificamente, a utilização ótima do recurso ocorre no ponto XPMS, pois nele maximiza o lucro considerando a vida futura do recurso, ou seja, a utilização ótima é aquela em que a produtividade marginal é igual ao custo marginal (MARGULIS, 1990, p. 167-168).
  • A economia dos recursos naturais entende que a maximização da satisfação individual, no uso dos recursos renováveis, leva a seu esgotamento e com ele não há como se almejar a perpetuação do padrão de consumo e de satisfação, mostrando que, se for mantido esse comportamento, a tendência é exaurir o recurso. Para mudar esse padrão, que tende a disseminar a poluição e a degradação, defende a introdução de leis coercitivas e dispositivos taxativos que revertam o quadro e mostrem que o custo de evitar o desperdício e de purificar os detritos é menor que o de sobrecarregar e esgotar o meio ambiente. 
Aqui começa a valoração dos recursos naturais, pois embora permaneçam sem ter preço estipulado em mercado já se evidencia a necessidade de adoção de alguma forma de pagamento que imponha limite ao uso dos recursos, como o Princípio do Poluidor-Pagador (PPP) e o de disposição a pagar, em que, de modo geral, “a economia dos recursos naturais busca promover a melhoria da qualidade ambiental e, quando não for possível, uma compensação por sua deterioração” (MARGULIS, 1990, p. 159).
  • Chega-se à conclusão de que a economia dos recursos naturais reconhece as limitações do meio ambiente, no entanto o patrimônio natural ainda é visto, unicamente, como provedor de matérias-primas, de maneira que a preocupação com o ambiente natural existe, mas é subjacente ao objetivo maior da teoria neoclássica que é o de manter, e se possível ampliar, o padrão de bem-estar da sociedade, para si e para as gerações futuras.
Tal característica demonstra que na realidade, embora a economia dos recursos naturais incorpore a variável ambiental em seu escopo teórico, ainda não considera a integração entre economia e ecologia, como descrita por Cavalcanti (2001, p.68):
A realidade da economia não pode estar dissociada, pois, do que acontece no meio ambiente. Antes, regula-se inteiramente pelos mesmos princípios que governam o ecossistema, precisando deste para as necessidades de um elenco de serviços ecológicos providos pela natureza – desde a regulação dos ciclos hidrológicos, feita pelas florestas, à filtração de poluentes, efetuada pelos pântanos, à ação microbiana no solo, etc.
Assim, se economia e ecologia estão interligadas e integradas, então, de acordo com a análise de Pearce, Markandya e Barbier (1991, p.28):
O desenvolvimento sustentável tem como alvo principal, a busca por uma trajetória de progresso econômico que não danifique o bem-estar das gerações futuras [...] o papel de manter a qualidade ambiental neste processo de progresso econômico sustentável deve ser mais consistente do que no passado. (tradução livre)
Por conta disto, Daly (1991, p.7) afirma que é preciso uma nova visão de mundo em que a economia seja visualizada como um subsistema aberto dentro de um ecossistema natural finito, que possui uma determinada capacidade de regeneração daquilo que é extraído, aliada à capacidade de absorção dos rejeitos. A nova visão de mundo almejada por Daly (op. cit.) surge no escopo da economia ecológica, pois essa reconhece que a biodiversidade, os recursos naturais e os serviços ambientais têm funções econômicas e valores econômicos positivos. 
  • Ter a idéia de quanto vale o ambiente natural e incluir esses valores na análise econômica é, pelo menos, uma tentativa de se conhecer e corrigir as tendências negativas de atuação do homem no meio ambiente, pois continuar a tratar os recursos naturais como bem comum, com preço zero, significa arriscar-se a exauri-los, ou manejá-los insustentavelmente. A importância de valorar corretamente o ambiente natural e integrar esses valores às políticas econômicas assegura um melhor uso e uma melhor alocação dos recursos naturais, objetivo maior da economia ecológica, que será tratada no próximo item.

Desperdício de água é um fato que vem sendo visto com maus olhos no mundo atual, onde a utilização sustentável e economia dos recursos naturais está em alta.

Economia ecológica:
  • Quanto vale a água limpa ou o ar puro? Para um mundo capitalista, fundamentado na teoria neoclássica, nenhum serviço ambiental tem valor econômico, sobretudo porque são oriundos dos ecossistemas naturais. 
