quarta-feira, 27 de abril de 2016

Aspectos econômicos-ecológicos da produção e utilização do carvão vegetal na siderurgia brasileira

Aspectos econômicos-ecológicos da produção
e utilização do carvão vegetal na siderurgia brasileira

Josemar Xavier de Medeiros

  • Datam do início da década de 20 as primeiras discussões sobre a viabilidade da grande siderurgia no Brasil e, no bojo dessas discussões, sob a influência do modelo da siderurgia estrangeira, o confronto do carvão vegetal em relação ao carvão mineral, como redutor e insumo energético na siderurgia. 
Naquelas discussões, por um lado, o fato de não haver nessa época nenhum grande empreendimento siderúrgico a carvão vegetal nos países industrializados, e por outro, razões ambientais levantadas, tentavam sinalizar a virtual impossibilidade de estabelecer-se uma indústria siderúrgica de porte no Brasil, baseada no carvão vegetal (Gomes, 1983). 
  • No auge das discussões pró e contra o uso do carvão vegetal na siderurgia, foi implantada no início dos anos 30 a Companhia Siderúrgica Belgo-Mineira, a qual se constituiu na primeira usina siderúrgica integrada do Brasil e na maior usina a carvão vegetal do mundo. Ainda hoje, há quem considere que a viabilidade da siderurgia a carvão vegetal sempre esteve ligada ao histórico baixíssimo custo da mão-de-obra rural no Brasil. 
Posteriormente, com o grande desenvolvimento obtido nas novas tecnologias florestais e com a introdução do eucalipto para a formação de florestas energéticas, a possibilidade de produção de carvão vegetal em condições sustentadas econômica e ambientalmente passou a ser fortemente considerada. 
  • Utilizando o carvão vegetal como energético e redutor, viria a ser criada mais de uma dezena de outras usinas, das quais destacam-se atualmente: PAINS, MANNESMAN, COSIGUA e ACESITA, todas com produção anual acima de 500 mil toneladas de aço bruto. Considerando-se a produção dessas usinas e mais a dos produtores independentes, verifica-se que atualmente o carvão vegetal é responsável por 30% da produção nacional de ferro-gusa. 
A produção de ferrogusa constitui-se uma das primeiras etapas do beneficiamento do minério de ferro. A evolução da indústria siderúrgica brasileira até os dias de hoje conduziu a uma grande diversificação de produtos que vão desde lingotes e semi-acabados até aços finos ligados, passando por produtos planos, longos e trefilados. 
  • Para facilitar a análise dos aspectos econômicos e ecológicos deste setor, nos fixaremos na capacidade da produção de ferro-gusa, para a qual o carvão vegetal é o insumo principal em custo e em impacto ambiental.
Aspectos Econômicos e Sociais:
  • O setor siderúrgico a carvão vegetal apresentou em 1992 um faturamento total de US$ 3,3 bilhões, dos quais US$ 1,1 bilhão em divisas. Somente na fase de produção e comercialização de carvão vegetal são movimentados por ano cerca de 600 milhões de dólares. 
Esse setor arrecadou US$ 473 milhões em impostos e gerou cerca de 180 mil empregos diretos e indiretos, dos quais cerca de 120 mil na atividade direta de produção e transporte de carvão vegetal (ABRACAVE, Anuário Estatístico 1992).
  • O carvão vegetal tem importante participação na estrutura do consumo energético do país, tendo nos balanços energéticos dos últimos anos se colocado na mesma faixa de consumo que o álcool combustível e a gasolina, em torno de 6 milhões de toneladas equivalentes de petróleo.
Das quase 10 milhões de toneladas de carvão vegetal produzidas anualmente no Brasil, cerca de 70% são destinadas à siderurgia de ferro-gusa e aço, para a produção de cerca de 7 milhões de toneladas de aço bruto. O preço médio pago ao produtor pelo carvão vegetal consumido na siderurgia varia entre 12 e 20 dólares por metro cúbico, conforme a época do ano e a região. 
  • Do custo total do aço bruto produzido, cerca de 70% correspondem ao custo do carvão vegetal. De todo o carvão vegetal consumido, cerca de 34% são utilizados pelas usinas integradas a carvão vegetal e 66% são utilizados pelos produtores independentes guseiros. 
A quase totalidade (98%) da produção brasileira de ferro-ligas é feita a partir de carvão vegetal. Inicialmente, a produção de carvão vegetal concentrou-se em torno do pólo guseiro de Minas Gerais, sendo que com o passar dos anos a atividade de carvoejamento foi-se expandindo, estando hoje concentrada principalmente nas regiões do Triângulo Mineiro, noroeste e norte de Minas, e já tendo atingido regiões mais distantes tais como o sul da Bahia e leste de Goiás e de Mato Grosso do Sul. Em termos gerais a atividade de carvoejamento de matas nativas deriva de duas motivações econômicas: 
  • Como atividade derivada ou complementar à expansão da fronteira agropecuária, representando neste caso uma receita a ser absorvida nos gastos de preparação do solo para a implantação de culturas agrícolas ou de pastagens; e 
  • Como atividade autônoma, portanto geradora de uma receita de significativa importância econômica para o produtor de carvão vegetal bem como absorvedora de mão-de-obra rural, principalmente nas épocas secas. 
O primeiro caso é a situação comumente encontrada em regiões de elevado potencial econômico agropecuário, como por exemplo ocorreu e ainda ocorre na região do Triângulo Mineiro. Nestes casos, a produção de carvão vegetal não consegue competir com aquelas formas mais nobres de uso do solo, ou seja, as diversas modalidades de exploração agropecuária. 
  • Não raro, a própria lenha produzida por ocasião do desmatamento é perdida, não carvoejada, devido à pressa do proprietário da terra em implantar as atividades agropecuárias de seu interesse (Fundação João Pinheiro, 1989:28). 
O segundo caso corresponde à situação encontrada naquelas regiões de menor potencialidade econômica, para as quais a atividade de carvoejamento passou a ser uma opção de atividade econômica de real significado. 
  • Este foi o caso da região noroeste de Minas Gerais, onde o município de João Pinheiro pode ser considerado um caso típico. Este município constituiu-se na porta de entrada para o noroeste mineiro após a construção da BR-040, tendo se tornado um grande centro produtor de carvão vegetal na década de 70, inicialmente baseado na exploração de matas nativas e, mais recentemente, a partir de lenha de reflorestamento. 
Nessa região, a atividade de reflorestamento com finalidades energéticas desenvolveu-se rapidamente e em grande escala, centrada entre outros atrativos no baixo preço das terras, nos atraentes incentivos fiscais e nos baixíssimos custos da mão-de-obra local. Atualmente, considerável área da região de João Pinheiro está reflorestada com eucalipto. 
  • Assim é que, ainda hoje, a atividade de carvoejamento, tanto em matas nativas como em áreas reflorestadas, representa papel de destaque na geração de renda e ocupação de mão-de-obra rural nessa região. Análise semelhante pode ser estendida para a região norte de Minas Gerais, sul da Bahia, Goiás e Mato Grosso do Sul.
Aspectos Ambientais:
  • A atividade de produção de carvão vegetal e sua destinação para uso na siderurgia sempre estiveram associadas à idéia de devastação ambiental. Tal devastação decorre de impactos observados em várias etapas dessa atividade e sobre os vários agentes bióticos. 
Esses impactos ambientais estão relacionados principalmente com os seguintes aspectos: o desmatamento de florestas nativas; a implantação de florestas homogêneas com essências exóticas; e a atividade de carvoejamento, transporte e utilização do carvão vegetal. 
  • Os efeitos dos referidos impactos fazem-se sentir em dimensões locais e mesmo regionais. Em relação aos componentes de maior interesse econômico e ecológico nos ecossistemas, verifica-se que o solo, o ar, a água, a flora, a fauna e o próprio homem são afetados em dimensões sensivelmente perceptíveis. 
Calcula-se que atualmente no Brasil são desmatados cerca de 440 mil hectares de matas nativas a cada ano (Medeiros, 1993:112), de onde é extraída a lenha para produção de carvão vegetal para a siderurgia. 
  • Esse processo vem provocando fortes pressões ambientais em alguns ecossistemas, como os cerrados, com ameaça de extinção de espécies animais e vegetais. Algumas conseqüências já se fazem sentir como o elevadíssimo índice de emissões de fumaça (CO2, CO, particulados etc.) na época das queimadas, o aumento da erosão hídrica não raro com a formação de vossorocas e a modificação do regime hídrico dos rios. 
Em relação aos reflorestamentos, existe hoje no país cerca de 2,4 milhões de hectares plantados com eucalipto, destinados à siderurgia (Siqueira, 1990:17). O gênero Eucaliptus possui mais de seiscentas espécies das quais pouco mais de uma dezena são utilizadas na formação de florestas industriais. 
  • Estas espécies de Eucaliptus utilizadas têm sido freqüentemente consideradas, em todo o mundo, como fortemente impactantes no meio ambiente, sendo esta uma característica peculiar dessas plantas. 
Nos últimos trinta anos muitos estudos têm tentado identificar e quantificar tais impactos, os quais já se fazem sentir em vários municípios florestais , principalmente no estado de Minas Gerais, onde os problemas gerados começam a demandar a intervenção governamental através de legislação específica, limitando o percentual da área de cada município passível de ser plantada com florestamentos homogêneos. 
  • Na atividade de carvoejamento tem sido comum verificarem-se condições de trabalho subumanas, tarefas estafantes, ambiente insalubre e a exploração do trabalho de crianças. Tanto as carvoarias quanto a maioria dos altos-fornos que utilizam o carvão vegetal são focos de geração e emissão de poluentes, tais como CO2, CO, particulados e deposição de pós e sólidos, tais como escória e finos de carvão.
Exercício de Valoração de Custos Ambientais:
  • Com o objetivo de possibilitar um exercício de valoração de impactos ambientais no âmbito da atividade de produção e utilização de carvão vegetal na siderurgia, elegeram-se, dentre aqueles mostrados anteriormente, seis pontos de pressão sobre o meio ambiente, os quais têm sido muito freqüentemente citados e até quantificados em termos físicos, mediante trabalhos e estudos técnico-científicos realizados em distintas áreas de conhecimento e de atuação profissionais, tais como: silvicultura, agronomia, economia, ecologia, hidrologia etc. 
Entretanto, antes de se iniciar a discussão desses impactos, torna-se necessário o estabelecimento e/ou a ponderação de alguns parâmetros físicos relacionados com a produção e a produtividade florestais, de modo a permitir as comparações entre parâmetros e unidades físicas.

