quinta-feira, 14 de abril de 2016

Capitalismo e Entropia: Os Aspectos Ideológicos de uma contradição e a busca de alternativas Sustentáveis

Capitalismo e Entropia: 
Os Aspectos Ideológicos de uma Contradição 
e a busca de alternativas Sustentáveis

Andri Werner Stahel.

  • O conceito de desenvolvimento sustentável é bastante recente. Surgido na década de 70, ele aparece nos relatórios da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN em suas iniciais inglesas) no início dos anos 80, sendo posteriormente popularizado pelo chamado Relatório Brundtland (Nosso futuro comum) de 1987. 
Rapidamente assimilado, este conceito está hoje no centro de todo o discurso ecológico oficial, sem que haja um mínimo consenso quanto ao seu significado e sem que sequer se tenha colocado a questão, no entanto crucial, se tal conceito tem algum sentido dentro do quadro institucional e econômico atual, o capitalismo. 
  • Ao buscar-se um desenvolvimento sustentável hoje está-se, ao menos implicitamente, pensando em um desenvolvimento capitalista sustentável, ou seja, uma sustentabilidade dentro do quadro institucional de um capitalismo de mercado. 
No entanto, não se colocando a questão básica quanto à própria possibilidade de uma tal sustentabilidade, o conceito corre o risco de tornar-se um conceito vazio, servindo apenas para dar uma nova legitimidade para a expansão insustentável do capitalismo. 
  • É nesse sentido que se procurará, neste texto, inserir a questão da sustentabilidade em uma discussão mais ampla quanto à própria sustentabilidade do sistema industrial-capitalista, discutindo-se, nas palavras de Castoriadis, a solubilidade do capitalismo na ecologia (Castoriadis, 1992:16). 
Para tal, analisaremos a dinâmica de funcionamento do capitalismo a partir da noção de entropia, oriunda da termodinâmica. Esse procedimento nos permite aclarar algumas questões que nos parecem fundamentais, freqüentemente ignoradas em discussões que não tomam a questão em sua verdadeira dimensão histórica. 
  • Sobretudo, ela lança uma nova luz sobre a questão política, que emerge como central a toda busca de desenvolvimentos sustentáveis, uma vez que, como procuraremos mostrar, uma sociedade sustentável depende antes de tudo de uma reconstrução política total da sociedade contemporânea. 
A Lei da Entropia:
  • Conforme mostra Georgescu-Roegen (1971:3), a lei da entropia pode ser vista como a mais econômica das leis físicas. Paradoxalmente, no entanto, a ciência econômica surgiu aferrada ao paradigma mecanicista, ao mesmo tempo em que a termodinâmica desferia o primeiro duro golpe na física newtoniana. 
Tal filiação epistemológica certamente está na origem do crescente distanciamento da ciência econômica da realidade concreta, sobretudo quanto a sua negligência frente à base material do próprio processo econômico e assim a sua incapacidade de dar conta do aspecto histórico e irreversível do processo de desenvolvimento. 
  • A atual crise ambiental e a busca de um desenvolvimento sustentável tornam urgente a inclusão da problemática da entropia no pensamento econômico, uma vez que o que ameaça a sustentabilidade do processo econômico é justamente a base material que lhe serve de suporte, bem como a capacidade do meio de absorver a alta entropia resultante do processo econômico (Georgescu-Roegen, 1971:2).
A termodinâmica nasceu com os estudos de Sadi Carnot quanto à economia dos processos físicos de uma máquina a vapor, em 1824. Apontando para o fato de que o calor se move de forma espontânea e irreversível de um corpo quente para o frio, Carnot criou as bases para a formulação posterior por R. Clausius das Leis da Termodinâmica, em 1865. 
  • Em sua formulação mais simples, nós podemos ver a tendência a uma entropia crescente de um sistema fechado, dada pela segunda lei da termodinâmica, como uma tendência à transformação da energia livre ou disponível em uma energia dissipada ou presa e não mais disponível. 
Trata-se de uma transformação qualitativa, já que do ponto de vista quantitativo, no sistema como um todo, continua prevalecendo a lei da conservação da matéria e da energia, dada pela primeira lei da termodinâmica. 
  • Enquanto a primeira lei da termodinâmica afirma que em um sistema fechado a quantidade total de energia e matéria é invariável (sendo compatível com o paradigma newtoniano), a segunda lei da termodinâmica, ou lei da entropia, ao apontar para um movimento irreversível, unidirecional e para uma alteração qualitativa, põe em xeque a física mecânica e a sua visão circular, reversível e puramente quantitativa do movimento. 
