domingo, 6 de setembro de 2015

Nanotecnologia e o Meio Ambiente

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  • A nanotecnologia estende a ciência de materiais para o domínio de partículas e interfaces com dimensões extremamente pequenas, da ordem de um a cem nanômetros. Partículas deste tamanho, ou “nanopartículas”, apresentam uma grande área superficial e, freqüentemente, exibem propriedades mecânicas, ópticas, magnéticas ou químicas distintas de partículas e superfícies macroscópicas. O aproveitamento dessas propriedades em aplicações tecnológicas forma a base da nanotecnologia de materiais. 
Há, também, uma área ainda incipiente da nanotecnologia, denominada nanotecnologia molecular ou nano-fabricação (“nanomanufacturing”), que almeja o desenvolvimento de sistemas nanométricos auto-replicantes (nano-robôs ou “nano-bots”) capazes de fabricar, sob medida, materiais ou objetos através da manipulação da matéria a nível molecular.
  • Não há dúvida de que a nanotecnologia oferece a perspectiva de grandes avanços que permitam melhorar a qualidade de vida e ajudar a preservar o meio ambiente. Entretanto, como qualquer área da tecnologia que faz uso intensivo de novos materiais e substâncias químicas, ela traz consigo alguns riscos ao meio ambiente e à saúde humana. Nos próximos parágrafos, analisaremos resumidamente os possíveis benefícios e perigos da nanotecnologia.
As três principais áreas nas quais podemos esperar grandes benefícios provenientes da nanotecnologia são:

Na prevenção de poluição:
Ou dos danos indiretos ao meio ambiente:
  • Por exemplo, o uso de nanomateriais catalíticos que aumentam a eficiência e a seletividade de processos industriais resultaria num aproveitamento mais eficiente de matérias primas, com consumo menor de energia e produção de quantidades menores de resíduos indesejáveis.A nanotecnologia vem contribuindo para o desenvolvimento de sistemas de iluminação de baixo consumo energético. Na área da informática, o uso de nanoestruturas de origem biológica pode oferecer uma estratégia alternativa para a fabricação de dispositivos microeletrônicos. 
A nanotecnologia também vem aprimorando o desenvolvimento de displays (como, por exemplo, monitores de computador ou displays dobráveis de plástico que podem ser lidos como uma folha de papel) que, além de serem mais leves e possuírem melhor definição, apresentam as vantagens da ausência de metais tóxicos na sua fabricação e de terem um consumo menor de energia.

No tratamento ou remediação de poluição:
  • A grande área superficial das nanopartículas lhes confere, em muitos casos, excelentes propriedades de adsorção de metais e substâncias orgânicas. A etapa subseqüente de coleta das partículas e remoção de poluentes pode ser facilitada pelo uso, por exemplo, de nanopartículas magnéticas. As propriedades redox e/ou de semicondutor de nanopartículas podem ser aproveitadas em processos de tratamento de efluentes industriais e de águas e solos contaminados baseados na degradação química ou fotoquímica de poluentes orgânicos. Num cenário futurístico, um exército de nano-bots poderia ser utilizado para descontaminar microscopicamente sítios de derrame de produtos químicos.
Na detecção e monitoramento de poluição. 
A nanotecnologia vem permitindo a fabricação de sensores cada vez menores, mais seletivos e mais sensíveis para a detecção e monitoramento de poluentes orgânicos e inorgânicos no meio ambiente. 
  • Avanços em sensores para a detecção de poluentes implicam diretamente num melhor controle de processos industriais; na detecção mais precoce e precisa da existência de problemas de contaminação; no acompanhamento, em tempo real, do progresso dos procedimentos de tratamento e remediação de poluentes; num monitoramento mais efetivo dos níveis de poluentes em alimentos e outros produtos de consumo humano; na capacidade técnica de implementar normas ambientais mais rígidas, etc.