Produtividade média ponderada de carvão vegetal de matas nativas:
  • Ao se fazer referência ao uso de florestas nativas, com a finalidade de avaliação da produção de carvão vegetal, torna-se necessário considerar as diversas tipologias de matas nativas e suas respectivas produtividades em termos de material lenhoso. 
A região produtora de carvão vegetal para a siderurgia compreende quase todo o estado de Minas Gerais (principalmente as regiões norte e noroeste desse estado), o norte da Bahia, partes de Goiás e do Mato Grosso do Sul. 
  • As formações vegetais características dessas regiões compreendem as diversas tipologias de cerrados, florestas mais densas como as matas ciliares e franjas da Mata Atlântica, e florestas abertas ou em regeneração como as de sucessão secundária. 
Para possibilitar a expressão de uma produtividade média de carvão vegetal de matas nativas, deve-se adotar um valor que considere de forma ponderada as diversas produtividades de material lenhoso nessas diferentes formações vegetais, bem como as suas respectivas participações relativas na área total desmatada a cada ano no Brasil. 
  • Para tanto, utilizar-se-ão proporções estimativas de áreas desmatadas para a produção de carvão vegetal propostas por Medeiros (1993:112).
A produtividade média de carvão vegetal no Brasil, ponderada para 1 hectare de mata nativa desmatada, é de 19,4 t/ha ou, em termos volumétricos, de 77,6 m 3 /ha.

Produtividade média de carvão vegetal de florestas de eucalipto:
  • A produtividade das florestas homogêneas de eucalipto no Brasil varia com as condições edafoclimáticas das regiões onde foram implantadas e, principalmente, com o manejo florestal a que estão submetidas. 
A produtividade de 25 m 3 esteres de lenha por hectare por ano, com ciclos de três cortes e a cada sete anos, pode ser considerada como uma produtividade razoavelmente factível no Brasil. Nessas condições, a produtividade de carvão vegetal para esses povoamentos florestais pode ser considerada em termos médios como sendo de 12,5 m 3 /ha/ano ou 3,1 t/ha/ano de carvão vegetal.