A queima de carvão, com a conseqüente dissipação do calor pelo sistema e a transformação do carvão em cinzas é um exemplo de um fenômeno entrópico, como o são o desgaste dos pneus no asfalto, a oxidação dos metais e o fluir das águas para o mar. 
  • O nível entrópico seria, nesse sentido, um índice de disponibilidade de energia e matéria em sua forma ordenada, ou, em termos gerais, da ordem de um sistema (Georgescu-Roegen, 1971:4-5). A vida se sustenta enquanto capacidade de manter a estrutura frente à pressão e ao desgaste da entropia, da morte. 
Enquanto Roegen sustenta que a não degradação entrópica dos organismos vivos individuais é conseguida apenas às custas de uma aceleração da degradação entrópica do sistema como um todo, Goldsmith aponta para a evidência de mais de três bilhões de anos da existência da vida sobre a Terra, em uma diversidade e complexidade de estruturas crescentes. 
  • Enquanto Roegen sustenta o caráter universal da lei da entropia (Georgescu-Roegen, 1971:9), Goldsmith aponta para o fato de que tal suposição não repousa em nenhuma fundamentação teórica ou empírica. 
Do ponto de vista da biosfera, a terra é não só um sistema aberto em termos energéticos (já que a vida se sustenta pela absorção da baixa entropia solar), como também um sistema estável do ponto de vista material, já que a sustentabilidade da biosfera se baseia justamente na sua capacidade de reciclagem material, opondo-se à entropia material (Georgescu-Roegen, 1971:55; Goldsmith, 1992:382-91). 
  • A universalidade ou não da lei da entropia não é relevante para a nossa discussão aqui, sendo o que nos interessa a questão de como o processo econômico se apresenta do ponto de vista entrópico e, mais ainda, como se apresenta o sistema industrial-capitalista a partir dessa perspectiva. 
A contribuição de Roegen quanto ao fato de que o processo econômico é, do ponto de vista físico, uma transformação de energia e de recursos naturais disponíveis (baixa entropia) em lixo e poluição (alta entropia) traz uma luz nova e fundamental ao problema da sustentabilidade (Georgescu-Roegen, 1971:292 e 305). 
  • Como não se trata de discutir a sustentabilidade em termos abstratos, mas sim a sustentabilidade ou não do processo de desenvolvimento capitalista, cumpre aqui identificar qual é a força essencial que se encontra na base da dinâmica capitalista, para então podermos discutir a sua sustentabilidade ou não.
Desenvolvimento:
  • Capitalista Sem nos alongarmos nessa discussão, cumpre aqui apenas lembrar aquilo que Marx já mostrou com maestria há mais de um século. Na base do desenvolvimento capitalista está o capital, entidade que só tem existência como processo ou movimento, naquilo que Marx chamou de circuito do capital (D-M-D'). 
A base de funcionamento do capitalismo como um todo está assim dada pela busca de expansão do capital, obtida na produção de mercadorias cujo valor de troca suplante o despendido na produção. 
  • Cumpre lembrar que, do ponto de vista global, tanto o capital financeiro D-D', quanto o capital comercial, apenas se apropriam de parcela do excedente gerado na produção, podendo assim ser desprezados em uma análise global do processo (Marx, 1975:165-75). 
A busca de expansão constante é, assim, inerente ao próprio capitalismo, ou, nas palavras de Marx, A circulação de dinheiro como capital, ao contrário, tem sua finalidade em si mesma, pois a expansão do valor só existe nesse movimento continuamente renovado. Por isso, o movimento do capital não tem limites (Marx, 1975:171). 
  • Trata-se de um objetivo puramente quantitativo (daí, nas palavras de Marx, a primazia do valor-de-troca sobre o valor-de-uso no capitalismo), sancionado pela unidimensionalidade do mercado. Calcado em um critério monetário, quantitativo e unidimensional, o mercado direciona e sanciona os desenvolvimentos compatíveis com a lógica de acumulação e de expansão capitalista. 
A eficiência produtiva, mesmo que às custas de uma ineficiência social ou de uma ineficiência ambiental (as externalidades negativas para os economistas), é uma necessidade de sobrevivência no quadro de um capitalismo de mercado. 
