sexta-feira, 9 de outubro de 2015

A Proteção e Gestão Ambiental na Agricultura

Gestão e Proteção Ambiental na Agricultura

  • A importância da agricultura no espaço rural confere ao setor agrícola um papel estratégico na condução do processo de transformação estimulado pela política de desenvolvimento sustentável. Neste sentido, o espaço rural não é visto apenas como uma base física, onde o processo de produção agrícola se instala, mas também, associado à necessidade humana de desfrutar desta parte da natureza, como parte fundamental da qualidade de vida que tanto deseja a sociedade atual. 
Segundo Gonçalves (2002), para a sustentação da posição competitiva da agricultura nacional no contexto internacional e, no próprio mercado interno, em face de uma economia aberta num mundo globalizado, é fundamental a redefinição das políticas públicas brasileiras. 
  • Nesse sentido, o primeiro aspecto dessa questão política que se converte em quesito estratégico é representado pela qualidade e quantidade do capital intelectual a serviço da agricultura, seja no setor público, seja no setor privado.
A agricultura é uma das principais fontes de alimentos e de sobrevivência para as populações que aumentam significativamente e, conseqüentemente, exigem um crescimento na produção de alimentos. Entretanto, a agricultura desenvolvida de forma intensiva e com utilização maciça de insumos químicos e tecnológicos tem provocado muitos impactos adversos no ambiente (COSTA et al., 2002). 
  • Esse modelo econômico de desenvolvimento agrícola, caracterizado por um alto uso de pesticidas, não considerou as conseqüências ambientais e para com as populações, promovendo a contaminação e degradação de solos e reservatórios de águas, a salinização, os desequilíbrios ecológicos e reduzindo a biodiversidade (COUTINHO, 2002).
Segundo a EMBRAPA (2002), dada a diversidade agroecológica do território nacional e pela variabilidade sócio-econômica existente no país, a agricultura é heterogênea e complexa em seus sistemas e estruturas de produção. Neste contexto, se observa dois extremos sistemas de produção. 
  • De um lado, sistemas agrícolas com alto consumo de recursos naturais, como desmatamento, perda de solos, redução de fertilidade, que por razões socioeconômicas evoluem de modo lento, mantendo a forma crônica e constante de seus impactos ambientais.
No outro extremo, estão os sistemas de produção altamente tecnificados que consomem relativamente menos recursos naturais locais, mas deixam no ambiente novos elementos e produtos potencialmente causadores de desequilíbrios ambientais, como fertilizantes químicos, herbicidas e pesticidas.
  • Via de regra, os impactos ambientais adversos desencadeiam os impactos sociais. No entanto, qualquer que seja a ação impactante que resulte danos na qualidade ambiental, terá seus custos socializados. Para os grupos sociais economicamente menos privilegiados, os impactos ambientais e sociais representam, sempre, um elevado ônus material e psíquico (FILHO, 2002).
Um sistema agrícola pode ser considerado sustentável quando proporciona rendimentos estáveis em longo prazo, utilizando práticas de manejo que integrem elementos do sistema, de modo a melhorar a eficiência biológica do mesmo (BELLAVER, 2001).
  • Assim, todas as atividades econômicas vêm sendo desafiadas a produzir e ao mesmo tempo lidar com a contrapartida, que é preservar, cuidar e limpar os elementos naturais dos quais fazem uso. Essas ações sobre o meio ambiente e os recursos naturais têm um custo que deve ser pago não apenas pela sociedade, pelos contribuintes ou pelos consumidores, mas também, pelos segmentos de produção que compõem os sistemas agro-industriais (GIORDANO, 2000). 
Este mesmo autor conceitua gestão ambiental como um conjunto de medidas e procedimentos bem definidos e adequadamente aplicados que visam a reduzir e controlar os impactos causados por um empreendimento sobre o meio ambiente.
  • O desenvolvimento de um novo modelo de práticas agrícolas, a sustentabilidade na agricultura, implica na reorganização das relações essenciais da sociedade, das ações governamentais e das instituições de ensino e pesquisa. 
Deve-se ressaltar que a sustentabilidade inclui a noção do longo prazo, quando propõe que as futuras gerações tenham recursos assegurados. A análise sobre a sustentabilidade no setor tem constatado que apesar de todos os impactos adversos na agricultura, é possível conciliar a melhoria da qualidade ambiental com o desenvolvimento econômico agrícola (MARIA, 2000).
  • Wall et al. (2001) citam que muitas empresas agrícolas estão considerando as conseqüências ambientais de suas atividades como um meio de obter vantagem competitiva. Essa mudança, segundo os autores, é delineada pelo significativo interesse em códigos de padronização privada, tais como aqueles encontrados na ISO 14000. 