Relação entre área florestal e produção de ferro-gusa:
  • O consumo específico do redutor carvão vegetal na siderurgia brasileira pode ser tomado como de 0,875 t de carvão vegetal para cada tonelada de ferro-gusa (CEMIG, 1988:150). Considerando-se as produtividades médias para o carvoejamento em florestas nativas e florestas plantadas de eucalipto, verificam-se as relações. 
A seguir será analisado cada um dos seis focos de impactos ambientais selecionados, procurando-se determinar, a partir dos dados físicos disponíveis, a sua participação relativa na fabricação de uma unidade do produto, no caso 1 tonelada de ferro-gusa , e, a partir de um exercício de valoração, verificar sua expressão em termos de unidades monetárias em dólares americanos. 
  • Por oportuno, deve-se enfatizar a natureza exploratória do presente exercício, onde o que se busca na verdade é procurar caminhos metodológicos que possam conduzir à apropriação de determinados custos ambientais , os quais, até então, têm sido desprezados sob a descompromissada denominação de externalidades e bens livres, mas que, a cada dia que passa, começam a sinalizar os limites físicos de expansão e mesmo continuidade de determinadas atividades econômicas. 
Dessa forma, alguns valores monetários quantificados devem ser vistos com a reserva que a natureza do estudo recomenda, entretanto com alguma segurança quanto à ordem de grandeza em relação aos valores reais buscados.

Impacto 01 
Identificação:
  • A exposição do solo com as operações de desmatamento em florestas nativas e o preparo de solo para as florestas plantadas potencializam em grande escala a erosão hídrica e eólica, com significativa perda de nutrientes e do próprio solo.
Comentários:
  • Dependendo da destinação a ser dada a essas áreas desmatadas, elas podem ser mais ou menos expostas aos processos de erosão hídrica e eólica. Em todos os casos é certo que, no primeiro ano subseqüente ao desmatamento, o solo terá sido totalmente exposto a tais agentes erosivos. Em termos quantitativos, a perda de solos e sedimentos em situações como essas podem ser detectadas para diversas condições e tipos de solos. 
Buscando-se dados típicos ou representativos da ordem de grandeza dessas perdas, podem- se considerar aqueles apresentados por Barros e Novais (1990:273). As perdas por erosão podem ser mais acentuadas em solos mais arenosos conforme constatado por Castro et al. (1986). 
  • Esses autores, trabalhando com diversos implementos para preparo de um Podzólico Vermelho-Amarelo, textura arenosa a média e declividade de 10%, em São Paulo, mostraram que o uso de arado escarificador com cinco dentes, comparado com outros métodos de preparo, levou a menores perdas de solo e água com valores de 22,5 t/ha/ano e 121,1 mm/ano, respectivamente (Barros e Novais, 1990:273). 
O impacto ambiental decorrente da perda do solo e sedimentos, por ocasião do desmatamento, deve ser apropriado levando-se em conta o tipo de exploração a ser estabelecida na área desmatada. No caso de virem a se estabelecer outras atividades agropecuárias, com a execução da atividade de carvoejamento apenas no primeiro ano fase de desmatamento, parece razoável apropriar apenas nesse primeiro ano, o custo ambiental daí decorrente, ao custo de produção do carvão vegetal produzido dessa forma. 
  • Assim sendo, pode-se admitir que a ordem de grandeza das perdas de solos e sedimentos decorrentes apenas da remoção da cobertura vegetal (sem incluir as atividades subsequentes de preparo do solo) em florestas nativas, como as formações dos cerrados.
No caso de estabelecimento de florestas de eucalipto para produção de carvão vegetal, pode-se considerar que as perdas de solo e sedimentos no primeiro ano onde ocorre a fase de limpeza e preparo do solo devem se aproximar daquelas. 
  • Para os anos subsequentes e até que o solo esteja novamente coberto, essas perdas devem ser sensivelmente reduzidas, voltando a aumentar por ocasião dos cortes, quando o solo estará novamente descoberto e exposto à ação de máquinas e caminhões. Considerando a exploração de uma floresta de eucalipto nas condições do cerrado, em 3 cortes com ciclos de 7 anos, estima-se em termos médios a perda de cerca de 8 t/ha/ano de solo e sedimento.
Além do custo ambiental referente à depleção dessa parte do capital natural solo , que é retirada de seu ambiente natural, há que se considerar que essas cerca de 8 t/ha/ano de solo irão ter como destino os rios e por fim as represas onde as águas têm uso reprodutivo, como o consumo doméstico, e produtivo como a geração de energia elétrica, por exemplo. 
  • Neste caso, o custo ambiental pode ser relacionado com a redução no volume de água armazenada e a conseqüente redução na geração de energia elétrica, bem como com a redução na vida útil do empreendimento hidrelétrico. Lake e Shady (1993:9) estimam que os custos secundários da erosão por desmatamento são pelo menos duas vezes maiores que aqueles verificados diretamente nas terras agrícolas. 
Esses autores calculam que os prejuízos causados pela erosão aos reservatórios dos Estados Unidos atingem cerca de US$10 bilhões por ano.