  • Enquanto em outras culturas os critérios de sanção social responsáveis, por exemplo, pela adoção ou não de uma nova tecnologia, eram calcados em critérios qualitativos (culturais, éticos e religiosos, como o são as tradições, as crenças míticas, os valores comunitários etc.), no capitalismo tal desenvolvimento vai ser sancionado e dirigido pelas forças de mercado, pela sua capacidade de gerar lucro ou não. 
Em outras palavras, enquanto em outras sociedades o próprio crescimento econômico e tecnológico estava sujeito a um controle político da sociedade, no capitalismo tal desenvolvimento pode buscar a sua livre expansão no mercado, dirigido e sancionado pela concorrência econômica..
  • Do controle qualitativo, passamos à primazia do quantitativo. Neste sentido, podemos ver que a principal contribuição da Economia Política inglesa, em particular do seu fundador Adam Smith, não está em sua doutrina econômica, mas sim em sua doutrina dos benefícios coletivos decorrentes das ações egoisticamente motivadas dos diferentes agentes individuais, dirigidas e sancionadas pela mão invisível do livre mercado. 
Tal doutrina, que Smith não fundamenta em termos teóricos mas apenas expõe como verdadeira (baseando-se em alguns exemplos práticos, como o do padeiro trabalhando para fornecer um pão de qualidade para a coletividade, motivado pela sua ganância de lucro), é de importância capital para a própria legitimidade de um sistema baseado nos mecanismos de mercado. 
  • Enquanto no início tal doutrina servia para legitimar o capitalismo que se consolidava frente ao sistema feudal, hoje ela ainda constitui a pedra angular de todo o liberalismo econômico, que vê nos mecanismos de mercado um eficiente instrumento de sanção social e a melhor forma de dirigir-se o desenvolvimento econômico e social. 
Enquanto afirmação de caráter legitimador-ideológico, tal doutrina não repousa em nenhuma fundamentação teórico-lógica, sendo que a atual crise geral da sociedade coloca crescentemente em xeque as suas bases empíricas. 
  • Do ponto de vista teórico, os seus pressupostos e as suas implicações são bastante pretensiosos, não cabendo aqui, no entanto, uma discussão exaustiva do tema. Vamos apenas lembrar que ela pressupõe a redutibilidade da qualidade à quantidade, uma vez que o bem-estar geral (uma qualidade) seria a conseqüência de um sistema e de ações calcadas e dirigidas pelo mercado (critérios quantitativos). 
A atual discussão ambiental, ao não discutir a fundo a própria base do nosso sistema, o mercado, e, mais ainda, ao acreditar que a sustentabilidade pode e deve ser obtida no interior dos mecanismos de mercado, implicitamente acredita no milagre desta redutibilidade, no poder supranatural da mão invisível. 
  • A entropia, como vimos, se diferencia de outras leis físicas e se caracteriza justamente por dar conta de um fenômeno qualitativo: a mudança de um estado (baixa entropia) para outro (alta entropia). 
A sustentabilidade material do processo econômico repousa nesse limite qualitativo, na baixa entropia (energia e estruturas materiais ordenadas) disponíveis no início do processo, frente à alta entropia (energia e estruturas materiais dispersas) resultante no final do processo. 
  • Quando falamos de desenvolvimento sustentável, temos que considerar não só os aspectos materiais e econômicos, mas o conjunto multidimensional e multifacetado que compõe o fenômeno do desenvolvimento: os seus aspectos políticos, sociais, culturais e físicos. A sustentabilidade do todo só pode repousar na sustentabilidade conjunta de suas partes. 
Esses fatores e os seus respectivos equilíbrios repousam sobre fatores qualitativos, como o são os graus de coesão e harmonia social, questões como cidadania, alienação, valores éticos e morais, o grau de polarização social e política, os valores da sociedade e o nível entrópico do sistema. É uma característica da ciência contemporânea a ênfase nos aspectos quantitativos e o seu desprezo pelos aspectos qualitativos, quando são justamente estes os mais essenciais. 
  • A própria vida se caracteriza pela sua essencialidade qualitativa, como o são a busca de bem-estar coletivo ou de felicidade individual (ou qualquer outro critério que possamos tomar como motivador, em última instância, das ações individuais ou coletivas). Será a unidimensionalidade do mercado capaz de assegurar esses equilíbrios qualitativos? 
