domingo, 4 de outubro de 2015

Triple Bottom Line

Triple Bottom Line

  • O termo Triple Bottom Line, é atribuído a John Elkington, co-fundador e secretário da empresa de consultoria sobre sustentabilidade nas empresas SustainAbility, e refere-se a uma forma de pensar e atuar numa empresa que coloca ao mesmo nível de importância os objetivos de lucro, ambiente e responsabilidade social. Contrasta com a tradicional forma de pensar das empresas que se concentra unicamente na obtenção de lucro e de responder perante os seus acionistas. 
Várias empresas de topo começam a adotar esta forma de conduta de modo a evitar, por exemplo, que a empresa seja associada a escândalos de irresponsabilidade social e ambiental como aconteceu com a Shell, que era conivente com o regime repressivo na Nigéria, a Unocal, que recorria a escravatura em Burma, e a James Hardie, que inicialmente se recusou a pagar as compensações devidas a pessoas que tinham sido expostos a amianto. Noutros casos, as empresas recorrem ao Triple Bottom Line de modo a cumprir a legislação requerida pelos países e ao mesmo tempo prever futuras alterações mais exigentes à lei. 
  • Para além disso, outras fortes motivações são o acrescido interesse dos investidores em questões de responsabilidade social e ambiente dentro da empresa, estratégias de gestão de risco e evitar reações negativas por parte de Organizações Não Governamentais (ONGs).
O Conceito e sua Aplicação:
  • O conceito do Triple Bottom Line (ou People, Planet, Profit) está intimamente ligado à necessidade recente que as empresas têm sentido de responder, não só aos seus acionistas, mas a todas as partes interessadas na empresa. 
Esta realidade surgiu com o crescente interesse da população mundial nas questões sociais e ambientais, não só acionistas, como também os possíveis consumidores, ONGs e os possíveis empregados, particularmente se tivermos em conta o aumento significativo de importância que o ambiente tem adquirido na formação de engenheiros, gestores e mesmo economistas.
  • Assim, este método ou divulga, juntamente com os resultados econômicos da empresa, as várias medidas tomadas pela empresa para cumprir as suas responsabilidades ambientais e sociais, ou divulga um valor monetário, em termos de ganhos, correspondente aos campos de ambiente e responsabilidade social relacionados com esse tipo de medidas. 
Esse valor, no entanto, não é fácil de quantificar pelo que vários investigadores, consultoras e organizações estão a trabalhar para desenvolver métricas que possibilitem determinar os valores adequados a atribuir a cada campo e o modo de atribuição.
  • O interesse das empresas em aplicar o Triple Bottom Line não é no entanto uma simples questão de ética empresarial, mas sim uma estratégia lucrativa de gestão empresarial cujos resultados podem ser quantificados. 
Bob Willard, defende que existem sete benefícios fundamentais para uma empresa que opte por um desenvolvimento sustentável e por desenvolver uma reputação de ambientalmente e socialmente responsável. Assim os sete benefícios, segundo o autor são: 
  • Maior facilidade na contratação do melhor profissional;
  • Maior facilidade na retenção do melhor profissional;
  • Aumento da produtividade dos trabalhadores,
  • Aumento da eficiência da produção
  • Redução da despesa em publicidade
  • Maior entrada de capital e fatia do mercado
  • Redução do risco, facilidade no financiamento