Valoração:
  • De acordo com os dados mostrados anteriormente, vê-se que o impacto ambiental decorrente da aceleração do processo erosivo tanto em áreas de matas nativas desmatadas, quanto em áreas ocupadas com florestas energéticas, pode traduzir-se por uma significativa perda de nutrientes do solo bem como por uma redução no volume de água armazenada nas represas que se situarem a jusante. 
A valoração da perda de nutrientes do solo, pode ser efetuada a partir dos dados físicos disponíveis, calculando-se o seu custo de reposição com base nos preços de mercado dos respectivos fertilizantes e adubos que tradicionalmente são utilizados na agricultura. A partir destes dados, pode-se calcular o custo do impacto ambiental em relação à perda de nutrientes do solo, tanto para florestas nativas quanto para florestas plantadas. 
  • A valoração da redução na capacidade de armazenamento de água das represas geradoras de eletricidade, decorrente do processo de assoreamento, pode ser efetuada a partir do cálculo da redução da capacidade geradora de uma UHE típica, até o limite do comprometimento de seu funcionamento. 
Para o presente estudo, considere-se um empreendimento hidrelétrico típico, com potência instalada da ordem de 1200 Mw, um lago com área inundada de 1.200 km 2 , com profundidade média de 10 metros, um volume de água do reservatório de 12 bilhões de m 3 , com um volume crítico de funcionamento de um terço da capacidade inicial do reservatório e construído com um custo de US$ 2.400,00 por kb instalado. 
  • A partir desses dados pode-se inferir sobre o custo ambiental provocado pelo assoreamento decorrente do processo de erosão para uma determinada unidade de área de sua bacia hidrográfica, tendo-se como limite de funcionamento da UHE o momento em que dois terços do volume do reservatório tenha sido assoreado. 
Assim, apurando-se a fração equivalente ao volume do solo carreado de um hectare da bacia hidrográfica da represa em relação ao volume de dois terços da capacidade do reservatório, e calculando-se esta fração em dólares em relação ao investimento total realizado no empreendimento, pode-se estimar o custo ambiental decorrente deste impacto, na situação em questão. 
  • Com esse procedimento, encontra-se que para cada hectare de floresta plantada corresponde uma depreciação na UHE situada a jusante de US$ 2,88 por ano, decorrente do processo de assoreamento. Para o assoreamento provocado pelo desmatamento de florestas nativas, tal valor corresponde a US$ 0,09 por hectare.
Impacto 2: 
Identificação:
  • A destruição das matas nativas piora as condições de vida das populações locais, pela eliminação das atividades extrativas de alimentos e matérias-primas nativas, não cria as condições para a absorção do excedente de mão-de-obra gerado, contribuindo para o êxodo rural e a favelização nos grandes centros urbanos.
Comentários:
  • Nas florestas nativas em geral a diversidade natural do bosque e da fauna constitui-se importante fonte de recursos alimentares, inclusive proteicos, onde é comum a ocorrência de frutos e sementes oleaginosas e, principalmente, de pequenos animais que são consumidos através da caça de subsistência. 
Da mesma forma, constitui-se importante fonte de matérias-primas, representadas por fibras vegetais para a confecção de utensílios domésticos, materiais de construção de habitações rústicas, corantes naturais etc. 
  • De fato, em áreas de relativamente baixa densidade populacional, como ainda hoje se encontra no meio rural da região dos cerrados, as atividades extrativistas representam, na prática, importante fonte de subsistência, mesmo que em caráter complementar às incipientes atividades econômicas locais. 
Por outro lado, a remoção da cobertura vegetal nativa, seja motivada pela expansão da fronteira agrícola, seja para o estabelecimento de grandes projetos florestais, não tem levado os chamados benefícios do desenvolvimento econômico à maioria das populações locais. 
  • Na realidade, o modelo de expansão econômica, baseado em grandes projetos rurais à base de uma agricultura moderna , segue a lógica de intensificação na concentração da renda e sequer consegue absorver sob a forma de trabalho assalariado a população originalmente deslocada. 
O desenvolvimento de áreas de agricultura intensiva em capital mostrou-se incapaz de gerar os empregos necessários para absorver a oferta de trabalho rural, provocando, assim, correntes migratórias para as cidades: 
[...]. A modernização provocou acentuadas mudanças nas relações de trabalho, conduzindo a um assalariamento parcial e precário de antigos parceiros, colonos e moradores, transformados em mão-de-obra temporária e volante, devido ao alargamento da monocultura e o conseqüente aumento da sazonalidade. As monoculturas resultantes da modernização suprimiram culturas de subsistência do trabalhador rural, que se tornou um assalariado em busca de trabalho, quer no campo, quer nas cidades. (Brasil. Presidência da República, 1991:35.) 
Em resumo, por um lado o desmatamento de florestas nativas tira as condições de sobrevivência das populações locais e, por outro, as atividades econômicas que se seguem, baseadas em processos agri-silviculturais modernos, não conseguem absorver o total da mão-de-obra liberada.

Valoração:
  • Conforme Stout (1980:43), para regiões tipo savanas e formações florestais comparáveis aos cerrados, a capacidade de suporte para o sustento de um homem em bases totalmente extrativistas seria de cerca de 150 hectares. 
Considerando que, conforme comentado acima, para a região dos cerrados a atividade extrativista dá-se de forma complementar a alguma atividade econômica, principalmente alguma agricultura de subsistência, pode-se considerar que a área de floresta nativa necessária para complementar o sustento de um homem possa ser reduzida para cerca de 75 hectares. 
  • Ou seja, cada 75 hectares de matas nativas desmatadas significaria o deslocamento de um homem de seu meio natural de sobrevivência. Entretanto, considerando-se que, de cada duas pessoas deslocadas por esse processo, uma seja incorporada localmente ao novo modo de produção capitalista como mão-de-obra assalariada, resultaria que a mão-de-obra de fato deslocada e transformada em potencial corrente migratória seria de uma pessoa para cada 150 hectares. 
Levando em consideração que a área desmatada anualmente no Brasil, com aproveitamento para carvoejamento, pode ser estimada em cerca de 440 mil hectares (Medeiros, 1993:109), tal atividade seria responsável então pelo deslocamento anual de cerca de 3 mil pessoas, que teriam como destino a periferia das grandes cidades. 
  • Se tomarmos o custo social de cada pessoa adulta como sendo da ordem de treze salários mínimos nacionais por ano, cerca de US$ 845,00, verificamos que o custo ambiental decor- rente deste impacto seria de US$ 5,80/hectare, conforme se resume no Quadro 8.
Impacto 3: 
Identificação:
  • A exploração de matas nativas em bases não sustentáveis provoca inexoravelmente uma depleção no capital natural representado pelo recurso natural finito floresta nativa. 
Comentários:
  • A atividade de desmatamento de florestas nativas, realizada a partir de qualquer uma das duas motivações econômicas anteriormente referidas, não considera o valor do material lenhoso nativo como um capital natural escasso e obviamente de natureza finita. 
Nas regiões de expansão da fronteira agrícola, o mato é visto como um empecilho a ser removido, sendo que as terras desmatadas apresentam valor venal muito superior ao das terras com sua cobertura vegetal natural. 
  • Não raro, os proprietários de terras optam pelo não aproveitamento do material lenhoso através do carvoejamento, movidos pela pressa em liberar o solo para as atividades agrícolas e/ou pecuárias. Tal situação pôde ser observada com muita freqüência na região do Triângulo Mineiro. 
Nessa região, a produção de carvão vegetal é, quase sempre, uma forma para se aproveitar o material lenhoso arrancado com tratores e correntões para outros fins, como formação de pastagens ou áreas agricultáveis. No entanto, nem sempre isso acontece. 
Devido à alta produtividade do solo, o aproveitamento da madeira para o carvoejamento nem sempre é possível porque, como disse um lavrador entrevistado 
[...], o carvão é moroso, toma tempo e, para se ter uma idéia, numa área de 50 alqueires, ou 250 hectares, levaríamos um tempo de 14 a 15 meses, mais ou menos, para fazer a sua limpeza. Mas as pessoas têm pressa e fazem um programa para desmatar esse ano e, dentro de seis meses, desmatam tudo. O que fazer? Colocar fogo no material lenhoso. Um mundo de florestas foi queimado. (Fundação João Pinheiro, 1988:29).
Mais recentemente, e naquelas regiões mais próximas ao grande centro consumidor de carvão vegetal, representado pela região de Belo Horizonte e Sete Lagoas em Minas Gerais, onde as florestas nativas já foram quase que totalmente eliminadas, o material lenhoso de fato adquire valor de mercado. 
  • É preciso salientar ainda que, de uma forma muito mais dispersa e em volumes de consumo muito inferiores ao do setor siderúrgico, existe um mercado consumidor de lenha nativa, representado por pequenas indústrias cerâmicas, de panificação e armazéns secadores de grãos. 
Nesses casos, apenas para regiões como essas, é que se tem atribuído algum valor para o material lenhoso das matas nativas. Observe-se ainda que, mesmo nesses casos, o preço da lenha em pé quase não participa, ou participa em pequena proporção, na formação do custo da lenha posta no pátio do consumidor. 
  • Conforme planilha de custos para a fabricação de carvão vegetal de matas nativas, fornecida pela ABRACAVE, o custo da lenha em pé em outubro de 1993 foi estimado como sendo de US$ 1,00 por m 3 st, para um custo de produção FOB (na carvoaria) de US$ 12,03 por m 3 de carvão. 
Como regra geral, portanto, verifica-se que nenhum ou quase nenhum valor é atribuído ao recurso natural material lenhoso produzido em decorrência da atividade de desmatamento.