Ao se propor a internalização das externalidades , como vem ocorrendo na maioria dos debates sobre desenvolvimento sustentável, pressupõe-se uma dupla redutibilidade. Primeiro, a de que os efeitos qualitativos que acompanham e decorrem do processo econômico e que possam pôr em risco algum equilíbrio vital para a sustentabilidade deste mesmo processo (daí serem vistos como externalidades negativas ) possam ser de tal modo reduzidos a um valor monetário (daí serem internalizados mediante a aplicação de impostos, regulamentações etc.), de modo que esta alteração quantitativa em seus preços/custos leve a um redirecionamento das atividades, eliminando estas externalidades qualitativas. 
  • Assim, por exemplo, se a polarização social (a concentração e a má distribuição de poder econômico e político) e a resultante ausência de consciência política, de cidadania, a luta pela sobrevivência no imediato etc., são vistos como exemplos de um desequilíbrio político-social, com graves conseqüências para os demais equilíbrios vitais e centrais para a sustentabilidade, então a introdução de novas técnicas de produção que tendam a levar a uma concentração de renda, ou de poder político, ou que atentassem à cidadania, teriam que ser taxadas de tal modo que este fator externo fosse perfeitamente traduzido e reduzido a um valor monetário. 
Em segundo lugar, pressupõe-se a redutibilidade de que as decisões calcadas nestes indicadores quantitativos sejam de tal modo influenciadas e dirigidas, que elas evitem (ou minorem) a um nível sustentável ou tolerável os seus efeitos externos. Ou seja: que a quantidade se traduza nos efeitos qualitativos desejados. 
  • A clara impossibilidade de tal processo mostra os limites deste enfoque. Senão, como valorar monetariamente a perda de poder político ou os custos em termos de sustentabilidade de uma concentração de renda? Mais do que isto, os custos ou as externalidades qualitativas de qualquer inovação dependem sobretudo do contexto sócio-histórico no qual elas ocorrem. 
Dependem de uma complexidade e multiplicidade de fatores que certamente nenhum econometrista pode avaliar e que não são estáveis e constantes ao longo do tempo. Fenômenos que geram externalidades negativas em determinados contextos podem gerar externalidades positivas em outros. 
A revolução nas telecomunicações e na informática, por exemplo, é um fator positivo ou negativo na busca de sustentabilidade? Aumentará ela a democratização do saber, reforçará ela a cidadania, ou concentrará ela ainda mais o saber nas mãos de especialistas e da tecnostrutura? 
  • Aprofundará ela o saber, as discussões e o conhecimento que o homem tem da sua realidade, ou aumentará ela exponencialmente a produção de informações superficiais, submergindo o debate no acúmulo de informações cada vez mais desprovidas de conteúdo, levando à usura (ou obsolescência) precoce dos próprios conceitos e assim da capacidade do homem de compreender o seu tempo com algum tipo de recuo histórico e crítico? 
Na primeira possibilidade, teríamos uma externalidade positiva, que teria que ser estimulada via subsídios, investimentos públicos etc. (já que conduz a fatores que reforçam a sustentabilidade do sistema), sendo que, na segunda possibilidade, tal processo teria que ser freado via tarifas, impostos etc. 
  • Provavelmente, ambas as tendências ocorrem, dependendo do resultado de uma multiplicidade de fatores e da própria forma como a sociedade, a economia e a cultura se apropriam dessas inovações. 
Mesmo externalidades de definição e avaliação aparentemente mais fácil, como o são a perda em estoque na exploração de recursos naturais, ou a emissão de gases de efeito estufa, apresentam dificuldades intransponíveis quando se busca uma forma de internalizá-las visando ao fomento do seu uso sustentável. 
  • Como avaliar os usos potenciais de um determinado recurso, como valorar as necessidades das gerações futuras? Como avaliar os desequilíbrios ambientais (enchentes, secas, catástrofes naturais), sociais (migrações, tensões, lutas por terras agriculturáveis, recrudescimento político, xenofobia etc.) e culturais em conseqüência das alterações climáticas devidas à queima de combustíveis fósseis? 
Como avaliar os custos em termos de saúde e de vidas, da alteração de hábitos culturais e sociais decorrente da destruição das camadas superiores de ozônio? Mesmo se, por algum milagre econométrico, tal avaliação pudesse ser feita, será que a aplicação estrita do princípio do poluidor-pagador , internalizando-se esses custos, asseguraria um uso sustentável desses recursos? 
  • A demanda por um determinado recurso depende de uma série de fatores, que vão bem além do seu preço de mercado. Dessa forma, uma simples alteração em seu preço não é uma condição suficiente para direcionar essa demanda para níveis sustentáveis. Além disso, o custo das externalidades não é linear, dependendo dos níveis e limites alcançados. 