Constanza (1991), em seu livro sobre economia ecológica, ao contrário, afirma que os habitantes da Terra "devem" ao planeta algo em torno de 33 trilhões de dólares por ano, pelo uso "gratuito" dos recursos naturais, como o ar, a água dos rios e oceanos e até as rochas. Afirma ainda que:
[...] as economias da Terra entrariam em colapso sem os "serviços" de apoio à vida prestados pelos ecossistemas. As florestas, por exemplo, fornecem 140 dólares por 10 mil metros quadrados por ano, em termos de regulação dos gases atmosféricos. Oferecem, ainda regulagem climática, regulagem das águas, formação e controle de erosão do solo, nutrientes, tratamento de resíduos, controle biológico, lazer e cultura, a uma taxa de 900 dólares por 10 mil metros quadrados/ano.
O que se verifica, de acordo com Marques e Comune (2001, p.23), é que o ambiente e o sistema econômico interagem, quer através dos impactos que o sistema econômico provoca no ambiente, quer através do impacto que os recursos naturais causam na economia. Os serviços ambientais devem ser computados de forma que se possa estruturar sobre esses valores uma nova economia mais sustentável e de longo prazo, a economia ecológica. Fica claro, então, que a economia ecológica, ao contrário da economia dos recursos naturais, percebe que a proteção do bem-estar das gerações futuras depende de reunir e integrar economia e ecologia. May (2001, p.58), ao tratar sobre a economia ecológica, afirma que:
A economia ecológica procura uma abordagem contra as catástrofes ambientais iminentes pregando a conservação dos recursos naturais mediante uma ótica que adequadamente considere as necessidades potenciais das gerações futuras. Essa abordagem pressupõe que os limites ao crescimento fundamentados na escassez dos recursos naturais e sua capacidade de suporte são reais e não necessariamente superáveis por meio do progresso tecnológico. Isto significa que ao lado dos mecanismos tradicionais de alocação e distribuição geralmente aceitos na análise econômica, a economia ecológica acrescenta o conceito de escala, no que se refere ao volume físico de matéria e energia que é convertido e absorvido nos processos entrópicos da expansão econômica.
Para a economia ecológica, o crescimento econômico só se torna possível, de acordo com Begossi (2001, p.49), se houver:
  • Eficiência, de forma a garantir o máximo produtivo e social;
  • Estabilidade e resiliência, entendidas como a capacidade de se adaptar a mudanças (inovações) e de se acomodar a choques e perturbações;
  • Equitabilidade, entendida como a capacidade de distribuir os recursos entre seus membros, em que a existência de regras e de instituições locais deve garantir parte da eficiência do sistema.
No entanto, considerando que os recursos naturais não se distribuem igualitariamente pelo planeta e que eficiência, estabilidade, resiliência e equitabilidade dependem tanto da diversidade da natureza, quanto da diversidade das culturas e da tecnologia utilizada para produzir, os economistas ecológicos concluem que a eficiência da atividade econômica se encontra na ineficiência do sistema em considerar o impacto gerado ao meio ambiente. Essa ineficiência ocorre porque a dimensão ecológica, da atividade econômica, é entendida como fora do alcance de controle da ciência econômica, em que os preços de mercado não captam referida dimensão. Nesse contexto, a ineficiência ecológica cresce em conjunto com o incremento produtivo. Para reverter esse quadro, de acordo com Marques e Comune (2001, p.25):
[...] torna-se necessário que os bens e serviços ambientais sejam incorporados à contabilidade econômica dos países. O primeiro passo é o de atribuir aos bens e serviços ambientais valores comparáveis àqueles atribuídos aos bens e serviços econômicos produzidos pelo homem e transacionados no mercado.
Os autores ressaltam ainda que ao definir um complexo sistema de valoração econômica dos recursos ambientais estes passariam a ter preços estabelecidos, susceptíveis de variações e estas seriam benéficas, pois atuariam no sentido de evitar o desperdício dos recursos naturais em via de esgotamento relativo. 
  • Deste modo, o objetivo da economia ecológica é o desenvolvimento sustentável e este, conforme Pearce e Turner (1991), envolve a maximização dos benefícios líquidos do desenvolvimento econômico, sujeito a manter os serviços e qualidade dos recursos naturais ao longo do tempo, pois se algo é proporcionado a preço zero, sua demanda será maior do que se tivesse um preço positivo e esta pode ultrapassar a capacidade do ecossistema de sustentá-las.