Os primeiros três benefícios aplicam-se aos recursos humanos da empresa, resultado de um compromisso de sustentabilidade. Segundo estimativas do autor para uma empresa fictícia de computadores, depois de quantificar as várias vertentes da questão, é possível um aumento do lucro anual em 26%. 
  • Segundo Daniel Tschopp, a exactidão das conclusões a que Bob Willard chegou é discutível pois vários pressupostos e estimativas utilizadas pelo autor parecem ser questionáveis e extremamente difíceis de quantificar (por exemplo, baseando-se noutros estudos o autor define como 20% a percentagem da população que, consoante o comportamento social da empresa, fique tentada a recompensar ou castigar a empresa e inclui no possível castigo o recusar de uma oferta de emprego). 
No entanto a percentagem de aumento de lucro anual estimada serve como uma boa referência para as vantagens que este tipo de comportamentos sustentáveis poderão trazer. 
  • Os dois benefícios seguintes provêm de uma redução das despesas através da tomada de uma série de resoluções ambientais positivas como medidas de eficiência energética, reciclagem, ou outras que tornem a produção mais eficiente. O autor estima um aumento do lucro anual de 6%.
Os dois últimos benefícios resultam da boa reputação ambiental da empresa que atrairia consumidores e conservaria a sua lealdade para com a empresa levando a um aumento do lucro anual estimado de 6%.
  • Ao aplicar o Triple Bottom Line, uma empresa poderia acumular todos estes benefícios cuja importância no lucro anual, apesar das estimativas algo idealistas, não pode ser ignorada.
Os três objetivos fundamentais a defender e a atingir estão inter-relacionados, interdependentes e, infelizmente, por vezes em conflito. Para que as empresas consigam adotar o Triple Bottom Line, têm de revolucionar a sua maneira de pensar e atuar e passar a faze-lo considerando não menos de sete dimensões: mercado, valores, transparência, tecnologia de ciclo de vida, parcerias, perspectiva temporal e gestão empresarial.
  • A primeira dimensão, relativa ao mercado, tem por base o uso dos instrumentos econômicos de mercado contrariamente ao simples cumprimento de medidas de comando e controlo quando se pretende melhores resultados de sustentabilidade. O desafio da sustentabilidade oferece oportunidades de concorrência únicas às empresas levando à inovação tecnológica e ao desenvolvimento da eficiência ecológica das empresas que queiram e se consigam manter competitivas com estas novas regras de mercado.
Já a segunda dimensão é relativa aos valores e vai contra a ideia, que muitos gestores de empresas partilham, de que o único objectivo do negócio das empresas é o lucro. A sociedade está a evoluir na direção de dar uma importância igualmente elevada e considerar uma proximidade cada vez maior entre os três objetivos fundamentais (ambiente, sociedade e economia) o que pode resultar em que empresas que ignorem por completo qualquer uma destas dimensões, sejam severamente castigadas pela sociedade onde se encontram inseridas.
  • Numa sociedade altamente comunicativa, a dimensão da transparência surge como política quase obrigatória em qualquer empresa. As críticas e pressões exteriores serão enormes caso as questões éticas não forem corretamente abordadas pelas empresas e a sustentabilidade de cada empresa é já avaliada e comparada com empresas concorrentes. 
A legislação acerca do que se tem de divulgar acerca dos processos e produtos de uma empresa é cada vez mais apertada e poucas serão as empresas que conseguirão manter as suas atividades segredo do restante da sociedade e dos consumidores.