Esses códigos são caracterizados por um acordo voluntário no qual a organização se compromete em estar em conformidade com um conjunto de princípios de gestão ambiental. Segundo os autores, as potenciais recompensas estão relacionadas a um menor custo, devido à redução no uso de insumos e uma maior aceitação do produto no mercado.
  • Bellaver (2001) cita que, apesar das escolas agrotécnicas estarem inseridas de modo direto no contexto rural, e possuírem elementos ambientais necessários à prática de educação ambiental, há falta de dados sobre a aplicação de técnicas agropecuárias ministradas pelas escolas, que estejam relacionadas à conscientização da preservação e reabilitação dos recursos naturais. 
Para Mussoi (1993), é necessário à reestruturação da educação rural, pois a escola tem grande importância tanto para a migração, como para a fixação do homem ao campo.
  • Uma melhor preparação dos produtores rurais para o trabalho e uma melhor qualidade de vida, através da escola, exige investimentos na educação, para que seja desmistificada a idéia de que para trabalhar no meio rural não é preciso estudo, o que contribui para a visão de que o produtor rural não necessita profissionalizar-se para administrar sua propriedade de forma produtiva e sustentável. Abramovay et al. (1998) ressalta que o acesso à educação pelos jovens rurais não é um elemento de estímulo ao abandono do meio rural.
As instituições de ensino devem, portanto, implementar mudanças nos conteúdos educativos e na metodologia pedagógica, porque os atuais conhecimentos sobre educação ambiental não são suficientes para evitar distorções, como por exemplo, no processo produtivo agrícola. 
  • As transformações produtivas, ambientais e sociais que permitirão a emancipação dos produtores rurais, somente serão alcançadas se precedida pelo processo educacional. 
Neste contexto, a educação ambiental dentro da educação tecnológica e profissional surge como uma alternativa para reverter essa situação e atuar para que o conhecimento supere a ignorância sobre os temas ambientais (GRABE, 1989).
  • Nesse sentido, torna-se relevante investigar fatores capazes de influenciar de modo positivo ou negativo a conscientização ambiental dos vários atores envolvidos em um processo produtivo qualquer. Sobre essa proposição pesquisas têm sido realizadas, especialmente em estudos que investigam a relação entre atitudes ambientais e ações práticas sobre o ambiente.
Deste modo, o objetivo deste estudo foi investigar algumas variáveis capazes de influenciar no envolvimento de técnicos em agropecuária com questões ambientais.
  • Para alcançar o objetivo deste estudo foi realizada uma pesquisa exploratória e descritiva do tipo “survey”. A população foi de 390 estudantes, efetivamente matriculados no 2º grau da Escola Agrícola de Jundiaí da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. 
No que se refere à coleta de informações o instrumento de pesquisa utilizado foi o questionário, com questões fechadas do tipo Likert de onze pontos para avaliar a opinião do entrevistado sobre as variáveis que compuseram os seguintes grupos de variáveis: percepção, atitude, senso de comunidade, comprometimento e constrangimento. Também foram utilizadas questões do tipo binária (verdadeiro ou falso) para o conhecimento ambiental e geral. 
  • As técnicas estatísticas utilizadas para análise dos dados foram à análise descritiva para a variável de percepção ambiental (PA) e o teste estatístico qui-quadrado para verificação de independência ou associação entre a variável percepção ambiental (PA) com as variáveis dos grupos: atitude (AT10, AT11, AT13), senso de comunidade (SC1, SC3, SC5), comprometimento (CP1, CP3), constrangimento (CO), conhecimento ambiental (CA), conhecimento geral (CG) e perfil.
O formato de apresentação da figura seguinte segue o mesmo formato de apresentação no questionário. 
Ou seja, a resposta “sem importância” corresponde ao valor de número zero do questionário, a resposta “pouco importante” corresponde aos valores 1, 2, e 3, respectivamente, e assim por diante.
  • Observa-se que 96% dos estudantes entrevistados da Escola Agrícola de Jundiaí consideram importante e muito importante o técnico em agropecuária desenvolver atividades de proteção ambiental. 
Este resultado reforça a importância do desenvolvimento do ensino enfocando atividades de produção pelo técnico em agropecuária com atividades de proteção ambiental, mostrando desta forma, a importância de um profissional rural consciente em desenvolver atividades de produção agrícola ambientalmente sustentável, provocando assim, o mínimo de impactos adversos no ambiente.