Não obstante estas perspectivas animadoras dos benefícios da nanotecnologia para a melhoria do meio ambiente, não se deve subestimar o potencial para danos ao meio ambiente. As mesmas características que tornam as nanopartículas interessantes do ponto de vista de aplicação tecnológica, podem ser indesejáveis quando essas são liberadas ao meio ambiente. O pequeno tamanho das nanopartículas facilita sua difusão e transporte na atmosfera, em águas e em solos, ao passo que dificulta sua remoção por técnicas usuais de filtração. 
  • Pode facilitar também a entrada e o acúmulo de nanopartículas em células vivas. De modo geral, sabe-se muito pouco ou nada sobre a biodisponibilidade, biodegradabilidade e toxicidade de novos nanomateriais. 
A contaminação do meio ambiente por nanomateriais com grande área superficial, boa resistência mecânica e atividade catalítica pode resultar na concentração de compostos tóxicos na superfície das nanopartículas, com posterior transporte no meio ambiente ou acúmulo ao longo da cadeia alimentar; na adsorção de biomoléculas, com conseqüente interferência em processos biológicos in vivo; numa maior resistência à degradação (portanto, maior persistência no meio ambiente) e em catálise de reações químicas indesejáveis no meio ambiente.
  • Apesar da crescente preocupação em relação às potencialidades negativas da nanotecnologia para o meio ambiente e/ou para a saúde humana, ela ainda não enfrenta nenhuma oposição tecnofóbica sistemática (algumas exceções isoladas incluem um pedido de moratória na pesquisa em nanotecnologia molecular, feito pelo ETC Group do Canadá, e uma obra de ficção sobre as conseqüências de liberação de nano-bots auto-replicantes ao meio ambiente. 
Aliás, quase todos os simpósios e estudos recentes que avaliaram os riscos da nanotecnologia para o meio ambiente tratam a questão com equilíbrio e em termos predominantemente científicos. Três desses estudos, todos disponíveis pela Internet, merecem destaque:
  1. A. H. Arnall, “Future Technologies, Today’s Choices: Nanotechnology, Artificial Intelligence and Robotics; A technical, political and institutional map of emerging technologies”8, de 2003, da conhecida organização ecológica Greenpeace Environmental Trust, que trata de forma bastante equilibrada a questão;
  2. “Nanotechnology: small matter, many unknowns”, de 2004, da resseguradora internacional Swiss Re, que alerta para o estado de desconhecimento dos riscos associados à nanotecnologia e enfatiza a necessidade de normas e pesquisa que delineiem e minimizem esses riscos para as companhias de seguros; 
  3. “Nanoscience and nanotechnologies: opportunities and uncertainties”, da Academia Real de Engenharia e da Sociedade Real do UK, de julho de 2004, que recomenda, entre outras coisas, cuidado na manipulação ou aplicação de nanopartículas artificiais em forma livre (e.g., em processos voltados para a remediação do meio ambiente) e o tratamento de nanopartículas e nanotubos como substâncias químicas novas para fins regulatórios. Aponta ainda a necessidade de pesquisa interdisciplinar voltada para as questões de toxicidade, epidemiologia, persistência e bioacumulação de nanopartículas.
Evidentemente, cabe à nossa comunidade avaliar continuamente as tecnologias em desenvolvimento nos laboratórios do ponto de vista do seu potencial de risco, buscando conscientemente soluções e alternativas que eliminem ou minimizem os possíveis danos ao meio ambiente ou à saúde, principalmente daqueles que manipulam nanopartículas em nossos laboratórios. 
  • Neste contexto, são da mais alta relevância iniciativas como o Edital MCT/CNPq 13/2004, vinculado ao Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia, que contemplou “apoio a atividades de pesquisa voltadas para o estudo de aspectos éticos ou impactos ambientais da nanotecnologia e nanobiotecnologia”.

Nanotecnologia e o Meio Ambiente: Perspectivas e Riscos

Nanotecnologia e Meio Ambiente:
Uma Análise sobre os Riscos e Benefícios dessa tecnologia: 
  • O prefixo nano é derivado da palavra grega Vávoc <nános> que significa “anão”. Nano é um termo técnico usado em qualquer medida, significando um bilionésimo dessa unidade, por exemplo, um nanômetro equivale a um bilionésimo de um metro (1 nm = 1/1.000.000.000 m) ou aproximadamente a distância ocupada por cerca de 5 a 10 átomos, dispostos de maneira a formar uma linha. 