Geralmente são exponenciais, exigindo uma internalização progressiva extremamente complexa, impossível na prática. Parte-se então para a imposição de cotas. Porém, com que critérios definir essas cotas? 
  • Como adequá- las em sua evolução dinâmica, como controlar a sua aplicação? Sem nos alongarmos mais nas inúmeras dificuldades que acompanham as tentativas de se buscar um desenvolvimento sustentável nos moldes institucionais de uma economia capitalista de mercado, apenas concluiremos que tais dificuldades, longe de refletirem uma falta de estudos apropriados, apenas decorrem de uma impossibilidade estrutural. 
Se, de um lado, os múltiplos fatores que acompanham um dado processo não podem ser reduzidos a um denominador monetário comum, de outro lado, um denominador monetário comum (ou simplesmente um determinado custo monetário) é incapaz de direcionar o desenvolvimento e a apropriação que se faz deste rumo aos equilíbrios qualitativos desejados. 
  • Em outras palavras: a qualidade não é redutível à quantidade nem em um sentido, nem em outro. Ela não pode ser traduzida para um indicador quantitativo, nem pode ser induzida a partir da manipulação de indicadores quantitativos que dirijam as ações sociais. Ou seja, é uma ilusão acreditar que um desenvolvimento sustentável seja alcançável no interior dos mecanismos de funcionamento do mercado.
A única forma de discutir-se e de controlar-se a busca de equilíbrios qualitativos é a partir de critérios qualitativos: uma negociação e um controle político, questão à qual voltaremos mais adiante. Os critérios quantitativos do mercado são extremamente eficientes para engendrar e assegurar o objetivo quantitativo central do capitalismo, qual seja: a acumulação e a expansão do capital. 
  • A unidimensionalidade do mercado necessariamente sancionará de forma positiva os processos que respondam ao critério unidimensional de eficiência produtiva, ao menos no prazo que é o prazo de funcionamento do mercado: o imediato. Isto nos leva a uma outra problemática, central à discussão sobre a sustentabilidade, que é a própria questão do tempo.

Capitalismo e Entropia: 
Os Aspectos Ideológicos de uma Contradição 
e a busca de alternativas Sustentáveis

O Tempo:
  • A entropia, como bem mostrou Roegen, pode ser vista como a medida do próprio tempo, já que uma entropia maior de um sistema fechado indica tempos sucessivos. 
Assim, apesar de não permitir uma previsibilidade quanto ao momento exato em que a entropia de um dado sistema atingirá dado nível de degradação (devido à própria indeterminação entrópica), nós podemos observar um sentido único, irrevogável, no fluxo temporal, dado pela entropia crescente de um sistema fechado (Georgescu-Roegen, 1971:130-40). 
  • Ao analisarmos a dinâmica capitalista da perspectiva da lei da entropia, há ainda um outro aspecto ao qual não foi dada ainda a devida atenção e que nos parece central para a nossa discussão: a aceleração do tempo (e assim da entropia), que acompanha o desenvolvimento do capitalismo. 
A vida se afirma enquanto capacidade de resistência frente à degradação entrópica. Já a biosfera como um todo assegura a sua sobrevivência pela busca constante de estabilidade e da manutenção do nível de baixa entropia. Esta capacidade de resistência frente à ação entrópica e a manutenção da estabilidade do sistema biosférico repousam em sua capacidade de reciclagem. 
  • No nível energético (onde a Terra aparece como um sistema aberto), pela capacidade de absorção e transformação da energia solar e da sua circulação pelas cadeias alimentares, servindo assim de base energética para a manutenção da biosfera. Já do ponto de vista material, no qual a Terra aparece como um sistema fechado, a biosfera se mantém pela perfeição do seu sistema de reciclagem material. 
É, assim, por não ser um sistema fechado do ponto de vista energético, que a vida sobre a Terra conseguiu manter-se frente à degradação entrópica por mais de três bilhões de anos: a degradação entrópica do ponto de vista energético é mais do que compensada pela contínua absorção e transformação de baixa entropia solar, sendo também esta energia que permite a permanente re-transformação e reciclagem material. Lutando contra a degradação entrópica e buscando a estabilidade, o tempo da biosfera é um tempo circular, dos ciclos circulares e da contínua reciclagem. 
  • As mudanças se dão apenas em face das mudanças exteriores à biosfera, buscando-se a partir de então um novo equilíbrio circular. É este tempo circular, da busca constante de estabilidade, manifesto nas idéias de eterno retorno e na busca constante de repetir um ideal mítico passado, que também marca as sociedades tradicionais (Eliade, 1985). 