Gestão Ambiental na Agricultura e a Proteção Ambiental

Análise de dependência de variáveis:

A análise dos dados através do teste estatístico qui-quadrado para verificação de associação entre a variável percepção ambiental (PA) e as demais variáveis do estudo. Para cada teste, observa-se o nível de significância p. Variáveis Descrição da Variável p n
  • AT10 Os produtores rurais sabem do perigo dos agrotóxicos no ambiente, mas precisam produzir 0,0099 361
  • AT11 Falta conhecimento aos produtores rurais em relação à conservação ambiental 0,0080 357
  • AT13 Falta conhecimento aos produtores rurais sobre as leis de proteção ambiental 0,0491 353
  • SC1 Envolvimento em trabalhos voluntários na comunidade 0,7938 371
  • SC3 Participação em reuniões na comunidade para discutir problemas sociais 0,0880 370
  • SC5 Participação em eventos sobre técnicas alternativas de produção ou normas de proteção ambiental 0,1010 368
  • CP1 Já que a população paga impostos, a resolução dos problemas ambientais são de responsabilidade exclusiva do governo 0,0021 362
  • CP3 A população deixaria de poluir um rio se fosse apresentado a ela os
  • problemas que ocorrem quando se polui um rio 0,0020 361
  • CO Sensação de sentir-se um bobo ao economizar água e ver que seu vizinho
  • não economiza 0,0004 350
  • CA Nível de conhecimento ambiental 0,0083 373
  • CG Nível de conhecimento geral 0,9076 373
  • SEXO Sexo do entrevistado 0,8289 368
  • IDADE Idade do entrevistado 0,5804 371
  • RESI Residência do entrevistado 0,7010 371
  • RENDA Renda do entrevistado 0,5783 274
Observa-se que existe associação considerada significativa (p<0,05) entre a variável percepção ambiental (PA) com as variáveis do grupo de atitude: AT10, AT11 e AT13, onde se pode observar através dos valores de probabilidade p = 0,0099, p =0,0080 e p = 0, 0491, respectivamente. 
  • Ao analisar as associações entre as variáveis atitudinais e de percepção, observa-se através das tabelas de freqüência esperada e observada, que o número observado de alunos que concordam totalmente com as proposições nas questões atitudinais (AT10, AT11, AT13) e consideram muito importante o desenvolvimento de trabalhos de proteção ambiental pelo técnico em agropecuária junto aos produtores rurais é maior do que o esperado.
É interessante verificar que os alunos ao possuírem essas posições, aparentemente mostram ter conhecimento sobre a realidade dos produtores rurais em relação à conservação do ambiente e as leis de proteção ambiental. Esse resultado reforça a importância do papel do técnico em agropecuária como repassador de conhecimento aos produtores rurais, conscientizando-os da necessidade do equilíbrio entre a produção de alimentos e a preservação dos recursos naturais.
  • Verifica-se através do valor de probabilidade p=0,0021 e p=0,0020, que existe relação de associação considerada significativa entre as variáveis do grupo comprometimento (CP1, CP3), respectivamente, com a variável percepção ambiental (PA). 
Ao associar as variáveis de comprometimento com a variável de percepção, nota-se através das tabelas de freqüência esperada e observada, que o número observado de alunos que apresentam comprometimento com as questões ambientais e consideram muito importante o desenvolvimento de trabalhos de proteção ambiental pelo técnico em agropecuária junto aos produtores rurais é maior do que o esperado.