Dessa forma, nanotecnologia significa a habilidade de manipular átomo por átomo na escala compreendida entre 0,1 e 100 nm para criar estruturas maiores fundamentalmente com nova organização estrutural e, normalmente, para fins comerciais. É uma ciência multidisciplinar que inclui conhecimentos da biologia, física, química, engenharia, matemática, computação e de outros ramos da ciência (Duran; Mattoso; Morais, 2006).
  • Segundo Fortunato (2005), a nanotecnologia investiga e desenvolve novos materiais e processos com propriedades funcionais diferentes dos materiais comuns. Essas alterações estruturais podem afetar características físicas, químicas, mecânicas e biológicas que poderão levar à criação de materiais com características incomparáveis (Cadioli & Salla, 2006). 
Na verdade, a alteração das propriedades de um material ao atingir a escala nanométrica se deve à combinação de dois fatores. Enquanto, por um lado, é em objetos com essas dimensões que os efeitos quânticos se manifestam de maneira mais evidente, por outro, se observa que quanto menor for o tamanho da partícula, mais importantes se tornam os efeitos de superfície, pelo aumento da proporção entre sua área e seu volume (Melo & Pimenta, 2004). 
  • O tamanho da partícula é de suma importância porque muda a natureza das interações das forças entre as moléculas do material e assim, muda o comportamento que estes processos ou produtos nanotecnológicos tem, junto ao meio ambiente, à saúde humana e à sociedade como um todo (Martins, 2009).
Existem dois procedimentos gerais para se obter materiais na escala nanométrica. Uma primeira abordagem, o chamado procedimento bottom up (“de baixo para cima”) consiste em tentar construir o material a partir de seus componentes básicos (ou seja, seus átomos e moléculas), da mesma forma que uma criança monta uma estrutura ao conectar as peças de um Lego. 
  • Por outro lado, é também possível fabricar um objeto nanométrico pela eliminação do excesso de material existente em uma amostra maior do material, à semelhança da maneira como um artista trabalha os pequenos detalhes em uma escultura, fazendo o cuidadoso desbaste do supérfluo ou excedente de um grande bloco de pedra ou madeira. Este procedimento top down (“de cima para baixo”) normalmente se vale das chamadas técnicas de litografia, que correspondem a uma série de etapas de corrosão química seletiva e extremamente precisa para a preparação final do objeto nanométrico a partir de um bloco macroscópico do material (Melo & Pimenta, 2004).
Os estudos referentes à nanotecnologia, desde a sua descoberta, vem sendo cada vez mais aprofundados levando à construção de diversos sistemas de utilidade humana e ambiental. No entanto, esta tecnologia tem uma vasta aplicação que vai além da área ambiental, promovendo desse modo, avanços na área médica, eletrônica e biotecnológica (Flores & Engelmann, 2009).
  • Algumas de suas aplicações atuais envolvem, por exemplo, a criação de tecidos resistentes a manchas e que não amassam; raquetes e bolas de tênis com maior durabilidade; utensílios domésticos com características antimicrobianas; biossensores; aditivos nutracêuticos; sistemas de filtros para ar e água, cosméticos, microprocessadores e equipamentos eletrônicos com melhor desempenho (Marcolino, 2008).
Porém, estudos desenfreados com a disposição de vários produtos no mercado podem provocar conseqüências, ainda imensuráveis, devido à falta de conhecimento específico sobre a causa/efeitos destes. Por estes motivos, torna-se imprescindível a construção de estudos relacionados aos possíveis efeitos, ou até mesmo, aos danos causados ao meio ambiente e ao ser humano. 