Com a sociedade capitalista, pela primeira vez nos deparamos com uma sociedade calcada não na busca da estabilidade, mas sim na busca constante da mudança, da instabilidade. Do eterno retorno do mesmo, passamos ao progresso. Do tempo circular, passamos ao tempo evolutivo. Certamente as sociedades tradicionais passaram por mudanças e evoluções. 
  • No entanto, baseadas na busca da estabilidade, tais mudanças se davam a um ritmo compatível com os equilíbrios do sistema biosférico como um todo. Já no capitalismo, a aceleração da mudança lhe é inerente e é um dos aspectos essenciais da própria lógica do capital: a busca de expansão constante que, impulsionada pela concorrência do mercado, encontra na mudança e nas inovações constantes a sua condição de existência. Marx já notara este aspecto essencial do capitalismo. 
Porém, mergulhado em uma concepção teleológica de tempo de cunho hegeliano (apesar da inversão materialista por ele operada na dialética hegeliana, que não alterou em nada a essência evolutiva dessa concepção de tempo histórico) e mergulhado em uma concepção judaico-cristã da natureza (como algo infinito e próprio para a apropriação humana), saúda este fato como o grande mérito do capitalismo, sem perceber as conseqüências do ponto de vista natural e entrópico deste processo. 
  • Apesar de ver a história humana moldada pelas relações homem<197>natureza, pela forma em que o homem se apropria desta, a natureza para Marx é ainda um objeto, não um sujeito histórico. O que caracteriza a crise ambiental contemporânea é justamente a irrupção da natureza, do Mundo das Coisas, enquanto sujeito, na história humana (no mundo mundano, nas palavras de Serres) (Serres, 1990:18-9). 
A Contradição:
  • Rompendo com o tempo circular, central ao funcionamento biosférico, o capitalismo rompe com a estabilidade da biosfera e a sua capacidade de manutenção frente à degradação entrópica. A aceleração do tempo com o capitalismo é assim a aceleração da degradação entrópica. Maior produtividade e maior produção representam uma maior eficiência na geração de alta entropia, na transformação da baixa entropia em lixo e poluição. 
Com a crise ambiental, ressurge novamente a idéia de reciclagem, que, como vimos, é um dado central na manutenção da biosfera. No entanto, qualquer análise um pouco mais aprofundada indicará a impossibilidade de constituição de cadeias circulares no interior do sistema industrial-capitalista nos moldes encontrados na biosfera. 
  • Em primeiro lugar, pelo fato de que, do ponto de vista energético, a sociedade industrial contemporânea ainda está baseada no estoque aprisionado de baixa entropia encontrado nas fontes ditas não-renováveis de energia, e não no fluxo contínuo de baixa entropia que nos vem com a energia solar e as formas de energia dela decorrentes (energia eólica, energia hidroelétrica etc.). 
Além de este processo alterar profundamente diversos ciclos biosféricos, em particular o ciclo do carbono (liberando-se quantidades fantásticas de carbono na atmosfera que antes estavam aprisionadas em cadeias orgânicas no petróleo, carvão, florestas etc., sendo o problema do efeito estufa apenas a sua manifestação mais dramática), tal processo é visivelmente insustentável do ponto de vista energético. 
  • Toda reciclagem material tem um custo energético. Sendo a base energética deste processo insustentável, a própria reciclagem se torna insustentável. Seria então a passagem para fontes renováveis de energia uma solução sustentável? 
Certamente ela permitiria reduzir a velocidade da degradação entrópica, sendo neste sentido um paliativo. Porém, esta passagem não assegura uma sustentabilidade real pelo simples fato de: 
  1. A própria base material para os receptores e transformadores de energia ser conseguida pelo uso de estoques de baixa entropia representados pelas reservas de recursos naturais e que passam a sofrer da degradação entrópica material; 
  2. A entropia atuar de forma considerável no próprio processo de reciclagem (transporte, re-transformação etc.), e 
  3. Grande parte do consumo dos produtos ser justamente caracterizada por uma degradação entrópica irreversível. 
Como, por exemplo, evitar a degradação entrópica dos pneus no asfalto, dos veículos de transporte, das construções, das usinas de energia e das máquinas? Talvez o exemplo mais claro de insustentabilidade seja encontrado na moderna agricultura comercial: enquanto nos processos naturais e na própria agricultura frente à degradação entrópica, na moderna agricultura comercial este ciclo é quebrado. 