Valoração:
  • Para se atribuir um valor de mercado para o recurso natural representado pelo material lenhoso de matas nativas, ou seja, a lenha em pé , pode-se tomar como base o valor pago à lenha em pé de eucalipto destinado à produção de carvão vegetal. 
A maioria da área florestal plantada com eucalipto em Minas Gerais tinha como objetivo o atendimento da demanda da siderurgia a carvão vegetal. Entretanto, observa-se hoje uma tendência do setor florestal em buscar outras utilizações para estes maciços, que apresentem melhor retorno do capital investido. 
  • As constantes expansões do parque produtor de celulose e papel e a maior rentabilidade desse segmento tornam-no, sem dúvida, potencial concorrente do carvão vegetal pela lenha de eucalipto (Magalhães, 1993:248). Para o presente exercício, pode-se tomar como base o custo da lenha em pé de eucalipto para carvoejamento, ou seja, US$ 5,00 por m 3 st. 
Em seguida é preciso considerar os coeficientes de rendimento da lenha de eucalipto em relação à lenha nativa para a atividade de carvoejamento, ou seja, 1m 3 st de lenha de eucalipto equivale a 1,5 m 3 st de lenha nativa. 
  • Considerando-se estes parâmetros, pode-se avaliar que o custo ambiental decorrente da utilização do recurso natural material lenhoso de matas nativas pode ser apropriado como sendo de US$ 3,33 por m 3 st de lenha na mata, ou seja, US$ 10,00 por m 3 de carvão vegetal produzido. Apresentando os dados do mesmo modo que os impactos anteriores.

Aspectos econômicos-ecológicos da produção
e utilização do carvão vegetal na siderurgia brasileira