  • Com o grande número de trabalhos na área de nanotecnologia e nanomateriais, faz-se necessário um levantamento sobre a segurança e toxicidade destes produtos e procedimentos de investigação e segurança, principalmente quando da manipulação dos nanossistemas para veiculação in vivo (Jain, 2005). Vários trabalhos vêm sendo publicados levando em consideração os riscos para saúde humana e ambiental advindos desta nova tecnologia (Dulley, 2007).
Neste contexto, a nanotecnologia vem a cada dia se tornando parte da nossa realidade. À medida que a nanotecnologia avança, toda a sociedade passa a se envolver com este assunto, seja direta ou indiretamente, especialmente na medida em que novos produtos contendo materiais nanoestruturados chegam ao mercado consumidor (Silva, 2008). 
  • A avaliação das significações éticas, das implicações tecnológicas, políticas e sociais subjacentes à introdução das nanotecnologias no Brasil e de seus desafios na legislação, na política e na ética, bem como a análise de suas oportunidades e possibilidades requerem a superação de obstáculos amparados no dogma da diferença epistemológica e metodológica entre as ciências humanas e naturais (Da Silva, 2003).
Uma preocupação com relação à toxicidade das nanopartículas reside principalmente no fato delas não terem sido produzidas e utilizadas em produtos comerciais em tão larga escala como atualmente. Logo, o risco de alcançarem os diferentes compartimentos ambientais (atmosfera, águas e solo) e se tornarem disponíveis é muito grande. 
  • Além disso, muitos sistemas nanopartículados que estão atualmente em uso são produzidos com metais de transição, silício, carbono e óxidos metálicos, sendo altamente tóxicos. (Dreher, 2004).
Mesmo na sociedade de riscos, na qual as necessidades do homem obrigam que se recorra aos avanços tecnológicos que, por sua vez, geram riscos, as pessoas precisam estar informadas para decidirem se querem correr estes riscos. Embora o desenvolvimento tecnológico e, conseqüentemente econômico seja necessário e desejável, ele não pode vir desacompanhado das preocupações éticas, sociais e jurídicas. 
  • Observar o equilíbrio ambiental e o bem-estar da sociedade é essencial para progredir (Sebastião, 1998), portanto, a possibilidade de ganho econômico jamais pode servir de argumento para justificar a degradação do meio ambiente e o comprometimento da qualidade de vida das gerações presentes e futuras.
Uso da Nanotecnologia para melhorias no Meio Ambiente:
  • A nanotecnologia como ciência promove a produção de materiais que são de extrema importância dentro de varias indústrias, como: farmacêutica, cosmética, alimentícia, entre outras. Segundo Martins & Braga (2009) as aplicações desta ciência podem-se dar na medicina e saúde, tecnologia de informação, produção e armazenamento de energia, ciência dos materiais, alimento, água e meio ambiente, instrumentos, fármacos, células-combustível e exploração espacial. 
Ela oferece a possibilidade de introdução de tecnologias mais eficientes e ambientalmente mais saudáveis do que aquelas usadas atualmente (Elcock, 2007) e um potencial para produzir bens de consumo com rendimento de materiais muito maior, de produção de resíduos muito menor e fontes de poluição química reduzida (Zhang, 2003; Silva, 2007).
  • A nanotecnologia, além de influenciar na economia também exibe muitas possibilidades de melhoria na qualidade de vida (Hyder, 2003). Na área de prevenção da poluição ou dos danos indiretos ao meio ambiente, por exemplo, destaca-se o uso de nanomateriais catalíticos, os quais maximizam a eficiência e a seletividade de processos industriais, promovendo um maior aproveitamento de matérias primas, com reduzido dispêndio de energia e menor produção de resíduos indesejáveis. 
Outra forma de prevenção ao meio ambiente é através do tratamento ou remediação da poluição com a utilização de nanopartículas, isso porque a grande área superficial dessas partículas lhes confere, em muitos casos, excelentes propriedades de adsorção de metais e substâncias orgânicas (Batista et al., 2009). A etapa subsequente de coleta das partículas e remoção de poluentes pode ser facilitada pelo uso, por exemplo, de nanopartículas magnéticas (Ye et al., 2006).
