terça-feira, 7 de abril de 2015

Substâncias Químicas a Saúde e o Meio Ambiente

O relatório Panorama Global de Químicos, lançado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), chama atenção para custos bilionários decorrentes da má gestão de produtos químicos e os riscos para a saúde humana e o meio ambiente.

  • Substâncias químicas estão presentes em toda parte e em todos os compartimentos ambientais, assim como as plantas ou a água. Toda matéria é constituída por substâncias químicas, inclusive nossos alimentos, bebidas, roupas, medicamentos, plantas e nós mesmos. 
Apesar de se acreditar que uma substância que se apresente “naturalmente” no ambiente seja inofensiva, em algumas situações isso não ocorre. De fato, algumas substâncias de ocorrência natural, ou seus derivados, podem ser tão nocivas ao homem e ao ambiente quanto as produzidas pelo homem (sintéticas), como: pesticidas, drogas terapêuticas e solventes usados na indústria. 
  • A natureza é capaz de produzir uma vasta lista de substâncias químicas tóxicas. Além disso, o ambiente natural pode apresentar diversos outros fatores de risco aos humanos, como a radiação, bactérias, fungos, vírus, plantas e certos gases.
Podem-se citar diversas substâncias químicas que ocorrem naturalmente e têm como resultado efeitos adversos à saúde humana. A seguir, algumas delas estão descritas e incluem: fluoreto, arsênio, contaminantes naturais de alimentos, como micotoxinas e toxinas produzidas por bactérias encontradas em alimentos. Embora esta lista certamente não esteja completa, vários estudos de caso podem ajudar a ilustrar por que algumas vezes substâncias químicas naturais podem ser tão danosas à saúde quanto as sintéticas.

Fontes de substâncias tóxicas:
  • Como substâncias químicas são encontradas em toda parte, há várias fontes de substâncias tóxicas, como: ar, água, alimentos, ambiente de trabalho, medicamentos, pesticidas, solventes, hidrocarbonetos naturais e produtos de sua combustão, cosméticos, toxinas que ocorrem naturalmente (micotoxinas, toxinas microbianas, vegetais e animais). 
As pessoas também podem estar expostas a outros poluentes ambientais, como asbesto (ou amianto), monóxido de carbono, fumaça de cigarro, chumbo, mercúrio, microondas, campos eletromagnéticos, ozônio, chuva ácida e compostos orgânicos voláteis, para citarmos alguns. Substâncias que ocorrem naturalmente no ambiente:

Fluoreto:
Os fluoretos ocorrem naturalmente em: (I) água, (II) solo, (III) ar e (IV) alimentos:
  • Os fluoretos estão presentes na água de lagos, poços e rios, normalmente em níveis inferiores a 0,5 mg L-1, apesar de já terem sido registradas concentrações da ordem de 95 mg L-1 na Tanzânia. Águas com alta concentração de fluoreto são em geral encontradas aos pés de montanhas e em áreas com deposição geológica de origem marinha. 
Exemplos típicos são as faixas geográficas desde a Síria, passando pela Jordânia, até o Egito, Líbia, Argélia e Marrocos e do Vale Rift até o Sudão e o Quênia. Outra região com essa característica é a que se estende da Turquia através do Iraque, Irã e Afeganistão até a Índia, o norte da Tailândia e da China. 
  • A maior concentração natural de fluoreto já encontrada em água foi registrada no lago Nakuru no vale Rift, no Quênia – 2.800 mg L-1.A água potável é com freqüência a principal fonte natural de exposição a fluoreto e apresenta uma questão interessante. Estudos têm mostrado que a exposição a fluoreto através de água potável em níveis de 0,5 a 1,0 mg L-1 é benéfica à saúde e reduz a incidência de cáries. Entretanto, a exposição excessiva a fluoreto pode causar fluorose dental. 
A fluorose dental é caracterizada por manchar, escurecer e corroer o esmalte dos dentes, que podem apresentar uma coloração amarela a marrom-escuro. A exposição prolongada a fluoreto em água potável em níveis não usuais (acima de 10 mg L-1) tem resultado em fluorose esquelética na China, Índia e África do Sul. Essa condição é freqüentemente complicada por fatores como deficiência de cálcio ou desnutrição.
  • Os minerais com maior conteúdo de fluoreto são: fluorita, criolita e apatita. Rochas vulcânicas, assim como depósitos de sal marinho, podem conter grandes quantidades de fluoreto. Rochas de fosfato podem conter acima de 4% de fluoreto, que pode ser liberado na atmosfera.
Os fluoretos podem ser encontrados no ar, provenientes de poeira de solo rico neste íon e de gases emitidos nas áreas de atividade vulcânica. Apesar de não ser uma fonte natural, emissões de fluoreto das indústrias produtoras de fertilizantes fosfatados e de fabricação de tijolos também contribuem para a alta concentração de fluoreto no ar, que pode resultar em aumento da exposição humana a fluoretos.
  • Certas plantas, como mandioca (Manihot esculenta e Manihot dulcis), inhame (Dioscorea), cará (Colocasia esculenta), que constituem a base da dieta em muitas regiões tropicais, particularmente na América do Sul e no Pacífico, apresentam níveis relativamente altos de fluoretos. Folhas de chá também podem conter altos níveis de fluoreto. Produtos de peixe, em particular os enlatados, como as sardinhas, que possuem ossos que também são comestíveis, chegam a apresentar 40 mg kg-1 de fluoreto.
Arsênio:
  • Como várias outras substâncias químicas, a exposição a arsênio ocorre por fontes naturais, industriais e agrícolas. O arsênio é um elemento largamente distribuído na crosta terrestre, e está presente em mais de 150 minerais. É encontrado em rochas usadas na extração de vários metais, como ouro, chumbo, cobre, estanho e zinco. 
O arsênio é liberado na atmosfera como produto secundário da fundição inicial de minérios não ferrosos, por processos de produção de pesticidas e de fornos para produção de vidros. Como os compostos de arsênio são algumas vezes usados como pesticidas, poeira e gases emitidos por máquinas de beneficiamento de algodão e tabaco podem conter arsênio. 
  • A exposição ocupacional de maior intensidade a arsênio ocorre na fundição de metais não-ferrosos, em que minérios contendo arsênio são comumente usados. Estima-se que 1,5 milhão de trabalhadores em todo o mundo estejam potencialmente expostos a compostos de arsênio inorgânico produzido dessa forma.
O arsênio ocorre de forma disseminada em águas naturais. Fontes naturais de arsênio em água doce incluem a erosão de rochas superficiais e vulcânicas. Em águas minerais têm sido encontrados até 14 mg L-1 de arsênio. O arsênio também pode chegar aos corpos d´água por efluentes industriais.
  • Os organismos marinhos são expostos somente a níveis baixos de arsênio encontrados no mar. Entretanto, apresentam as mais altas concentrações de arsênio de todos os animais (0,01-200 mg kg-1). Os crustáceos, como camarão grande (pitu), mexilhões e vieiras, geralmente têm as mais altas concentrações de arsênio. 
Os níveis de arsênio em diversas espécies de peixes variam de 0,2 a 70 mg kg-1. Porém, o arsênio presente em organismos aquáticos está na forma de compostos organo-arseniais que, ao contrário das formas inorgânicas, não são tóxicos ao homem. A água potável é uma importante fonte de exposição a arsênio. Concentrações de arsênio são geralmente mais altas em águas subterrâneas.
  • A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda 0,01 mg L-1 como limite provisório de arsênio em água potável. Alguns exemplos de concentrações de arsênio, encontradas em águas de poço e superficiais, estão sumarizados a seguir.
Água subterrânea:
  • Taiwan até 1,8 mg L-1
  • Hungria > 0,1 mg L-1
  • Índia > 0,05 mg L-1
  • México > 0,4 mg L-1
  • Estados Unidos > 0,1 mg L-1
Água superficial:
  • Chile 0,8 mg L-1
  • Argentina > 0,3 mg L-1
É interessante notar que diversos países têm níveis de arsênio em água potável que excede em duzentas vezes os valores-limite estabelecidos pela OMS.
  • Numerosos estudos indicam que a exposição crônica a arsênio em água potável pode ser prejudicial à saúde, podendo ocasionar hiperpigmentação, queratose (endurecimento da pele) e câncer de pele. Alta incidência de um distúrbio vascular periférico, conhecido como "doença dos pés pretos", tem sido encontrada na região de Taiwan e no Chile, onde altos níveis de arsênio ocorrem naturalmente em água potável. 
Nestas e em outras regiões os altos níveis de arsênio em água potável são associados ao elevado número de casos de câncer de pele. A Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) classifica o arsênio como carcinogênico a humanos.
  • Em resumo, a principal fonte de exposição a arsênio decorre de sua presença natural em água potável, o que não significa que seja seguro. Os efeitos prejudiciais à saúde têm sido bem documentados. Outros elementos ocorrem naturalmente e seus efeitos potenciais sobre a saúde humana não estão relacionados aqui.
Contaminantes naturais nos alimentos:
  • Contaminantes naturais (toxicantes) são encontrados em alimentos de origem vegetal ou animal. Incluem substâncias que ocorrem de forma natural nos alimentos independentemente de sua fonte e podem ser produzidas por plantas, fungos e bactérias. 
Como as plantas não podem escapar de seus predadores, sua melhor defesa é a produção de compostos de odor ou sabor repulsivo e toxinas. Alguns dos toxicantes encontrados naturalmente em plantas e animais estão relacionados a seguir

Toxinas bacterianas como contaminantes de alimentos:
  • Intoxicação e infecção alimentar são duas das maiores causas de doenças no mundo todo. Intoxicação alimentar ocorre quando toxinas microbianas estão presentes em alimentos que são consumidos, por exemplo, a salmonela. 
Já a infecção alimentar resulta do consumo de alimentos que contêm bactérias e podem causar doenças caso se multipliquem ou produzam toxinas no trato intestinal, como ocorre no botulismo.

Clostridium botulinum:
  • Microrganismos como os C. botulinum são também considerados contaminantes naturais de alimentos e podem causar doenças alimentares.
Uma bactéria de forma esporulada que produz uma potente neurotoxina durante seu crescimento é o mais temido dos microrganismos, os esporos são termorresistentes e podem sobreviver em alimentos processados rápida ou incorretamente. O botulismo alimentar é uma espécie grave de envenenamento causado pela ingestão de alimentos que contêm a neurotoxina, mas esta pode ser destruída se aquecida a 80 ºC por dez minutos ou mais.
  • A incidência de botulismo é baixa, mas é considerado preocupante devido à alta mortandade quando não tratado imediata e corretamente. A maioria dos casos registrados está associada a processamento inadequado e a alimentos de preparo caseiro, mas por vezes alimentos produzidos comercialmente também causam o problema. Embutidos, vegetais enlatados e frutos do mar são freqüentes veículos de transmissão de botulismo a humanos.
Clostridium botulinum e seus esporos estão largamente disseminados na natureza. Eles estão presentes tanto em solos de florestas como nos cultivados, nos sedimentos de mananciais superficiais (rios, lagos) e de águas costeiras, no trato intestinal de mamíferos e de peixes e em vísceras de caranguejos e outros crustáceos.