Verifica-se que existem duas vertentes metodológicas principais, de acordo com May (1995), que têm norteado a utilização da economia ecológica como instrumento no processo decisório, que são:
  • Expandir as fronteiras da análise tradicional de custo-benefício, buscando uma quantificação das interações entre a atividade econômica e as funções ecológicas, utilizando métodos de valoração ambiental;
  • Estabelecer limites à interferência da economia nos ecossistemas naturais, reconhecendo o extenso trabalho empírico que seria necessário para expandir as fronteiras da análise de custo-benefício para incorporar a valoração ambiental de forma adequada, necessitando da participação da sociedade nas escolhas de políticas onde existam percepções diferenciadas de valores.
A citação de May (op. cit.) deixa claro que embora a economia ecológica reconheça a importância de se definir um completo sistema de valoração econômica dos recursos naturais para que o mercado possa eficientemente mensurar os custos e benefícios gerados, a forma dessa valoração ainda não é consenso, tendo em conta as incertezas e dificuldades inerentes. Assim, diferentes autores têm procurado métodos capazes de valorar o meio ambiente, mas, independemente do método concebido, de modo geral, procuram trazer à tona os valores expressos pelos indivíduos, em termos da disposição de pagar pela melhoria da qualidade ambiental (princípios do poluidor-pagador) e em termos da disposição em aceitar uma compensação pela deterioração na qualidade ambiental (princípio de disposição para pagar). Marques e Comune (2001, p. 41) ao tratarem o assunto admitem que:
Diferentes autores classificam os métodos de valoração ambiental de diversas formas, porém, em termos gerais, a divisão não foge às seguintes categorias:
  • Métodos que se utilizam das informações de mercado, obtidas direta ou indiretamente e os mais empregados são: apreçamento hedônico ou valor de propriedade, salários e despesas com produtos semelhantes ou substitutos; 
  • Métodos que se baseiam no estado das preferências que, na ausência do mercado, é averiguado através de questionários ou das contribuições financeiras individuais ou institucionais feitas aos órgãos responsáveis pela preservação ambiental;
  • Métodos que procuram identificar as alterações na qualidade ambiental, devido aos danos observados no ambiente natural ou construído pelo homem e na própria saúde humana; são chamados de dose-resposta.
Isso prova que, independentemente do método utilizado, a economia ecológica deve ser capaz de valorar o meio ambiente de forma que essa valoração permita que a contabilidade nacional dos países possa mensurá-los como um capital em sua totalidade. Motta (1998, p.26) afirma:
[...] a tarefa de valorar economicamente um recurso ambiental consiste em determinar quanto melhor ou pior estará o bem-estar das pessoas devido a mudanças na quantidade de bens e serviços ambientais, seja na apropriação por uso ou não. Dessa forma, os melhores métodos de valoração ambiental corresponderão a este objetivo à medida que forem capazes de captar estas distintas parcelas de valor econômico do recurso ambiental. 
Pode-se dizer, então, que a economia ecológica defronta-se com dois grandes desafios, expressos por Ehrlich (apud Begossi, 2001, p.46):
  • O educacional, e
  • O estabelecimento de uma sociedade sustentável, onde, antecipadamente, é preciso:
  • Adaptar a teoria de alocação dos recursos, para selecionar os inputs e outputs físicos e biológicos ao sistema econômico;
  • Incorporar o valor dos serviços provenientes do funcionamento dos ecossistemas aos cálculos econômicos;
  • Incluir os conceitos de equidade e energia em indicadores de eficiência econômica;
  • Incluir os fatores ambientais na contabilidade nacional.
A economia ecológica procura preservar a natureza, em sua integralidade, sendo que essa em hipótese nenhuma pode ser substituída por qualquer outro produto elaborado pelo homem. Defende, então, que a preservação e a conservação da biodiversidade perpassam pela proteção de bens tangíveis básicos para a subsistência do homem, como alimentos e plantas medicinais, passando por serviços ecossistêmicos, que apoiam todas as atividades humanas, culminando com valores de utilidade simbólica, como as paisagens, todos de interesse e que devem ser legados às gerações futuras. Ao tratar sobre o assunto, Denardin & Sulzbach (2002, p. 4) afirmam que:
A economia ecológica promove uma revisão na forma de perceber as relações existentes entre homem e natureza, onde a economia é um sistema aberto inserido num amplo ecossistema que tem o capital natural como único provedor de serviços ecossistêmicos, os quais não podem ser substituídos pelo capital manufaturado. Na visão da economia ecológica o capital natural e o manufaturado são complementares e impõem limites ao crescimento econômico através da escassez dos recursos. Para que a escala de crescimento econômico se perpetue é necessário investir no capital natural de forma que o total existente se conserve, ao mesmo tempo em que se expande o capital cultivado aumentando, conjuntamente, a eficiência no uso dos recursos naturais.