  • Antes o ciclo material se fechava em nível local (crescimento das plantas e transformação material com a ajuda da energia solar, via fotossíntese, levando a um consumo que resultava em dejetos materiais reciclados localmente). 
Já a agricultura moderna só se sustenta pelo uso contínuo de insumos de baixa entropia (fertilizantes), trazidos de longas distâncias, compensando a exportação de baixa entropia resultante da exploração agrícola. Consumida fora do ecossistema local, essa produção, no outro extremo da cadeia, transforma-se em lixo e esgoto: alta entropia. 
  • Enquanto antes a vida se sustentava e se afirmava frente à ação da entropia, hoje se observa uma aceleração da degradação entrópica pela ação humana. Antes de prosseguirmos nesta discussão, cumpre chamar a atenção para um outro aspecto central quando falamos de sustentabilidade e que novamente está ligado à ruptura temporal trazida com o capitalismo. 
Com a aceleração do tempo que acompanha o capitalismo, o que assistimos é um descompasso entre os diferentes tempos. O tempo geológico da Terra, com as transformações que o acompanham, já forçou fortes mudanças na composição da vida sobre a Terra (como atestam os registros fósseis relativos às diferentes eras geológicas). 
  • Já o tempo biológico da biosfera sempre esteve perfeitamente adaptado para fazer face a estas mudanças (e inclusive influenciar estas mudanças, como o atestam a hipótese Gaia e as evidências por ela colhidas). 
Mais do que isto, a própria capacidade de constituição de ciclos materiais e energéticos perfeitos (com 100% de reciclagem material e um aproveitamento perfeitamente ajustado da baixa entropia solar) está diretamente ligada a este tempo biológico da biosfera. 
  • É ao longo dos séculos e dos milênios que as diferentes cadeias foram se formando, surgindo as diferentes espécies e subespécies que foram ocupando respectivamente diferentes elos na cadeia, assegurando um fluxo contínuo e um processo de reciclagem natural. 
O homem tradicional, com a sua busca constante de estabilidade, procurava justamente harmonizar-se com este tempo, adequando o tempo social ao tempo biosférico. Nessa perspectiva, a idéia do eterno retorno, central às sociedades tradicionais, longe de ser uma concepção ingênua, refletia essa busca constante de estabilidade. 
  • Com a ruptura capitalista, o tempo histórico se acelera de tal modo que surge um descompasso frente à capacidade de evolução e adaptação da biosfera, sendo a crise ambiental uma conseqüência direta desse descompasso. O homem passa a produzir novos materiais e novas estruturas a uma tal velocidade, que não existem organismos capazes de decompor e reciclar tais produtos. 
Rompem-se as cadeias circulares materiais, residindo aí a explicação profunda, no nosso entender, da incapacidade de uma reciclagem dentro do quadro capitalista-industrial e assim uma insustentabilidade inerente desse sistema, já que toda reciclagem industrial tem o seu custo entrópico em termos materiais e energéticos.
  • A própria sustentabilidade pressupõe a especificação do quadro temporal em que estamos pensando. Do ponto de vista astronômico o Sol fatalmente sucumbirá a sua degradação entrópica, sendo assim um recurso não renovável. No entanto, do ponto de vista da biosfera, trata-se de uma fonte renovável de baixa entropia, sendo a base energética da vida. 
Do mesmo modo, o petróleo, o carvão mineral etc., do ponto de vista geológico são recursos renováveis, porém da perspectiva do tempo histórico são claramente recursos não-renováveis. 
  • O mesmo tipo de raciocínio pode ser estendido para todos os recursos, sendo o fator básico para determinar se um recurso é renovável ou não, a partir de uma dada perspectiva temporal, justamente a diferença entre a velocidade do seu consumo e a velocidade da sua formação, ou seja: dois horizontes temporais. 
Com a aceleração do tempo capitalista, temos esse descompasso entre o tempo de regeneração e formação da biosfera e o tempo de consumo e de sua transformação em produtos não-recicláveis (alta entropia) por parte do subsistema econômico. 
  • Nesse sentido, os recursos marítimos, os recursos florestais, a terra agriculturável e mesmo o ar puro e a água, estão se transformando em recursos não-renováveis, observando-se a contínua redução dos seus estoques, até um possível esgotamento. 