Botulismo alimentar em humanos:
  • O botulismo alimentar é uma doença causada por uma potente neurotoxina produzida pelo Clostridium botulinum. Os sintomas característicos incluem dor abdominal, vômito, distúrbio motor e dificuldade visual.
Em geral, os sintomas aparecem depois de 18 a 36 horas da ingestão de alimentos ou bebidas contaminados com a toxina, apesar de terem sido registrados casos em que esse tempo variou entre quatro horas e oito dias. Os primeiros sinais de intoxicação consistem em exaustão, tontura e fraqueza, seguidas por visão dupla e dificuldade progressiva em falar e engolir.
  • Outros sintomas que também podem ser observados: dificuldade em respirar, fraqueza muscular, câimbras abdominais e constipação. A toxina do botulismo causa paralisia (fraqueza dos músculos) por bloquear os terminais nervosos responsáveis pelo movimento. 
A paralisia progride no organismo de forma descendente (de cima para baixo) e simetricamente, em geral iniciando-se pelos olhos e rosto, passando para a garganta, em seguida para o tórax e finalmente para as extremidades. 
  • Quando os músculos do diafragma e do tórax estão seriamente comprometidos, torna-se impossível respirar, o que resulta em morte por asfixia. O tratamento recomendado para o botulismo alimentar inclui a administração de uma antitoxina botulínica e cuidado intensivo do indivíduo (incluindo respiração artificial).
Micotoxinas como contaminante natural de alimentos:
  • As micotoxinas de maior interesse são as encontradas tanto na alimentação de humanos quanto na de animais domésticos. Entre elas estão: os alcalóides de ergot produzidos pelo fungo Claviceps sp.; os tricotecenos produzidos por diversos gêneros de fungos, principalmente o Fusarium sp., e as aflatoxinas e produtos relacionados produzidos pelo Aspergilius sp. Micotoxinas são exemplos de contaminantes alimentares naturais, os quais têm implicações no mundo inteiro, sendo a causa de muitas mortes.
Aflatoxinas:
Fontes de aflatoxinas:
  • As aflatoxinas são substâncias tóxicas produzidas por certos fungos que se desenvolvem em plantas e sementes. As aflatoxinas são encontradas em grãos, no milho e no amendoim contaminados. Os maiores produtores de aflatoxina são os fungos: Aspergillus flavus e Aspergillus parasiticus. 
Quatro aflatoxinas (B1, B2, G1 e G2) são encontradas em plantas contaminadas com fungos. A aflatoxina B1 é a mais tóxica, normalmente encontrada em grandes concentrações em alimentos, e a maioria dos dados toxicológicos existentes sobre essa classe de micotoxinas estão relacionados a ela. 
  • As espécies de Aspergillus que produzem aflatoxinas, e a conseqüente contaminação da dieta por aflatoxinas, são comuns em regiões de clima quente e úmido, como a África subsaariana e o sudeste da Ásia. A quantidade de aflatoxinas produzida depende das condições do crescimento das plantas e é comumente alta sob condições estressantes, como estiagem ou infestações de insetos. As condições de armazenamento, como calor e umidade, influenciam o crescimento de fungos e podem levar à contaminação por aflatoxinas depois de realizada a colheita.
Exposição às aflatoxinas:
  • Como países de clima frio importam alimentos de outros países onde os níveis de aflatoxinas podem ser altos, essas toxinas passam a ser alvo de preocupação mundial. 
A exposição às aflatoxinas pode ser aguda ou crônica. Geralmente, consumidores de países que importam alimentos estão sujeitos a exposição aguda. Se os alimentos da dieta básica, como milho e arroz, estiverem contaminados com aflatoxinas e forem consumidos continuamente, a exposição será crônica.
  • Altos níveis de aflatoxinas têm sido encontrados em amendoim e grãos de cereais na África, no sudeste da Ásia e da China Meridional. Contaminação de produtos não processados comercializados nos Estados Unidos tem ocorrido periodicamente. Altos níveis de aflatoxinas têm sido encontrados em alimentos como milho, arroz, grãos de cereais, amendoim e outros.
Em geral, dados de ocorrência e de exposição a aflatoxinas estão disponíveis em países predominantemente importadores, onde existe preocupação em assegurar que as regulamentações garantam níveis de exposição relativamente baixos.
  • Para satisfazer a essas exigências, evitando que seu produto seja rejeitado e sofrer perdas econômicas, alguns países produtores comercializam internamente produtos abaixo dos padrões de qualidade, ao passo que para a exportação os padrões são altos. A exposição da população em países praticantes de tais políticas costuma ser bem alta.
Efeitos das aflatoxinas:
  • A aflatoxina B1 é um agente hepatocarcinôgeno potente e bem conhecido, que tem-se mostrado causador de câncer em animais em vários estudos experimentais. Estudos epidemiológicos encontraram forte associação entre a ingestão de aflatoxinas e a ocorrência de câncer de fígado em humanos. A IARC concluiu que há evidência suficiente para classificar misturas de aflatoxinas e aflatoxina B1 como carcinogênicas a humanos.
Prevenção na exposição humana às aflatoxinas:
  • A contaminação por aflatoxina pode ser controlada pela minimização do crescimento de fungos. Para isso, várias medidas de controle devem ser adotadas nas etapas de pré-colheita, colheita e armazenamento para evitar o crescimento de fungos e a produção de aflatoxinas. Além dessas medidas, a verificação dos grãos antes do processamento ou comercialização é uma prática importante na minimização da exposição às aflatoxinas.
Fontes industriais de substâncias químicas:
  • As indústrias são economicamente importantes para os países, empregam milhões de pessoas por todo o mundo e desempenham papel,importante em sua vida. Apesar de bem regulamentadas em alguns países, as indústrias têm sido a fonte de contaminação ambiental e humana por muitas substâncias químicas. 
É importante lembrar que as indústrias não são apenas as fábricas, mas incluem a mecanização da agricultura, navios e outras embarcações, as refinarias e plataformas de petróleo instaladas no oceano, os caminhões usados para transportar matéria-prima e as mercadorias produzidas pelas fábricas. 
  • Ainda que estejam por toda a parte e desempenhem papel importante em nossa vida, a maioria das atividades das indústrias tem potencial para gerar emissões gasosas, resíduos líquidos e sólidos, que podem conter uma variedade de poluentes químicos.
Se os procedimentos industriais adequados e todas as precauções são seguidos, a população está protegida da exposição às substâncias químicas provenientes da indústria, mas falhas podem ocorrer. Um exemplo de contaminação ambiental por substância industrial é a descarga acidental de mercúrio inorgânico, levando à subseqüente exposição humana a metilmercúrio. 
  • Exposição intensa às substâncias químicas é freqüentemente observada entre os trabalhadores que atuam em indústrias, sendo conhecida como exposição ocupacional. Não é surpresa encontrar, em alguns casos, alta incidência de doenças relacionadas a substâncias químicas provenientes do ambiente de trabalho. 
Minamata e a toxicidade do mercúrio no ambiente:
  • O mercúrio metálico é usado na indústria de cloro-álcali para a produção eletrolítica de cloreto e hidróxido de sódio. É usado na produção de equipamentos elétricos e científicos e ainda como catalisador para reações químicas e em termômetros. 
A substância prateada que se vê nos termômetros é um elemento relativamente comum na natureza. Cientistas estimam que a cada ano a Terra libere naturalmente 30 mil toneladas de mercúrio; os efluentes industriais são outra fonte. 
  • O mercúrio metálico é um contaminante que está disseminado no mundo todo, mas a maioria dos episódios de exposição humana envolve uma das formas orgânicas do mercúrio – o metilmercúrio –, principalmente pela ingestão de peixe contaminado. 
Os problemas ambientais causados pelo mercúrio podem servir para ilustrar três importantes propriedades das substâncias químicas: toxicidade, volume de uso (como uma substância industrial, seu descarte é pouco regulamentado e controlado) e a mobilidade. No caso da mobilidade, deve-se destacar a importância da biotransformação.