  • A quarta dimensão relativa ao ciclo de vida, prende-se com a necessidade das empresas passarem a responsabilizar-se e preocuparem-se com a imagem do seu produto durante todo o seu ciclo de vida e não apenas no momento da venda.
A quinta dimensão refere-se a parcerias entre empresas e ONGs ou outros grupos ativistas. Estes aliados, aparentemente improváveis, vão encontrar muitas vantagens em trabalhar em conjunto, sendo difícil às empresas, que se oponham às ONGs, libertarem-se das suas críticas e ações negativas, podendo ao invés pedir-lhes conselhos acerca do seu comportamento ambiental e formas de se tornarem mais eco-eficientes, e as ONGs apercebendo-se que podem obter melhores resultados ao aliarem-se e apoiarem empresas que provem adotar estratégias sustentáveis, contra as empresas que não o façam.
  • A sexta dimensão a ter em conta pelas empresas é que, para lidar com as questões da sustentabilidade é preciso tempo, pelo que as perspectivas acerca dos negócios de uma empresa terão de passar de perspectivas de curto período de tempo para longo período de tempo.
A sétima, e última dimensão, tem a ver com a gestão da empresa em si, pois a sustentabilidade exige uma alteração no balanço entre acionistas e partes interessadas e o seu poder sobre as ações da empresa.
  • Apesar da aparente complexidade do sistema de Triple Bottom Line são já várias as empresas que já demonstram preocupações de sustentabilidade nas suas políticas e medidas e prevê-se que cada vez mais adquiram essas preocupações no futuro. As suas políticas e medidas começam a ser divulgadas em relatórios anuais sobre a sustentabilidade e ambiente que incluem, não só, informação acerca dos seus empregados, saúde ocupacional e pensões, como também atividades de sustentabilidade (a nível local ou internacional) e comportamento ambiental. 
A Global Reporting Initiative (GRI) é uma de várias instituições independentes cuja missão é desenvolver e disseminar internacionalmente guias e instruções para a elaboração de relatórios sobre a sustentabilidade. Estas instruções são de aplicação voluntária pelas empresas e organizações e fornecem informação de como construir relatórios acerca das dimensões econômicas, ambientais e sociais das organizações. Um dos objetivos da GRI é uniformizar o modo de apresentação dos relatórios de sustentabilidade das várias organizações, possibilitando assim a comparação entre elas.
Uma outra forma de comparação possível utiliza o Dow Jones Sustainability World Índex (DJSI) que é um indicador de comportamento econômico que inclui 300 empresas que representam as 10% mais sustentáveis, das 2500 que compõem o Dow Jones Global Índex (DJGI). 
  • O primeiro, ao contrário do objectivo da GRI, não nos indica qual das empresas que o compões pode ser considerada a mais ou menos sustentável, mas da comparação dos dois índices observamos algo de curioso. O DJSI do conjunto das empresas encontra-se razoavelmente acima do (DJGI). Isto significa que as empresas consideradas as mais sustentáveis fazem parte também das com melhores resultados econômicos. 
Apesar de não podermos assegurar qual dos factores (sustentabilidade ou resultados econômicos) é que influencia o outro, podemos concluir que, pelo menos no caso das empresas mais ricas, os dois factores encontram-se inter-relacionados o que pode ser um forte argumento a favor de estratégias de sustentabilidade e Triple Bottom Line.