  • As propriedades redox ou de semicondutor das nanopartículas podem ser aproveitadas em processos de tratamento de efluentes industriais e de águas e solos contaminados baseados na degradação química ou fotoquímica de poluentes orgânicos (Quina, 2004). As nanopartículas magnéticas tem um potencial enorme para aplicações em diversas vertentes tecnológicas. Vários métodos tem sido propostos nestes últimos anos para a separação de metais de águas residuais usando nanopartículas magnéticas (Ngomsik et al., 2005). As nanopartículas superparamagnéticas lipofílicas, por possuírem uma cadeia carbônica longa, podem interagir com substâncias hidrofóbicas. Esta interação é de grande importância ambiental por conseguirmos retirar poluentes do meio utilizando um campo magnético, facilitando assim a remediação ambiental (Netto et al., 2004).
Outro benefício promovido pela nanotecnologia é a fabricação de nanosensores e nanocatalisadores cada vez menores e mais sensíveis (Ramos et al., 2009). Um exemplo prático é a utilização de sensores de gás baseados em nanotecnologia que monitoram a poluição em várias estações terrestres. O sensor é portátil, oferece concentrações de poluição do solo de forma instantânea e precisa, e pode ser facilmente implementado para divulgar dados de poluição em tempo real para um servidor web que fornece uma perspectiva topológica dos locais monitorados (Vaseashta et al., 2007; Sebastião, 1998; Assal et al., 2007).
  • A aplicação de nanomateriais na descontaminação ambiental é decorrente da alta reatividade química apresentada por estes materiais. O fotocatalisador TiO2, principalmente na sua forma anatase, é o nanomaterial mais estudado para a fotodegradação de compostos orgânicos (Paschoalino; Marconi; Jardim, 2010). O ferro em nanoescala zero-valente também foi identificado como sendo um produto de recuperação ambiental de interesse, já que não é tóxico, abundante e menos dispendioso, provando ser útil para reduzir ou transformar vários tipos de compostos orgânicos e inorgânicos que são ambientalmente contaminantes (Joo, 2006). 
Dentro dessas perspectivas, a nanotecnologia se posiciona de maneira prioritária para a revitalização e reabilitação do meio ambiente. Anteriormente, foram publicadas as dez aplicações mais importantes da nanotecnologia, a saber: 
  1. Produção, armazenamento e conversão de energia; 
  2. Aumento da produtividade agrícola; 
  3. Remediação e tratamento da água; 
  4. Mapeamento e diagnóstico de doenças; 
  5. Sistemas para liberação de moléculas ativas; 
  6. Armazenamento e processamento de alimentos; 
  7. Controle e remediação dos efeitos da poluição do ar; 
  8. Construção; 
  9. Monitoramento da saúde e 
  10. Detecção e controle de pragas e seus vetores (Toma, 2005).
No que diz respeito às técnicas de produção, a nanotecnologia permite uma melhoria, sem precedentes, na qualidade de fabricação de novos materiais. Assim, é possível fabricar materiais mais compactos, utilizando menos matéria-prima. Porém, se por um lado os novos produtos tecnológicos trazem grandes benefícios, por outro lado podem ocasionar sérios riscos tanto à saúde humana quanto ambiental.

Riscos da Nanotecnologia para o Meio Ambiente:
  • Não há dúvida de que a nanotecnologia oferece a perspectiva de grandes avanços que permitem melhorar a qualidade de vida e ajudar a preservar o meio ambiente. Entretanto, como qualquer área da tecnologia que faz uso intensivo de novos materiais, ela traz consigo riscos ao meio ambiente e à saúde humana (Quina, 2004). Esses riscos se devem, principalmente, à grande reatividade apresentada por partículas em escala nanométrica.
De acordo com informe da asseguradora Swiss Re, nanopartículas com características coloidais poderiam ser ideais para transporte a longa distância de materiais tóxicos como contaminantes hidrofóbicos e metais pesados. Essas nanopartículas tem como atributo principal a facilidade de dispersão, dificultando sua remoção por técnicas habituais de filtração (Batista et al., 2009).