Sintomas de envenenamento por metilmercúrio:
  • Os sintomas apresentados pela doença desenvolvida em Minamata foram provavelmente noticiados primeiro em gatos e só depois em humanos. Os sintomas em humanos incluíam degeneração do sistema nervoso com perda da visão, audição, fala e do controle motor, além de sensação de formigamento, fraqueza nos músculos, andar oscilante, visão tunelada, fala embargada e comportamento anormal. 
Aproximadamente 40% dos indivíduos contaminados morreram. A neurotoxicidade foi a maior preocupação no desenvolvimento de fetos expostos durante a gravidez. Em muitos casos, bebês nascidos de mães que haviam consumido metilmercúrio, principalmente durante o segundo trimestre de gravidez, apresentaram danos, mesmo nos casos em que as mães foram apenas superficialmente afetadas.
  • Nas crianças, vários efeitos foram observados, como atraso em andar, falar, no aprendizado, disfunção do sistema nervoso e retardo no desenvolvimento mental. Sintomas similares também foram observados em gatos, que apresentaram ainda tremores e comportamento anormal.
Tratamento de envenenamento:
  • A razão para o mercúrio ser um problema se deve a sua afinidade particular com tecidos dos sistemas nervosos periférico e central, conseqüentemente, a exposição ao mercúrio e seu ingresso no organismo podem danificar tais tecidos. 
A terapia por quelação (um agente quelante é uma substância química com uma “afinidade” particular por metais) é necessária, porque o agente quelante tem a capacidade de retirar o mercúrio ligado aos tecidos nervosos e ao cérebro. Se o envenenamento é detectado imediatamente, o tratamento pode ter sucesso.

Indústria têxtil:
  • Há milhares de anos produzem-se roupas e carpetes, relíquias muito antigas desse tipo de fabricação têm sido encontradas em todo o mundo.
Os fios já eram manufaturados desde 8.000 a.C. e acredita-se que gramíneas e outros materiais vegetais foram as primeiras matérias-primas empregadas na produção de fios para tecidos e roupas. A produção mecanizada de tecidos teve início na Inglaterra, no fim do século XVIII, como parte da Revolução Industrial. 
  • Desde essa época, a produção industrial de tecidos tem-se espalhado rapidamente tornando a indústria têxtil um dos maiores empreendimentos do mundo todo. Durante os últimos trinta anos, muitas das indústrias têxteis básicas têm-se instalado em vários países da África e da Ásia. 
A indústria têxtil inclui fiação, tecelagem, malharia e acabamento de todos os tipos de fibras naturais e sintéticas. O maquinário varia desde as antigas máquinas manuais usadas pela indústria familiar, até as sofisticadas e caras máquinas usadas pelas indústrias modernas.
  • Durante a produção de tecidos os trabalhadores podem ser expostos a uma variedade de produtos químicos, como alvejantes, produtos de lavagem e corantes. Substâncias tóxicas em geral não são empregadas na produção (fiação e tecelagem) de fibras naturais. 
Entretanto, a exposição à poeira dessas fibras é uma preocupação, o algodão cru pode estar contaminado por dessecantes, desfoliantes e bactérias; já a lã crua pode ser contaminada por pesticidas aplicados às ovelhas como tratamento medicinal. Efeitos à saúde da população em geral surgem da poeira carregada pelo ar, das emissões de orgânicos voláteis e dos efluentes das indústrias têxteis.