Impacto 4: 
Identificação:
  • A remoção da cobertura vegetal natural altera o estoque de Carbono imobilizado na biomassa vegetal, podendo acarretar um incremento líquido na quantidade de CO2 atmosférico, contribuindo para o aumento do efeito estufa global.
Comentários:
  • A substituição da cobertura vegetal natural de um ecossistema, seja por culturas agrícolas, pastagens ou florestas plantadas, implica variações na quantidade de biomassa atual em relação à biomassa original. 
A redução do estoque de biomassa original implica a emissão líquida de carbono sob a forma de CO2 para a atmosfera, potencializando mudanças no clima global do planeta, em particular aquelas relacionadas com o efeito estufa. Por sua vez, o incremento em dado momento do estoque de biomassa de uma determinada área significa a captura ou sequestro de carbono da atmosfera, o qual passaria a ficar imobilizado na biomassa vegetal. 
  • Uma área de reflorestamento para fins energéticos pode ser idealizada como um reservatório dinâmico de carbono, uma vez que são cortadas periodicamente, fazendo variar ao longo do tempo o estoque de biomassa. Já uma área constituída de florestas nativas pode ser idealizada como um reservatório permanente de carbono, uma vez que ao atingir o clímax o seu estoque de biomassa permanece estável. 
Do ponto de vista do balanço da biomassa ao longo do tempo, o manejo das florestas energéticas de ciclo curto aproxima esta atividade das explorações agrícolas convencionais, com um estoque médio residente de biomassa muito menor, se comparada a uma floresta adulta e em clímax. 
  • Ou seja, parte-se de um momento zero com nenhum estoque de biomassa na fase de plantio da floresta energética; chega-se a um estoque máximo de biomassa após decorrido o tempo de crescimento às vésperas do corte; após o corte volta-se à situação inicial com praticamente nenhum estoque de biomassa acumulada; com a brotação reinicia-se o ciclo; e assim sucessivamente. 
Assim sendo, em termos de captação de CO2 atmosférico, o mais correto parece ser considerar em termos médios o estoque de biomassa como sendo a produção de biomassa acumulada durante a fase de crescimento da floresta, dividida pelo número de anos de crescimento, ou seja, a quantidade equivalente à biomassa contida no incremento médio anual. Tem-se duas formas de comparar a atividade de florestamento para fins energéticos em termos de balanço de CO2: 
  1. Considerando que na área a ser florestada já não existe a biomassa original. Seria o caso de áreas sob exploração agropecuária ou mesmo áreas degradadas. Na prática, esta pode ser uma situação não raro encontrada. Neste caso a implantação da floresta energética, mesmo de ciclo curto, poderá representar uma captação líquida de CO2 atmosférico; e 
  2. Considerando que na área onde será implantada a floresta energética existe a cobertura vegetal original em qualquer de suas tipologias. 
Em termos conceituais esta seria a situação a ser considerada. Neste caso a implantação da floresta energética poderá implicar uma liberação líquida de CO2 para a atmosfera. 
  • Para a finalidade do presente exercício, proceder-se-á a um balanço do carbono liberado ou imobilizado, considerando a existência a priori de uma cobertura vegetal numa daquelas tipologias apresentadas inicialmente e para as quais será utilizado um valor médio, procurando-se ponderar as proporções com que essas tipologias se apresentam nas áreas de matas nativas desmatadas no Brasil. 
Apresenta-se o balanço de CO2 para a substituição das matas nativas por florestas energéticas de eucalipto. No Quadro 12 apresenta-se o balanço de CO2 para a substituição das matas nativas por culturas de grãos, como milho e soja, nas condições da região em questão. 
  • Mostra-se o balanço de CO2 para a substituição das matas nativas por pastagens, nas condições da região em questão. Para a estimativa do carbono liberado anualmente em decorrência da atividade de carvoejamento para a siderurgia, deve-se considerar inicialmente a área de matas nativas desmatada, a qual foi estimada em torno de 440 mil hectares por ano (Medeiros, 1993:109). 
Tomando como base a meta da auto-suficiência florestal até 1999 para os grandes consumidores de carvão vegetal, determinada pela lei estadual 10.561/91 de Minas Gerais, estima-se que haveria a necessidade de plantio de cerca de 200 mil ha/ano de florestas de eucalipto para carvoejamento, até aquele ano. 
  • Daí resulta razoável estimar em torno desse valor a parcela da área de florestas nativas desmatadas anualmente destinada à implantação de florestas energéticas de eucalipto. Complementarmente, pode-se considerar que a utilização do restante da área de matas nativas desmatadas anualmente, ou seja, 240.000 hectares, seja destinada em partes iguais para a implantação de pastagens e de culturas agrícolas. 
Por outro lado, admite-se que, ao se contabilizar a área cortada anualmente de florestas de eucalipto existentes, destinada à siderurgia e que está estimada em torno de 250 mil hectares, de um total de 2 milhões hectares, a quantidade de carbono liberada naquele ano por ocasião do corte terá sido absorvida ou imobilizada pelo crescimento do restante da área no mesmo período. 
  • Apresenta-se o balanço consolidado de carbono e CO2 liberados anualmente para a atmosfera, em decorrência do desmatamento de matas nativas e o conseqüente uso do solo para outras atividades econômicas. 
Valoração:
  • Conhecendo-se as quantidades por hectare de carbono ou CO2 liberadas em decorrência do desmatamento e implantação de atividades agro-silvo-pastoris, pode-se estabelecer a correlação em termos de US$/ha provocada por este efeito, ou em termos de US$/t de carvão produzida em decorrência da atividade de desmatamento. Para tanto, torna-se necessário conhecer o custo ambiental provocado pelo lançamento de 1 tonelada de carbono ou de CO2 na atmosfera.
Dentre as muitas propostas que surgiram atualmente para redução da emissão de gás carbônico, uma tem sido a de utilizar a floresta como reservatório de carbono, através da redução do desmatamento. Schneider, avaliando o retorno por hectare da agricultura da Amazônia e comparando com o custo para redução de emissão de gás carbônico nos países do norte, mostra que a troca é vantajosa para ambos os lados considerando o valor entre US$ 3,75 e US$ 43,70 por tonelada de carbono emitida. (Almeida & Uhl, 1993:14) 
  • Mesmo considerando que as atividades agro-silvo-pastoris na região dos cerrados apresentam rentabilidade maior que aquelas praticadas na Amazônia, e que portanto custaria mais caro desestimular o uso das matas nativas naquela região, pode-se escolher, de forma razoavelmente conservadora, um valor intermediário da ordem de US$ 24,00 para o custo de 1 tonelada de carbono liberada para a atmosfera.
Impacto 5: 
Identificação:
  • A floresta de eucalipto pode reduzir significativamente a produção de água de uma bacia hidrográfica, principalmente naquelas áreas de cobertura vegetal menos densa, como é o caso dos cerrados e campos. 
Comentários:
  • Dentre os impactos ambientais atribuídos aos plantios em larga escala de eucalipto, aqueles efeitos sobre a água da chuva, do solo e a água subterrânea têm sido amplamente reconhecidos até mesmo pelos defensores dessa importante essência florestal. 
Em relação ao efeito sobre as chuvas, ele manifesta-se principalmente em decorrência da interceptação destas pela copa das árvores. Um efeito hidrológico mais significativo da floresta no que diz respeito à precipitação está relacionado com o processo de interceptação das chuvas, pelo qual a precipitação incidente é redistribuída pela copa da floresta e parte é perdida por evaporação direta da água interceptada [...]
[...] De fato, quando se comparam os efeitos resultantes do florestamento de áreas de campo limpo, ou de pastagem, ou qualquer outra vegetação aberta, é bastante provável que ocorra uma redução da produção de água pela bacia hidrográfica, de aproximadamente 20 por cento, enquanto as perdas evaporativas da bacia poderiam, eventualmente, quase que duplicar. (Lima, 1993:54) 
Mesmo considerando que o efeito de interceptação da chuva também pode se manifestar com intensidade semelhante para outras essências utilizadas em formações florestais e mesmo em florestas nativas mais densas, é fato reconhecido que comparativamente às formações típicas como cerrado, cerradinho, campo limpo etc., esse efeito implica perdas significativas de produção de água da bacia hidrográfica. 
  • Além do efeito da interceptação das chuvas, o efeito do eucalipto sobre a água do solo e a água subterrânea tem sido um dos aspectos mais discutidos em relação aos impactos ambientais dessa essência. Sobre esse assunto, a bibliografia disponível é vasta e controversa, predominando a impressão de que as espécies de eucalipto são capazes de absorver água subsuperficial de forma mais intensa do que outras espécies florestais.
Em experimento realizado no estado de Minas Gerais, Lima et al. (1990), citado por Lima (1993:85), relatam a ocorrência de uma redução de cerca de 230 mm na água de drenagem de uma área de cerrado nativo em comparação com a mesma área reflorestada com Eucalyptus grandis com cinco anos de idade. 
  • Apesar de aquele autor registrar que essa redução se dá em parte devido à maior produção de biomassa pelo eucalipto, o fato é que a produção de água da bacia hidrográfica sofrerá redução também por este motivo. 
Mesmo ressalvando que as referidas perdas poderão ser menores se compararmos as áreas com eucalipto com aquelas com cobertura vegetal mais compacta, como florestas densas e cerradões, deve-se considerar que a participação de cerrados e formações vegetais menos densas representam a maior parte da área atualmente desmatada no país para carvoejamento (Medeiros, 1993:112). 
  • Considerando a precipitação média anual na região dos cerrados em torno de 1.200 mm e levando em conta a ressalva acima observada, a ponderação para uma estimativa média da perda de água decorrente desses efeitos estaria bem atendida se admitíssemos uma diminuição na produção de água de uma bacia hidrográfica nessa região em torno de 300 mm ou 3.000 m 3 /ha de água, que seria subtraída da alimentação dos rios e represas a jusante. 
Valoração:
  • A diminuição na produção de água de uma bacia hidrográfica vai se manifestar negativamente em relação às necessidades de todos os usuários localizados a jusante, em atividades tais como consumo doméstico e de animais, irrigação e, em grande escala, na geração de energia elétrica em cada uma das UHEs que se localizarem abaixo da bacia hidrográfica. 
De forma simplificada, pode-se tomar o efeito negativo sobre a geração de eletricidade como parâmetro para estimar o custo decorrente desse impacto ambiental. Se for considerado que, desse volume de água subtraído, cerca de 60% seria turbinado para geração de energia elétrica ao longo de 1 ano, obtém-se que a redução no volume de água turbinada em cada hidrelétrica situada a jusante da bacia hidrográfica seria de 1.800 m 3 por hectare de eucaliptal por ano. 
  • Tal volume de água turbinada em uma UHE típica, com cerca de 60 metros de altura de queda de projeto, e com eficiência de geração de 85%, geraria ao longo de 1 ano cerca de 255 kw.h de energia elétrica. Se forem consideradas pelo menos 4 UHEs existentes rio abaixo, pode-se estimar em cerca de 1 Mw.h a energia subtraída em decorrência da redução na produção de água de 1 hectare de bacia hidrográfica em um ano. 
Em termos de valoração dessa quantidade de energia, pode-se admitir o custo marginal de geração atualmente considerado para o setor elétrico, o qual tem sido divulgado como em torno de US$ 60,00/Mw.h.