  • Além disso, o tempo de residência das nanopartículas e seus agregados no ar pode ser diferente de partículas maiores e as taxas de oxidação e dissolução, que são altamente dependentes da área de superfície, podem aumentar drasticamente à medida que diminui o tamanho da partícula (Guzmán; Taylor; Banfield, 2006).
Devido a isso, mesmo com os benefícios provenientes da aplicação de técnicas nanotecnológicas, existe uma preocupação quanto à liberação indiscriminada dessas nanopartículas no meio ambiente, pois em curto prazo, não se pode avaliar com precisão os efeitos indesejáveis que podem ocorrer. 
  • Para Paschoalino, Marcone, Jardim (2010) a preocupação com a liberação desses novos produtos também está fortemente relacionada ao fato de apresentarem alto grau de citotoxicidade quando dispostos no ambiente.
Outros nanomateriais que podem apresentar riscos ao meio ambiente são os baseados em carbono, como os fulerenos, os nanotubos de carbono de parede simples ou múltipla e as nanopartículas e nanofibras de carbono. 
  • Sabe-se que nanopartículas provenientes da queima de combustível de aeronaves, as quais são constituídas principalmente por nanofibras de carbono, podem ter uma influência direta sobre fenômenos que ocorrem na estratosfera, podendo alterar o clima devido à absorção/reflexão da radiação solar, o ciclo de formação das nuvens e o processo de destruição de ozônio pela inclusão de uma área superficial ativa adicional (Paschoalino; Marcone; Jardim, 2010). Em compartimentos ambientais, os nanotubos de carbono podem ser biodisponíveis aos organismos. 
Suas propriedades sugerem possível acúmulo na cadeia alimentar e elevado tempo de degradação. Em organismos biológicos, sua absorção, distribuição, metabolismo, excreção e toxicidade dependem de características físicas e químicas influenciadas por condições ambientais externas durante a produção, uso e eliminação dos nanotubos de carbono (Helland et al., 2007). Dessa forma, não é possível negar que essas novas tecnologias ocasionam o aparecimento de novos riscos que influenciam diretamente em sistemas orgânicos e fatores climáticos (Silva, 2007).
  • Apesar da nanotecnologia estar presente atualmente em quase todos os aspectos da vida contemporânea de uma maneira impossível de recusá-la ou contê-la, resta a sociedade exigir uma indagação mais minuciosa dessas inovações, visando, dessa forma, a proteção do meio ambiente e, consequentemente o nosso bem estar. Dados toxicológicos e de biodegradação sobre nanopartículas são escassos, mesmo existindo produtos comerciais no mercado. Os critérios utilizados para determinar a toxicidade das substâncias na escala macro não trazem certezas quando confrontados com a nanotecnologia. 
Não existem metodologias confiáveis para estabelecer diferença entre as propriedades encontradas na "macroescala" e na "nanoescala". Muitos dos riscos específicos associados com a nanotecnologia podem se confirmar como inexistentes. No entanto, como essa tecnologia emergente interage com o ser humano e o meio ambiente, pode dar origem a consequências indesejadas (Mahajan & Roop, 2006).
  • Esses novos produtos e tecnologia ainda não possuem uma acumulação histórica de informações que assegurem, claramente, em relação ao conhecimento de um determinado tempo as consequências que poderão advir de sua liberação no ambiente (Antunes, 2006). É verdade que já existem diversos produtos no mercado, sem que tenha havido uma avaliação profunda de seus riscos. É importante evidenciar que no Brasil ainda não existem leis e dispositivos capazes de prevenir ou até mesmo abordar as peculiaridades dessa nova revolução tecnológica. 
As normas jurídicas que podem ser utilizadas para, por exemplo, autorizar a comercialização de um determinado produto nanotecnológico para a agricultura não diferem das normas e critérios técnicos para os demais produtos, pois não existe uma diferenciação pelo Direito entre o tratamento legal da nanotecnologia e de outras tecnologias (Berger Filho, 2009). 