Fontes, exposição e efeitos:
  • Substâncias tóxicas são usadas na fabricação de fibras sintéticas e estão presentes nas etapas de tingimento e acabamento nas indústrias têxteis.
Nas etapas de tingimento e impressão os trabalhadores são freqüentemente expostos aos corantes, a uma variedade de ácidos como fórmico, sulfúrico e acético, além de clareadores fluorescentes, solventes orgânicos e fixadores. Na operação de acabamento os trabalhadores são expostos a agentes que impedem que os tecidos sejam amassados, a retardantes de chama, além de serem ainda expostos a solventes usados para tirar gorduras e manchas.
  • Cuidados especiais devem ser tomados para evitar que essas substâncias entrem em contato com a pele, e medidas adequadas devem ser tomadas para assegurar que não haja escape desse material ou de seus vapores para a atmosfera. Doenças de pele, como dermatite, são comuns entre os trabalhadores das seções de tingimento, branqueamento e acabamento, nas seções de preparação do linho e nas que usam solventes para a produção de fibras sintéticas. Certos corantes e seus intermediários podem causar câncer de bexiga. Eczema ou contaminação por crômio são conseqüências possíveis do uso de dicromato de potássio ou sódio na indústria têxtil.
Efeitos ocupacionais sobre a saúde incluem bissinose, bronquite crônica, dermatite, câncer de bexiga entre os tingidores e de bexiga e da cavidade nasal entre os tecelões e demais trabalhadores das tecelagens. As doenças e os sintomas apresentados por trabalhadores das indústrias têxteis são apresentados na Tabela 6. A IARC concluiu que o trabalho em indústria têxtil está “possivelmente vinculado ao desenvolvimento de cânceres em humanos” (grupo 2B). (N.T.). 
  • Essa exposição pode ocorrer com outros agentes físicos de risco, como: ruído, vibração e calor. Poucos são os dados disponíveis para avaliar as substâncias químicas empregadas, o nível de exposição e o número de trabalhadores envolvidos em processos específicos nos países afetados. Os níveis de exposição e as substâncias químicas usadas em um país podem ser diferentes daqueles observados em algum outro. Em muitos processos, há a possibilidade de usar solventes não-tóxicos, os quais têm pouco ou nenhum efeito sobre a saúde humana e ambiental.
Nas tecelagens uma prática disseminada sempre foi descartar na atmosfera os efluentes gasosos carregados de poeira. Nas indústrias têxteis modernas a prática de filtrar e recircular o ar é cada vez mais empregada, embora ela não seja plenamente adotada em alguns países. O controle da emissão de orgânicos voláteis (dos óleos adicionados durante a tecelagem e dos solventes) é bastante precário; esses produtos são usados nas etapas de acabamento e tingimento.

As Substâncias Químicas a Saúde e o Meio Ambiente

Asbesto e outras fibras:
  • O asbesto é usado extensivamente na construção civil em telhas e material para isolamento térmico (forro), no cimento e no revestimento. Tem ainda aplicação como isolante elétrico e térmico e material à prova de fogo. Asbesto é o nome geral dado ao grupo de silicatos que ocorrem naturalmente e podem ser separados em fibras flexíveis. 
A exposição pode ocorrer de forma natural e devido a seu uso industrial. Existem dois tipos de fibras: crisotila e crocidolite. A crisotila (3Mg.2SiO2.2H2O) é a mais importante comercialmente e representa cerca de 90% de todo asbesto usado. A crocidolite (asbesto azul) é composta de pequenas fibras parecidas com hastes e mais perigosa que a fibra de crisotila. A inalação de fibras de asbesto pelos pulmões pode causar danos físicos e está relacionada a uma forma de câncer de pulmão: o mesotelioma.
  • A asbestose é uma doença respiratória caracterizada pela fibrose e calcificação dos pulmões e pode levar ao câncer. A inalação de asbesto deve ser evitada, e pessoas especializadas deveriam ser consultadas para eliminar o uso desses produtos.
Petróleo:
  • O petróleo foi usado por vários séculos em países como Egito, China, Irã e Iraque para aquecimento, iluminação, construção de estradas e prédios. Hoje, as refinarias de petróleo no mundo produzem mais de 2.500 produtos, incluindo naftas, destilados, combustíveis, asfalto, gás liquefeito de petróleo, parafinas, querosene, combustível para aviação, entre outras variedades de óleos combustíveis e lubrificantes.
O petróleo bruto é uma mistura de milhares de hidrocarbonetos diferentes com uma larga faixa de pontos de ebulição. O petróleo contém, ainda, uma variedade de compostos como enxofre, nitrogênio, oxigênio, traços de metais, sais e água. As refinarias de petróleo produzem grande variedade de poluentes aquáticos e atmosféricos, além de diversos resíduos sólidos perigosos. 
  • A identidade dos poluentes lançados no ambiente dependerá das atividades e dos processos desenvolvidos e utilizados pela refinaria. Freqüentemente, entre os poluentes emitidos estão todos os produtos destilados da refinaria (combustíveis, óleos, solventes, graxas e asfaltos) e, especificamente, sulfeto de hidrogênio e os hidrocarbonetos policílicos aromáticos (HPAs), monóxido de carbono, dióxido de carbono e benzeno. 
Uma vez que essas instalações estão com freqüência localizadas em grandes zonas industriais, envolvendo múltiplas instalações petroquímicas, em geral estão relacionadas a contaminações significativas da água e do ar. Moradores das comunidades circunvizinhas às refinarias estão potencialmente expostos à inalação de ar poluído e à ingestão de água poluída. 
  • Grandes volumes de resíduos perigosos são gerados e devem ser apropriadamente dispostos ou poderão causar efeitos adversos à saúde pela contaminação do solo e da água subterrânea. Moradores das proximidades de refinarias têm apresentado maior risco de desenvolver sintomas respiratórios (tosse e dificuldade de respirar).
Um estudo conduzido nos Estados Unidos sugere um risco elevado de câncer de cérebro para pessoas que vivem próximas a plantas petroquímicas. Nesse estudo, o fato de morar próximo a uma planta petrolífera, na Louisiana, por mais de dez anos, também foi associado ao aumento de risco de câncer de pulmão. 
  • Nas refinarias de petróleo também está presente grande número de fatores de risco à saúde ocupacional. A exposição ocorre pelo contato com a pele e pela inalação de gases e vapores, sobretudo de hidrocarbonetos, que estão naturalmente presentes no petróleo bruto e também podem ser emitidos durante o processo de refino, ou são formados e emitidos durante o processo. 
Compostos gasosos sulfurados, como sulfeto de hidrogênio, dióxido de enxofre e mercaptanas, são emitidos durante os processos de remoção e tratamento de enxofre. A exposição a poeira e fumos se dá quase sempre nas operações de manutenção como limpeza com jato abrasivo, uso de catalisadores e o manuseio de produtos viscosos e sólidos, como betume e coque. Na avaliação da IARC a exposição ocupacional em refinarias de petróleo é “provavelmente carcinogênica a humanos” (grupo 2A). (N.T.)