Impacto 6: 
Identificação:
  • A utilização de carvão vegetal nas usinas siderúrgicas provoca a geração e emissão de poluentes, tais como CO2, CO, particulados e deposição de pós e sólidos tais como escória e finos de carvão. Comentários 
Em termos de consumo específico, verifica-se que, para cada tonelada de ferrogusa produzida na siderurgia a carvão vegetal, são consumidos: 1.600 kg de minério de ferro; 100 kg de calcário; 65 kg de quartzo; 40 kg de manganês; 2.840 kg de ar de combustão do alto-forno; e 1.460 kg de ar de combustão dos pré-aquecedores. 
  • Em contrapartida, para cada tonelada de ferro-gusa produzida na siderurgia a carvão vegetal, são expelidos: 150 kg de escória; 40 kg de finos de carvão (no peneiramento e alimentação do alto-forno); 1.730 kg de gás de alto-forno (excesso); e 4.060 kg de gases de exaustão (dos pré-aquecedores) (CEMIG, 1988:150). 
Considerando os consumos específicos dos insumos utilizados na siderurgia a carvão vegetal, verifica-se que a cada ano são mineradas, produzidas e transportadas: mais de 11,5 milhões de toneladas de minério de ferro; mais de 440 mil toneladas de quartzo; mais de 680 mil toneladas de calcário; mais de 270 mil toneladas de manganês; e mais de 27,4 milhões de metros cúbicos de carvão vegetal. 
  • O minério é transportado a distâncias que variam entre 10 e 100 km (em média), das minas até os silos de estocagem. A forma de transporte mais comum são caminhões a diesel. Uma pequena parcela é transportada por via férrea. 
Os depósitos de calcário industrial que fornecem o insumo para as usinas não integradas situam-se, em geral, dentro de um raio de 200 km. O transporte é feito por via rodoviária e as jazidas do mineral geralmente pertencem a proprietários independentes, que fornecem o produto para uma série de indústrias. 
  • A sílica e o minério de manganês geralmente são obtidos não muito distantes das usinas e são transportados por caminhões. Em geral nos locais de extração/mineração são produzidos fortes impactos ambientais. 
Todas essas operações de transporte, manuseio, peneiramento e carregamento de fundentes provocam a disposição, deposição e emissão de pós, particulados nos locais de mineração/produção, durante o transporte e nas cercanias das usinas. 
  • Durante o processo de produção, manuseio e consumo do carvão vegetal são gerados finos que possuem grande poder de poluição. A geração de finos de carvão vegetal está por volta de 25%, considerando-se desde a sua fabricação até sua entrada nos aparelhos de redução. Essa geração de finos está assim distribuída: nas carvoarias 3,7%; no carregamento e transporte 5,8%; na armazenagem 6,3%; e no peneiramento 9,4% (Gomes e Oliveira, 1980). 
A maior parte dos finos gerados no setor independente de produção de ferro-gusa não é aproveitada, constituindo-se num rejeito do processo siderúrgico de difícil manuseio e grande ação poluidora. Apenas uma parte desses finos que são gerados nas usinas integradas são aproveitados no processo ou são vendidos para outras indústrias como a cimenteira (CEMIG, 1988:116).