Tendo em conta a revisão promovida, pela economia ecológica, nas relações existentes entre homem e natureza, Constanza (1991, p.3) mostra que:
A economia ecológica (EE) difere da economia convencional e da ecologia convencional nos termos da dimensão de sua percepção do problema, e da importância às interações do ambiente e da economia a ele inerente. Examina com um ponto de vista mais amplo, com maior rigor e mais profundamente nos termos do espaço, da época e das partes do sistema a ser estudado. (tradução livre)
A economia ecológica difere da economia convencional por destacar a importância e o valor dos recursos naturais para o sistema econômico. Assim como, objetiva congregar a economia e a ecologia, o que lhe permite ser mais sustentável do que a economia convencional. Sobre o assunto Denardin & Sulzbach (2002, p. 5) afirmam ainda que:
Dado que a economia neoclássica e a economia ecológica têm argumentos contrários quanto à perspectiva do capital natural, implica dizer que quanto à sustentabilidade (ecológica) existem duas posições em relação ao capital natural: a fraca e a forte. Na concepção da sustentabilidade fraca, uma economia é reconhecida como sustentável quando o estoque de capital permanece inalterado ou cresce, mesmo quando o estoque de capital natural diminui, pois sua utilização, com certeza, proporciona o aumento do estoque de capital manufaturado de forma que este substitui o natural. Pela concepção da economia ecológica, que apregoa a sustentabilidade forte, enfatiza-se que em primeiro lugar é preciso verificar a capacidade de suporte do planeta, depois a distribuição equitativa dos recursos, para, finalmente, tratar da realocação entre os indivíduos, através do mercado, via formação de preços, para tanto, os serviços ambientais e o capital natural já estão valorados de forma a permitir sua troca em mercados.
A economia ecológica corresponde a uma nova visão de um velho desafio: o desenvolvimento. Nessa nova ótica, a noção de desenvolvimento, por muito tempo identificado ao progresso econômico, extrapola o domínio da economia através da sua integração com a dimensão ambiental, apoiando-se em novos paradigmas que integram, de acordo com Constanza (1997), a economia convencional e a ecologia convencional, além das ligações atualmente existentes: a economia dos recursos naturais e ambiente e a avaliação de impacto ambiental. A economia ecológica é um novo paradigma que, de acordo com Capra (1996, p.25):
Pode ser chamado de uma visão de um mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica, se o termo “ecológica” for empregado num sentido mais amplo e mais profundo que o usual. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência fundamental de todos os fenômenos, e o fato de que, enquanto indivíduo e sociedades, estamos todos encaixados nos processos cíclicos da natureza (e, em última análise, somos dependentes desses processos).
A economia ecológica está se consolidando como uma nova visão de mundo em que a humanidade busca a sustentabilidade seja ela econômica, social, espacial, cultural e, ecológica, na qual a teoria econômica deixa de ser centrada no bem-estar presente e pessoal e passa a se preocupar com o legado das gerações futuras. Com essa percepção e consciência defende como uma de suas premissas a necessidade de valoração dos recursos naturais como forma de racionalizar seu uso e ainda para que tenham sua importância econômica reconhecida dentro do sistema produtivo, pois o reconhecimento da finitude dos recursos naturais fez entender que sistema econômico e sistema natural formam um conjunto harmônico que requer parcimônia e equilíbrio para manutenção dos recursos e da vida. Nesse sentido, de acordo com Marques & Comune (2001, p.23):
A necessidade de conceituar o valor econômico do meio ambiente, bem como de desenvolver técnicas para estimar este valor, surge, basicamente, do fato incontestável de que a maioria dos bens e serviços ambientais e das funções providas ao homem pelo ambiente não é transacionada pelo mercado. Pode-se, inclusive, ponderar que a necessidade de estimar valores para os ativos ambientais atende às necessidades da adoção de medidas que visem à utilização sustentável do recurso.
“A evidente degradação dos recursos hídricos e do ar é uma prova incontestável da necessidade de valoração” (MARQUES & COMUNE, 2001, p.24). Assim, valorar os recursos naturais, de acordo os preceitos da economia ecológica, significa integrar economia e ecologia, de maneira que essa junção e valoração, associadas às políticas econômicas, assegurem o uso racional e uma melhor alocação dos recursos naturais, por meio de uma gestão mais eficaz e eficiente desses recursos.