Triple Bottom Line

Caso de Estudo: 
Cascade Engineering:
  • Em seguida analisa-se o caso de estudo da Cascade Engineering, uma empresa Americana sedeada em Grand Rapids, Michigan, líder na concepção e construção de sistemas em plástico e componentes para o mercado dos resíduos sólidos, automóvel e industrial.
As primeiras medidas de sustentabilidade foram introduzidas pelo fundador da empresa Fred P. Keller que começou por criar medidas no sentido de divulgar os impactes das atividades na organização, comunidade local e economia através de um relatório de responsabilidade social apresentado aos trabalhadores da empresa em 2002. 
  • Além disso, foram tomadas outras medidas sociais como programas de caridade e um programa de desenvolvimento de carreiras relacionadas com a criação de bem-estar. Mas possivelmente, o acontecimento mais importante que se destacou destas iniciativas iniciais foi o compromisso da gestão de topo para com a sustentabilidade.
Mais tarde, a Cascade Engineering reuniu uma equipa para estudar o que outras empresas tinham feito em termos de sustentabilidade e como tinham organizado os seus relatórios e descobriu a existência dos guias da GRI que utilizou para documentar os seus programas até ao momento.Do esforço desenvolvido por essa equipa nasceu, em 2003, o primeiro relatório de Triple Bottom Line da companhia que tinha como finalidade analisar os impactes econômicos, ambientais e sociais das atividades da empresa com vista a:
  • Aumentar o nível de responsabilidade e transparência da organização;
  • Promover de forma equilibrada a melhoria contínua;
  • Servir de instrumento de aprendizagem, tanto para a Cascade Engineering como para outras médias empresas.
O primeiro relatório não provocou reações particularmente interessadas por parte da direção e dos clientes que os receberam mas alguns empregados da companhia e participantes da conferência anual de Segurança e Serviços Ambientais organizada pela companhia ofereceram conselhos e ideias após a leitura do relatório. Assim, o segundo relatório de Triple Bottom Line da companhia introduziu algumas melhorias como um quadro de objetivos de sustentabilidade e foi melhor recebido.
  • No terceiro relatório de sustentabilidade foram feitas ainda mais mudanças que no segundo. A companhia começou a quantificar os gases com efeito de estufa, certas falhas relativas à divulgação de atividades específicas dos empregados da empresa foram corrigidas, acrescentou-se as horas voluntárias para medir o trabalho dos empregados em organizações exteriores ligadas a atividades ambientais e sociais e o relatório foi construído de forma a ser mais apelativo tanto a audiências internas à empresa como externas. 
Os relatórios de Triple Bottom Line tiveram um papel educativo fundamental na empresa levando-a , gradualmente, a investir cada vez mais e melhor no seu objectivo de sustentabilidade. 
  • Os empregados e as suas famílias foram educados no sentido de contribuírem para sustentabilidade dentro e fora da empresa e comunicarem o seu sucesso em projetos ambientais e sociais, criaram-se iniciativas como um código de conduta que serve de guia para o comportamento na empresa, um melhor planeamento contínuo dos negócios, uma equipa de redução de resíduos que também é responsável pela auditoria à emissão dos gases com efeito de estufa, a redução de desperdício recorrendo a material reciclado e reutilizado.
Para além disso surgiram novas oportunidades de negócio sustentável na empresa como por exemplo a parceria com a International Aid, uma agência global humanitária, no sentido de produzir um filtro de areia biológico para purificar água para beber, que pode ser facilmente transportado e utilizado em países em desenvolvimento. Em 2006 surgiu a Cascade Soluções de Energia Renovável que procura parcerias com produtores de energia renovável de modo a procurar aplicações nessa área para a sua concepção e construção de plásticos.
  • O relatório de Triple Bottom Line da Cascade Engineering recebeu reconhecimento externo que incluiu um Prêmio de Excelência Ambiental da Sociedade dos Engenheiros Plásticos.
O objectivo da Cascade Engineering continua a ser a melhoria contínua seguindo objetivos como a expansão do quadro de objetivos do relatório de Triple Bottom Line, melhorar a recolha de dados, aumentar a participação dos membros da direção, integrar completamente o processo de Triple Bottom Line na orientação dos novos empregados, entre outros. Importa concluir que apesar de se ter tornado um líder em termos de sustentabilidade na sua área, a Cascade Engineering admite ainda haver muito que fazer e apesar de ainda não poder relacionar um crescimento mensurável com as atividades sustentáveis da empresa, espera que tal aconteça no futuro próximo.

Outras Considerações:
  • Apesar do cepticismo partilhado por tantas empresas e investigadores, pode-se concluir que, apesar de ainda não estar provado que uma estratégia como o Triple Bottom Line leva ao desenvolvimento econômico das empresas, existem vários casos de empresas bem sucedidas que trabalham no sentido de harmonizar a sua faceta econômica com a sociedade e o ambiente. 
Empresas desse gênero como a Cascade Engineering são cada vez mais frequentes muito graças a uma crescente preocupação social e ambiental da sociedade e a vontade do consumidor de pagar mais por um produto que cumpra os requisitos da sustentabilidade. 
  • No entanto o passar do tempo e a evolução dos mercados, da ciência, do ambiente e das tecnologias podem ser a única forma de ter a certeza acerca do futuro deste tipo de estratégias e empresas. No entanto mais pesquisa sobre esta área é fundamental para uma melhor preparação para esse futuro.

Triple Bottom Line