Solventes:
  • Os solventes orgânicos e seus vapores são comumente encontrados nos ambientes. As indústrias os utilizam em larga escala na manufatura de diferentes produtos. 
Nós também podemos estar expostos aos solventes através do vapor de combustíveis (gasolina, por exemplo), spray de produtos na forma de aerossóis e removedores de tintas. Um bom exemplo de solvente é o benzeno, excelente solvente para látex, que foi usado em larga escala durante todo o século XIX na indústria da borracha.
  • Na década de 1930, muitos casos de intoxicação envolvendo benzeno ocorreram em indústrias de impressão, onde essa substância era empregada como solvente de tinta. Até hoje o benzeno ainda é usado como solvente, estimando-se que possa atingir 42 milhões de m3/ano. 
A exposição crônica a benzeno pode causar severos danos à medula óssea e anemia aplástica, sendo também associada a casos de leucemia. É importante lembrar que qualquer solvente é perigoso e que equipamentos de proteção individual (EPI) devem ser usados para manusear esses compostos. Especialistas recomendam observar qual o EPI indicado em cada uso específico.

Substâncias de origem agrícola:
  • Várias substâncias químicas são empregadas na agricultura, incluindo os fertilizantes nitrogenados e fosforados, pesticidas (usados no tratamento de solo e sementes), os reguladores do crescimento das plantas, desinfetantes e drogas veterinárias (incluindo os antibióticos administrados aos animais no campo e na criação de peixes). 
Destes, os pesticidas são as substâncias que despertam a maior preocupação com a saúde e com o ambiente. Pesticidas são substâncias que controlam ou matam as pestes, que, por sua vez, são organismos que o homem considera que interferem em suas atividades; essa interferência pode estar diretamente relacionada à saúde, à proteção ou à produção dos alimentos ou ainda ao bem-estar. 
  • Os pesticidas são venenos, mas têm uma proposta especial: proteger humanos e suas plantações de outros organismos denominados pestes. Entretanto, se os pesticidas forem usados, eles devem ser escolhidos de acordo com sua seletividade, para destruir os organismos-alvo, ao passo que os demais são mantidos intactos. Na realidade, a maioria dos pesticidas não é tão seletiva, e pode ter efeito impactante nos sistemas biológicos se utilizados incorretamente.
Uso de pesticidas:
  • Doenças transmitidas por artrópodes, como os carrapatos, foram um dos maiores problemas enfrentados pelo homem antes do desenvolvimento dos primeiros pesticidas. A malária e outras doenças transmitidas por vetores matam milhões de pessoas todos os anos. 
A aplicação de pesticidas e a disseminação dos conhecimentos sobre saneamento e saúde têm sido usadas como métodos para controle de vetores em programas de saúde pública no mundo todo. Várias das substâncias utilizadas para esse propósito causaram sérios problemas ambientais e são agora consideradas poluentes ambientais. Por outro lado, elas provavelmente salvaram milhões de vidas ao longo da História.
  • Os pesticidas são bastante utilizados na agricultura, horticultura, manutenção de florestas e na criação de animais. No entanto, a maior fonte de contaminação por pesticidas resulta de seu uso na agricultura e em programas de saúde pública. 
Essas substâncias são constantemente usadas de maneira incorreta; isso é mais grave em países onde a legislação, o monitoramento e a fiscalização são inadequados. Alguns pesticidas, como o DDT, têm sido banidos ou tido seu uso restringido em vários países, mas são ainda bastante usados em outros. 
  • Além disso, a maioria dos produtos que contêm os pesticidas como princípio ativo inclui substâncias como solventes e compostos que aumentam a absorção no organismo-alvo. Esses “ingredientes inertes” perfazem a maior porcentagem do produto comercial e seus efeitos adversos podem ser maiores que os dos ingredientes ativos. 
Os pesticidas podem também conter impurezas, como as dioxinas, em certos herbicidas fenoxiácidos, as quais podem ser mais tóxicas que os próprios pesticidas.