Outras Considerações:
  • O homem, através do tempo, sempre entendeu que os recursos naturais eram ilimitados e poderiam ser usados indefinidamente sem necessidade de pagamento ou de cuidado. Nesse contexto, tanto os economistas clássicos como os neoclássicos avaliavam os recursos naturais como um bem comum, sem preço estipulado em mercado. Ressalte-se que, embora esta seja uma grande semelhança entre o pensamento clássico e neoclássico, esses divergem quanto à formação de valor. Para os economistas clássicos, os bens têm valor quando apresentam valor de uso e valor de troca. Os economistas neoclássicos, ao contrário, entendem que o valor de um bem se sustenta na sua utilidade e escassez. Percebe-se que, para ambas as escolas do pensamento econômico, os recursos naturais, de modo geral, não têm valor e nem preço estipulado em mercado, não sendo caracterizados como bem econômico e nem como capazes de gerar riqueza.
Essa percepção fez com que, hoje, a natureza esteja próxima a um ponto de exaustão. Em se mantendo esse contexto, alguns recursos naturais, sejam eles renováveis ou exauríveis, podem vir a se extinguir ou a se tornar impróprios para utilização. Para tentar impedir esse quadro de apropriação indébita da natureza, surge uma nova concepção de desenvolvimento, denominada de desenvolvimento sustentável, que objetiva criar um modelo econômico capaz de gerar riqueza e bem-estar sem destruir o meio ambiente, o qual mostra que é vital preservar os recursos naturais para as gerações futuras.
  • Na teoria econômica, despontam duas novas vertentes: a economia dos recursos naturais, que promove um ajuste na economia neoclássica, mas por estar preocupada com o bem-estar social e ainda “defender” os axiomas de referida escola, acredita que é preciso preservar os recursos totais à posteridade, independentemente, se esses estão sobre a forma de recurso natural ou de produto manufaturado; E a economia ecológica, que, ao contrário, entende que os recursos naturais são essenciais à vida na Terra e, por isso, o homem deve não só preservá-los, como pagar pelo seu uso, assim como tem por obrigação recuperar o que já devastou. Por conta disso, a economia ecológica busca valorar os recursos naturais e serviços ambientais para que o homem possa incorporá-los a sua contabilidade nacional e, com isso, possibilite, correta e coerentemente, avaliar o quanto esses são importantes para a economia dos países.
Assim, uma vez que sustentabilidade implica manter o meio ambiente, ambas as teorias têm o mesmo objetivo, mas esse é alcançado de forma diversa, ou seja, enquanto a economia dos recursos naturais promove a manutenção e ampliação do capital total, mesmo que esse esteja sobre a forma de produto manufaturado, a economia ecológica, antagonicamente, procura manter e ampliar o estoque de recursos naturais. Verifica-se, então, a existência de duas posições quanto à sustentabilidade; a fraca e a forte. 
  • Pela primeira concepção, uma economia é reconhecida como sustentável quando o estoque de capital permanece inalterado ou cresce, mesmo que a escassez de recursos naturais se intensifique, pois sua utilização, com certeza, proporciona o aumento do estoque de produto manufaturado, de forma que esse substitui o natural. Pela segunda concepção, é preciso, em primeiro lugar, verificar a capacidade de suporte do planeta, depois a distribuição equitativa dos recursos, para, finalmente, tratar da realocação entre os indivíduos, através do mercado, via formação de preços. Para tanto, os serviços ambientais e os recursos naturais são valorados de forma a permitir sua troca em mercados, mas, independentemente de qualquer situação, estabelecem que há que se manter ou ampliar o estoque de recursos naturais.
Dessa forma, além de a economia ter incorporado a variável ambiental em seu escopo teórico, tem mostrado qual é o “caminho” que os países devem trilhar, para evitar a escassez de recursos naturais e promover a valoração de seu próprio meio ambiente de maneira que esse seja propulsor do crescimento, ao entender que hoje o desenvolvimento sustentável é uma oportunidade que se for estrategicamente planejada pode alavancar negócios e a balança comercial de qualquer localidade que dele souber tirar proveito, considerando as gerações futuras.

O telhado verde ainda é benéfico para ajudar a diminuir problemas graves como o aquecimento global e as enchentes nas cidades.