  • Devido ao grande número de sistemas nanoparticulados e nanomateriais, um dos desafios é categorizar e priorizar estes para efeitos de avaliação de risco. Portanto, a legislação existente deve ser modificada para torna-se mais adequada com a nanotecnologia e as metodologias de avaliação de risco também terão que ser adaptadas para introduzir aglomeração, tamanho das partículas, forma e reatividade superficial no critério de avaliação (Dsilva, 2008). 
Há uma série de leis já existentes, nomeadas Lei de Controle de Substâncias Tóxicas, Lei de Segurança e Saúde Ocupacional e as principais leis ambientais: Lei do Ar Limpo, Lei da Água Limpa e Conservação de Recursos que fornecem uma base legal para a revisão e regulamentação dos materiais nanotecnológicos. No entanto, todas estas leis fornecem uma base pouco consistente para identificar e proteger a população contra os potenciais riscos da nanotecnologia (Davies, 2006).

Outras Considerações:
  • O conhecimento referente à nanotecnologia amplia-se cada vez mais a partir do estudo do tema proposto, pois quanto maior o aprofundamento na pesquisa, maior foi a convicção de que se iniciava algo complexo e que de forma alguma teria como exaurir o conteúdo. 
Ao contrário, novas possibilidades foram visualizadas e, somente o tempo e a persistência no desenvolvimento desse assunto permitirão nivelar limites até hoje desconhecidos, pois a nanotecnologia vem oferecendo oportunidades para o surgimento de novos produtos com funções e características diferentes e muitas vezes superiores aos materiais tradicionais. 
  • Trata-se de uma ciência multidisciplinar que necessita, portanto, do conhecimento de outras ciências, interagindo com os sistemas em seu entorno, rompendo, assim, os paradigmas tradicionais, o que levará a formação de áreas do conhecimento totalmente novas, bem como a formação de futuros pesquisadores. A nanotecnologia, no entanto, deve ser imaginada como uma inovação tecnológica que, ao mesmo tempo em que produz efeitos positivos também pode gerar efeitos negativos. 
Quando se pensa nos impactos da nanotecnologia sobre o meio ambiente, conclui-se que ainda não se pode responder a todos os campos possíveis, pois se sabe que o potencial tecnológico evoluirá cada vez mais e causará mudanças ainda indefinidas e os trabalhos referentes à toxicidade desses novos produtos são escassos e controversos entre si. Em se tratando das melhorias advindas destes novos produtos, não restam dúvidas de que a nanotecnologia traz consigo várias vantagens, desde a capacidade de remover substâncias contaminantes do meio aquoso até benefícios impensáveis, surgindo assim, uma constante tensão entre os benefícios do avanço tecnológico e os riscos desconhecidos dessa nova tecnologia. 
  • Dentro de tantas incertezas é possível afirmar que a sociedade nunca se deparou com uma mudança tão drástica, que atinge tantos segmentos com o surgimento em tão larga escala desses novos produtos, sendo por isso, necessário estudá-los profundamente para entender o que seja apoiado pela razão e os potenciais que essa transformação científico-tecnológica pode tornar realidade. Contudo, uma análise mais aprimorada e específica somente será possível com o auxílio de uma criteriosa abordagem da avaliação quanto à exposição e efeitos causados pelos mesmos. A considerável elevação na comercialização desses produtos e o seu aporte principalmente em ecossistemas aquáticos causariam desequilíbrios enormes aos mesmos, e por outro lado também benefícios incalculáveis. 
O ideal é que surjam novas legislações indicando valores guia para cada produto de base nanométrica, além das novas tecnologias de tratamento para os resíduos resultantes desses produtos, pois o conhecimento dos riscos que os nanomateriais causam ao ambiente será de fundamental importância para que a sua produção, comercialização e descarte sejam feitos de forma adequada e segura, visando, assim, à comercialização de produtos que obedeçam aos padrões exigidos pela legislação quanto aos aspectos ambientais e de saúde pública.

Imagens de nanopartículas de prata obtidas no microscópio e coloridas artificialmente