Contaminação do ar, do solo e da água por pesticidas:
  • O ar pode ser contaminado por pesticidas durante as operações de aplicação. A evaporação das gotas durante a aspersão das formulações de emulsões de pesticidas pode resultar na formação de finas partículas que podem ser carregadas pelas correntes de ar por grandes distâncias. 
Isso pode ser confirmado pelos estudos que mostraram a presença de pesticidas em smog urbano. É também comum em alguns países a prática da dedetização de residências com pesticidas para o controle de vetores transmissores de doenças; nesses casos o pesticida evapora-se no interior das casas e pode ser inalado pelos moradores. 
  • Poderá ocorrer a absorção pela pele também pelo contato com superfícies tratadas, ou a ingestão pelo consumo de alimentos contaminados.
O solo pode ser deliberadamente tratado com pesticidas para controle de insetos e nematódeos. Além disso, grande parte dos pesticidas aplicados na lavoura não atinge o organismo-alvo e cai na superfície do solo. Alguns pesticidas, principalmente os organoclorados, são persistentes no solo por anos. 
  • A água pode ser contaminada por pesticidas quando ocorre aplicação excessiva, derramamento acidental de formulações ou na aplicação destes no controle de ervas daninhas próximas de rios ou de lagoas. O aporte de pesticidas a corpos d´água pode resultar na contaminação de água potável.
Exposição humana a pesticidas:
  • Em alguns países, há pouca recomendação ou controle sobre a estratégia de aplicação dos pesticidas; freqüentemente, são aplicados poucos dias ou mesmo poucas horas antes de a colheita ser feita. 
Nessas situações os produtos podem conter resíduos que levariam a alta exposição caso fossem consumidos logo depois da colheita. Em alguns países esse problema é ainda maior porque vários vegetais são cultivados em pequenas propriedades, próximas das cidades, e seguem das colheitas direto para os mercados, sendo submetidos a processos de lavagem inadequados. Algumas vezes são tratados com pesticidas nos próprios mercados para controlar as moscas.
  • Além da contaminação direta causada pela aplicação de pesticidas em culturas alimentícias, há várias outras maneiras pelas quais os alimentos podem ser contaminados. Por exemplo, a carne pode conter altos níveis de pesticida porque eles se concentram em certos tecidos, quando o gado é submetido a banhos para o controle de vetores. 
Tratamentos com pesticidas para prevenir perdas durante a armazenagem ou o transporte de alimentos também são um risco de contaminação. As perdas causadas por artrópodes e roedores podem ser extremamente significativas, e é comum tratar as colheitas com pesticidas, algumas vezes indiscriminadamente, para evitar que as perdas ocorram. 
  • Os alimentos tratados dessa maneira podem conter altas concentrações de pesticidas. Em períodos de escassez de alimentos, são vários os relatos de intoxicação, acidental ou intencional, de animais domésticos e pessoas pela ingestão de sementes tratadas com pesticidas.
Vários países têm legislação relativa à contaminação alimentar e os produtos são avaliados regularmente, sejam os de produção local, sejam os importados. Em países onde problemas com pragas são muito grandes há pouca legislação/fiscalização, e o uso de pesticidas próximo à época de colheita é comum.
  • O envenenamento agudo por pesticidas é problema de ocorrência mundial, com uma estimativa global de 1 a 3 milhões de casos por ano. As taxas de mortalidade variam de 1% a 9% dos casos tratados e estes dependem da disponibilidade de antídotos e da qualidade dos serviços médicos prestados. 
O envenenamento intencional (principalmente nos casos de tentativas de suicídio ou suicídio) representa grande proporção dos casos de contaminação por pesticidas em alguns países. Os pesticidas estão facilmente disponíveis nas residências e podem se tornar o método escolhido por um indivíduo com intenções suicidas.
  • A maioria dos casos de envenenamento não-intencional por pesticidas ocorre entre os trabalhadores rurais e seus familiares. A exposição ocorre primeiro durante o preparo da mistura e sua aplicação, quando esta é feita por aeronaves, ou ainda durante a entrada em lavouras previamente tratadas com pesticidas. 
A exposição ocupacional aguda pode ocorrer durante a produção, formulação, embalagem e o transporte dos pesticidas. Os efeitos agudos associados à elevada exposição ocupacional por pesticidas incluem queimadura química dos olhos, danos à pele, efeitos neurológicos e hepáticos. Suspeita-se que a exposição crônica leve a problemas reprodutivos e aumento no risco do desenvolvimento de câncer, efeitos neurológicos e psicológicos, além de efeitos sobre o sistema imunológico.
  • Vários casos de envenenamento por pesticidas ocorrem com crianças que têm acesso a embalagens de pesticidas, abertas e guardadas em casa. Episódios de envenenamento em massa pelo consumo de alimentos contaminados com pesticidas têm ocorrido e resultado em inúmeras mortes. 
Em alguns casos, o alimento havia sido contaminado com o pesticida durante o armazenamento ou o transporte, ao passo que em outros casos houve o consumo de sementes tratadas com fungicidas e reservadas para o plantio.

Fontes urbanas de contaminação por substâncias químicas:
  • Sabe-se há centenas de anos que a atividade humana e a urbanização podem causar poluição atmosférica. De fato, a poluição do ar sem dúvida teve seu início quando o homem começou a usar a madeira para aquecimento e para cozinhar. 
Várias cidades em todo o mundo estão enfrentando agora os problemas de contaminação do ar causados pela industrialização e pela urbanização. Hoje, várias são as fontes que contribuem para os problemas por todo o mundo e os principais contaminantes, e sua importância relativa, variam grandemente de uma cidade para outra. 
  • Centros industriais dentro das cidades são às vezes as fontes mais importantes, ao passo que os congestionamentos, a manutenção ineficaz dos automóveis e os altos níveis de chumbo adicionados à gasolina também contribuem para aumentar os problemas de poluição. 
Freqüentemente, estações termelétricas onde são queimados carvão e petróleo com altos teores de enxofre são fontes importantes. Em algumas cidades, o uso de carvão e madeira como combustível doméstico para aquecimento e cocção, além de ser uma fonte de poluição ambiental, é a causa de problemas respiratórios em crianças e idosos.

Fontes naturais de poluição atmosférica:
  • Várias substâncias e poluentes são formados e emitidos naturalmente pela crosta terrestre. Por exemplo, a erupção de vulcões emite material particulado e poluentes gasosos, como dióxido de enxofre, gás sulfídrico e metano. 
A queima de florestas contribui para a poluição do ar devido à emissão de fumaça, fuligem, produtos da combustão incompleta de hidrocarbonetos, monóxido de carbono, óxidos de nitrogênio e cinzas. 
  • O material particulado do spray marinho, esporos de bactérias, pólen e poeira de ressuspensão de solo são outras fontes de poluição natural do ar. Plantas e árvores também são fontes de hidrocarbonetos; a neblina azul sobre as florestas de áreas montanhosas é proveniente, principalmente, de reações dos compostos orgânicos voláteis produzidos pela vegetação.
Em janeiro de 1986, foram registrados mais de 96 ataques de asma em Barcelona, Espanha; 10% dos casos necessitaram de tratamento intensivo e 2% dessas pessoas morreram. Depois de uma análise epidemiológica extensiva, considerou-se que a causa do episódio foi a poeira de soja que havia sido descarregada no porto de Barcelona.