  • De acordo com a literatura consultada, um alto nível de comprometimento coincide com comportamento ambientalmente favorável (HEBERLEIN & BLACK, 1976; STERN et al., 1986; HOPPER & NIELSON, 1991; STERN & DIETZ, 1994). 
Deste modo, é importante ressaltar que um maior nível de comprometimento pessoal na resolução das questões ambientais, pode resultar em uma melhor qualidade ambiental e, possivelmente em benefícios sociais. 
  • Em investigações do conhecimento e valores ambientais e do sentimento de responsabilidade em estudantes suíços e californianos, ficou demonstrado que a inclusão do sentimento de responsabilidade aumenta a proporção da variância na intenção de comportamento ecológico (KAISER et al., 1999).
Nota-se através do valor de probabilidade p=0,0004 que existe relação de associação entre a variável de constrangimento (CO) e de percepção ambiental (PA). Como mostra as tabelas de freqüência esperada e observada, verifica-se que o número observado de alunos que discordam totalmente com a proposição de sentir-se um bobo ao economizar água e ver que seu vizinho não economiza e consideram muito importante o desenvolvimento de atividades de proteção ambiental pelo técnico em agropecuária é maior do que o esperado.
  • Supondo-se que a variável PA denote uma preocupação ambiental, a relação de associação obtida como significativa entre PA e CO, assim como os valores de freqüência esperada e observada mostram que, provavelmente não existe constrangimento em se realizar atividades de proteção ambiental. Eventualmente, uma maior preocupação ambiental é capaz de minimizar um efeito de constrangimento em se realizar uma prática ambiental, já que o número observado de entrevistados que discorda da proposição de “constrangimento em se realizar uma ação ambiental” e tem preocupação ambiental (PA) é maior do que o esperado.
De acordo com os resultados  observa-se que existe associação considerada significativa (p<0,05) entre as variáveis de conhecimento ambiental (CA) e percepção ambiental (PA), verificada através do valor de probabilidade p=0,0083. Pelas tabelas de freqüência esperada e observada, percebe-se que o número observado de alunos que possuem conhecimento ambiental e também consideram muito importante o técnico em agropecuária desenvolver atividades de proteção ambiental é maior do que o esperado. 
  • Mediante o resultado da associação entre as varáveis de conhecimento ambiental e percepção ambiental, deve-se ressaltar a importância do técnico em agropecuária possuir conhecimento sobre as questões ambientais, uma vez que um profissional com maior conhecimento sobre as questões ambientais poderá atuar de modo transformador junto aos produtores rurais na busca de um desenvolvimento sustentável na agricultura.
Outras. Considerações:
  • Após a obtenção dos resultados, conclui-se que a formação de práticas pedagógicas que levem a um aumento do conhecimento ambiental possui papel de destaque na formação dos futuros técnicos em agropecuária, para que os mesmos adequadamente preparados possam contribuir para que os produtores rurais continuem desenvolvendo atividades de produção agrícola com minimização dos impactos ambientais. Essa nova percepção de formação profissional considera não apenas o aspecto econômico, mas também, as questões ambientais, com menor impacto sobre o ambiente. 
Neste sentido, as escolas agrotécnicas possuem uma situação privilegiada no que se refere à conscientização da preservação e reabilitação dos recursos naturais por as mesmas estarem inseridas no espaço rural.

Gestão Ambiental na Agricultura e a Proteção Ambiental