Valoração:
  • Mesmo levando em conta todo esse potencial poluidor da atividade siderúrgica, considerar-se-á no presente exercício apenas aquele efeito diretamente decorrente da produção, transporte e manuseio do carvão vegetal até a boca do alto-forno, admitindo-se que, a partir daí, a análise do custo ambiental do processo industrial de fabricação de ferro-gusa merecerá uma análise bem mais extensa e que deverá ser objeto de um outro exercício de avaliação. 
Dessa forma, procurar-se-á valorar o custo ambiental decorrente da enorme quantidade de finos de carvão produzidos e depositados por essa atividade. Conforme foi comentado, cerca de 25% do carvão vegetal produzido é reduzido à condição de finos, o que equivale a cerca de 1,8 milhões de tonelada de pó de carvão vegetal por ano. 
  • Algumas empresas conseguem comercializar os finos de carvão produzidos em suas usinas para outras indústrias (principalmente fábricas de cimento) que os utilizam como energético em seus processos produtivos. Entretanto, a maior parte dos finos gerados no setor independente de produção de gusa não é aproveitada industrialmente, vindo a se constituir em um rejeito do processo siderúrgico de difícil manuseio e grande ação poluidora. (CEMIG, 1988:233) 
Pode-se considerar, mesmo de forma conservadora, que cerca de dois terços, ou seja, 1,2 milhão de toneladas anuais de finos de carvão são produzidas como rejeito e vão poluir diretamente os solos, cursos de água e mesmo a área urbana de cidades próximas às siderúrgicas. 
  • O destino final dessa carga poluidora será sempre os cursos d'água trazendo como conseqüência a poluição desta e encarecendo o seu tratamento para uso humano e mesmo industrial. Tal carga poluidora seria suficiente para poluir a um nível 1% de sólidos em suspensão cerca de 120 milhões de metros cúbicos de água. O custo ambiental daí decorrente pode ser avaliado estimando-se o custo necessário para tratamento e recuperação das águas assim poluídas. 
Considerando um custo da ordem de US$0,15/m 3 para o tratamento e recuperação dessa água, verifica-se que o custo ambiental decorrente da produção e deposição de finos de carvão, oriundos da produção de carvão vegetal em cerca de 440 mil ha de matas nativas e cerca de 250 mil ha de eucaliptais anualmente, pode atingir valores da ordem de US$ 18 milhões. 
  • Conforme ressalvado anteriormente, não se pretende que os custos ambientais encontrados no presente exercício de valoração sejam a expressão real de todos os prejuízos ambientais decorrentes da produção e utilização de carvão vegetal na siderurgia. 
Na verdade, a escolha de apenas seis impactos ambientais dentre tantos impactos passíveis de identificação já reconhece a priori a limitação do presente procedimento. Entretanto, estes impactos analisados dizem respeito a prejuízos ambientais já perfeitamente identificados e fisicamente quantificados pela literatura técnico-científica pertinente, além do que os seus efeitos ecológicos pareceram mais próximos de serem exprimidos em termos econômicos. 
  • O exposto acima significa que, por um lado, prejuízos ecológicos importantíssimos como, por exemplo, a extinção de uma espécie não foram considerados devido à dupla dificuldade de não se dispor de dados quantitativos relativos à dinâmica das populações das diversas espécies e do grau de dificuldade advindo de atribuir importância relativa entre as espécies ou de calcular o valor econômico dos últimos espécimes de determinada espécie. 
Entretanto, por outro lado, o acima exposto tem o significado de que pelo menos os valores encontrados para os custos ambientais estudados representam a ordem de grandeza de externalidades e bens livres que, uma vez expressos em unidades monetárias, pode ser considerada no âmbito das discussões que deverão passar a nortear os conceitos de Desenvolvimento Sustentável , na atividade econômica em questão. 
  • Dentro dessa perspectiva, obteve-se então a estimativa dos custos ambientais decorrentes da produção e utilização do carvão vegetal na siderurgia. Considerando o consumo específico de 875 kg de carvão vegetal por tonelada de gusa, verifica-se que a apropriação dos custos ambientais em questão seria da ordem de US$ 75,51 por tonelada de gusa, quando o carvão vegetal tivesse origem de matas nativas e de US$ 57,84 por tonelada de gusa, quando o carvão vegetal tivesse origem de florestas plantadas. 
Tomando-se como referência o ano de 1992 em que, de um total de 6,8 milhões de toneladas de ferro-gusa a carvão vegetal produzidas no Brasil, cerca de 4,2 milhões foram fabricadas com carvão vegetal de matas nativas e 2,6 milhões com o produto de florestas plantadas, a apropriação dos custos ambientais a nível desse setor da siderurgia nacional implicaria um custo adicional da ordem de US$ 317 milhões para o primeiro caso e de US$ 150 milhões para o segundo caso, totalizando US$ 467 milhões para o setor. 
  • Como uma vez produzido o ferro-gusa não se pode distinguir a origem do carvão vegetal utilizado, pode ser necessário encontrar um valor médio para o custo ambiental de produção de 1 tonelada de ferro-gusa, ponderando a participação do carvão vegetal conforme a origem seja de florestas nativas (61,1%) ou de florestas plantadas (38,9%). 
Assim procedendo, pode ser considerado um valor médio de US$ 68,64 para o custo ambiental da produção de 1 tonelada de ferrogusa produzida no país Nos últimos anos a exportação de ferro-gusa da siderurgia a carvão vegetal tem se mantido em torno de 35% da produção nacional, ou seja, tem oscilado em torno de 2,5 milhões de toneladas anuais. 
  • Particularmente, o ano de 1993 foi considerado um ano totalmente atípico, com o menor volume de exportações de ferro-gusa dos últimos dez anos, cerca de 1,8 milhão de toneladas. Para 1994, segundo projeções da Associação Brasileira de Produtores de Ferro-Gusa (ABPG), o setor deverá experimentar sensível recuperação, devendo atingir cerca de 2,8 milhões de toneladas exportadas. 
O referido aumento tem sido explicado pela entrada dos Estados Unidos no mercado internacional, comprando ferro-gusa a partir do início do corrente ano, o que por sua vez é explicado pela recuperação da economia americana e pelo aumento do preço da sucata de ferro, cuja oferta diminuiu em decorrência do período recessivo imediatamente anterior. 
  • Em decorrência do aumento das exportações, o preço do ferro-gusa vem experimentando sensível recuperação, depois de ter chegado a seu nível mais baixo em 1992, quando ficou em torno de US$ 74,00 por tonelada. A preços de março de 1994, o ferro-gusa no mercado internacional tem se situado em torno de US$ 140,00 por tonelada. 
Apesar desse processo de recuperação, acredita-se que a situação do mercado tenha se estabilizado neste patamar, nada indicando que a curto prazo possa chegar aos valores mais elevados já atingidos por esse produto, como em 1989, quando os preços médios praticados no mercado internacional situaram-se em torno de US$ 170,00 por tonelada. 
  • Os principais fatores conjunturais que têm contribuído para a variação dos preços do ferro-gusa têm sido: a escassez da sucata de ferro, cujo preço se elevou para US$ 144,00 a tonelada, e a saída da ex-União Soviética do mercado internacional de ferro-gusa. Assim como o preço internacional da sucata de ferro influi no preço internacional do gusa, este por sua vez determina o preço do carvão vegetal no mercado interno brasileiro. 
Dentre os componentes do custo de produção do ferro-gusa a carvão vegetal, esse redutor é de longe o item que incide em maior proporção, contribuindo com cerca de 70% de tal custo. Conforme se observa neste Quadro, a rentabilidade desse processo industrial depende basicamente do preço de aquisição do carvão vegetal e, por conseguinte, a incorporação dos custos ambientais envolvidos na produção e utilização desse redutor pode vir a ser uma estratégia necessária para discussão da sustentabilidade de tal atividade econômica. 
  • Nesse caso, o custo de produção de 1 tonelada de ferro-gusa para exportação, a preços FOB, não estaria saindo por menos de US$ 170,00. 
Conclusões:
  • Dentre os diversos impactos sobre o meio ambiente, provocados pela atividade de produção e utilização do carvão vegetal na siderurgia, é possível, a partir da identificação e quantificação física desses impactos, a determinação de valores monetários estimativos, de forma a permitir a discussão sobre as possibilidades de apropriar esses custos, nos custos efetivos de produção dessa atividade econômica, se não no nível da indústria, pelo menos no nível das contas nacionais. 
Mesmo com as limitações metodológicas que dificultam e até impedem a valoração de importantes custos ambientais, como, por exemplo, risco de extinção de uma espécie , os resultados encontrados para aqueles impactos mais facilmente valoráveis podem ter o significado de que pelo menos estes custos, que até então têm sido tratados como externalidades e/ou bens livres, possuem significado e expressão econômica. 
  • O custo estimado para os impactos ambientais em nível nacional, decorrentes da produção e utilização do carvão vegetal na siderurgia, em torno de US$ 467 milhões por ano, representa quase a metade de todo o faturamento com o produto ferro-gusa, ou seja, cerca de US$ 952 milhões. 
O custo marginal (de produção) do ferro-gusa a carvão vegetal para exportação, incluindo os custos ambientais, estaria em torno de US$ 170 por tonelada, sendo que o seu preço no mercado internacional só atingiu este valor durante o ano de 1989. 
  • As discussões sobre a sustentabilidade dessa atividade econômica deveriam passar a considerar a necessidade de mecanismos de reinvestimentos compensatórios na área de meio ambiente, naqueles pontos mais afetados e aqui analisados, pelo menos na ordem de grandeza dos valores estimados. 
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Aspectos econômicos-ecológicos da produção
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