Combustíveis fósseis como fonte de contaminação atmosférica:
  • A queima de combustíveis fósseis para aquecimento doméstico, geração de energia, transporte e processos industriais, contribui como a principal fonte antropogênica de emissão de poluentes para a atmosfera, em áreas urbanas. 
Tradicionalmente, os poluentes atmosféricos mais comuns no ambiente urbano incluem: os óxidos de enxofre (SOx, em especial o dióxido de enxofre (SO2)), os óxidos de nitrogênio (NO e NO2, em geral denominados NOx), monóxido de carbono (CO), ozônio (O3), material particulado em suspensão (MPS) e chumbo (Pb).

Ozônio como fonte de poluição atmosférica:
  • Apesar de a diminuição de ozônio ser uma preocupação nas camadas superiores da atmosfera (estratosfera (N.T.)), nos níveis inferiores (troposfera) o problema inverso (níveis excessivos de ozônio) pode ocorrer sob determinadas condições de poluição atmosférica urbana. O ozônio é um oxidante fotoquímico e é formado na camada inferior da atmosfera na presença de NOx, hidrocarbonetos e compostos orgânicos voláteis (COVs).
Temperaturas atmosféricas acima de 18ºC aliadas à luz solar em abundância podem catalisar algumas reações. Os COVs podem ser emitidos por diversas fontes incluindo emissão veicular, produção e uso de substâncias orgânicas (como solventes), transporte e uso de petróleo bruto, uso de gás natural e em menor proporção em locais para disposição de resíduos e estações de tratamentos de efluentes. 
  • Cidades com clima quente e ensolarado e tráfego intenso de veículos tendem a estar especialmente propensas à formação de ozônio e de outros oxidantes fotoquímicos a partir dos precursores emitidos. Altas concentrações de ozônio próximas à superfície da Terra apresentam toxicidade a plantas (fitotoxicidade) e causam problemas respiratórios em pessoas idosas e asmáticas.
Variações na poluição atmosférica:
  • As contribuições relativas das fontes móveis e estacionárias da emissão de poluição atmosférica diferem sensivelmente entre as cidades e dependem da frota de veículos (leves e pesados), da densidade veicular (veículos/habitantes) e do tipo de indústria presente. 
Cidades na América Latina, por exemplo, têm maior densidade de veículos que em outras regiões em desenvolvimento, e por isso apresentam alta contribuição de óxidos de nitrogênio provenientes de motores de veículos na poluição urbana. 
  • A contribuição da emissão veicular é proporcionalmente menor em cidades com menor frota de veículos e localizadas em regiões temperadas, que dependem de combustíveis de carvão ou de biomassa para aquecimento doméstico (por exemplo, em algumas cidades da China e em algumas partes do Leste Europeu).
Vale também mencionar que em alguns países a frota de veículos tende a ser mais velha e a receber uma manutenção deficiente, fatores que aumentam significativamente a potencialidade dos veículos como emissores de poluentes. Além dos mais comuns ou “tradicionais” poluentes atmosféricos, grande número de substâncias químicas tóxicas e carcinogênicas vem sendo cada vez mais encontrado na atmosfera urbana, embora em baixas concentrações.
  • Exemplos incluem metais (berílio, cádmio e mercúrio), substâncias orgânicas em nível de traços (benzeno, dibenzo-dioxinas policloradas e dibenzo-furanos, formaldeído, cloreto de vinila e os HPAs) e fibras (asbesto). 
Tais substâncias são emitidas por diversas fontes, incluindo incineradores de resíduos, estações de tratamento de esgoto, processos industriais, uso de solventes (por exemplo, na lavagem de roupas a seco), materiais de construção e veículos automotores.

Resíduos líquidos e sólidos:
  • Em muitas cidades do mundo, os efluentes domésticos e industriais são lançados sem tratamento diretamente nos corpos d’água. 
As substâncias perigosas usadas nas residências ou as industriais são encontradas em ambientes aquáticos, causando danos ao ecossistema e contaminando mananciais que fornecem água para abastecimento público. Por exemplo, a cidade de Bucareste, na Romênia (população de 2 milhões de habitantes), não tem estação de tratamento de efluentes e a totalidade dos efluentes é lançada no rio Danúbio.
  • Resíduos químicos perigosos provenientes das indústrias são com freqüência lançados em aterros parcamente preparados e gerenciados com pouca ou nenhuma separação dos resíduos tóxicos. Essa prática resulta na contaminação de solo, água e ar. A disposição de resíduos líquidos, como os corantes, é também um problema particular em alguns países.
Derramamento acidental de substâncias tóxicas:
  • Acidentes durante a produção ou o transporte de substâncias perigosas têm contribuído para a contaminação de água, solo e ar, além de causar efeitos adversos à saúde humana. 
Acidentes como explosão, incêndio e colisão de veículos de transporte podem levar à liberação de vários produtos potencialmente perigosos no ambiente. Uma vez que isso ocorra, os trabalhadores e a população em geral estão sujeitos à exposição. A freqüência com que esses episódios ocorrem e a sua gravidade são alarmantes.
A maioria dos acidentes com substâncias químicas ocorre por negligência, assim como engenheiros incapacitados, operadores sem treinamento adequado ou falta de comunicação podem também contribuir para que ocorram fatalidades. Para evitar acidentes, é importante que as indústrias forneçam treinamento apropriado para o pessoal envolvido em processos industriais perigosos. 

As Substâncias Químicas a Saúde e o Meio Ambiente