Este descompasso temporal é de suma importância para discutirmos a própria sustentabilidade ou não do subsistema econômico e social capitalista. O horizonte temporal do subsistema econômico é o curto e o curtíssimo prazo (para o capital especulativo financeiro), sendo este o tempo sancionado pelo mercado, tempo este que é o imediato da troca. 
  • O que em economia se chama de médio e longo prazo, no horizonte temporal da biosfera representa o curtíssimo prazo. As vidas dos indivíduos são apenas pontos na evolução das espécies e estas apenas minúsculos elos no caminhar da vida. Já o horizonte temporal da nossa estrutura política é o curto e o médio prazo dos interesses políticos imediatos, sancionados pelos ciclos de eleições dentro dos sistemas de democracia representativa nos moldes ocidentais. 
Sendo a aceleração do tempo inerente ao capitalismo, devemos ainda observar que esta aceleração se opera continuamente, aumentando os descompassos temporais. A aceleração do tempo decorrente das revoluções na informática e nas comunicações está levando os mercados financeiros a trabalharem em um imediatismo que ultrapassa a própria capacidade de reação dos operadores, isto é, o tempo dos operadores. 
  • A aceleração do tempo está também continuamente erodindo a memória histórica, a capacidade de posicionamento por parte dos agentes sociais, aumentando a alienação política, precipitando a própria política em um imediatismo crescente e transformando esta em uma atividade de mercado, de marketing político com fins imediatistas. 
Como conciliar estes tempos com as necessidades de sustentabilidade, cujo horizonte temporal é necessariamente outro? Existe conciliação possível entre estes tempos diversos? Uma vez que o que sanciona a ação econômica é o mercado e o que sanciona a ação política é o mercado da política, a pergunta básica é: será que este quadro institucional pode levar a ações sustentáveis?

De Volta à Política:
  • Como vimos, o problema da sustentabilidade se insere na problemática geral da entropia material e energética crescente de um lado, frente à capacidade dos organismos vivos em manterem o seu nível de entropia baixo, do outro. Insere-se na dialética da vida e da morte, onde encontramos ao mesmo tempo uma contradição e complementaridade, sendo o movimento do todo dado por esta relação entre os pólos 1. 
A insustentabilidade surge quando a degradação entrópica suplanta a capacidade dos seres vivos em assegurar uma baixa entropia, ou seja: a base material e energética da vida vai se reduzindo. A questão da sustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento capitalista industrial, vista a partir da perspectiva da lei da entropia, mostra claramente este quadro de insustentabilidade. 
  • De fato, como vimos, trata-se de duas dinâmicas ou forças que caminham em direções opostas. Enquanto a lei da entropia aponta para os limites materiais e energéticos, o capital aponta para uma necessidade inerente de expansão infinita. Enquanto a entropia aponta para uma questão qualitativa, o desenvolvimento do capitalismo é orientado e sancionado pelas regras quantitativas do mercado. 
Enquanto a vida se afirma frente à entropia buscando equilíbrios qualitativos, a lógica do capital se manifesta pela busca constante da ruptura dos equilíbrios qualitativos, orientada pela busca de expansão quantitativa do capital. A atual crise ecológica é apenas o reflexo dessa contradição, do caráter insustentável do próprio capitalismo. Dessa forma, discutir a questão ecológica sem discutir os fundamentos materiais, institucionais e culturais da nossa sociedade, resulta em um discurso vazio. 
  • Como vimos, a busca de sustentabilidade exige que coloquemos novamente a busca dos equilíbrios qualitativos vitais no centro das nossas preocupações e do funcionamento do nosso sistema, o que implica uma re-inversão do próprio sistema capitalista vigente. 
O capitalismo marcou a inversão dos meios econômicos em fins, apoiado na produção pela produção, na criação incessante de necessidades visando a acumulação. Caracteriza-se por estar centrado na racionalidade econômica, em detrimento de outras racionalidades. 
  • Já a busca de equilíbrios sustentáveis exige a subordinação dos meios econômicos a seus imperativos. Propostas como as do Clube de Roma de crescimento zero ou mesmo as atuais propostas de desenvolvimento sustentável, ao não constatarem que a insustentabilidade do atual modelo de desenvolvimento é inerente à própria dinâmica capitalista e ao procurarem soluções no interior do capitalismo, fatalmente caem no vazio. Como ter um capitalismo de crescimento zero? 
Estariam os autores pensando em um capitalismo de Estado, no qual a planificação tecnocrática substitua o mercado, fixando assim os níveis de produção e de crescimento? Em caso afirmativo, seria tal planificação tecnicamente factível e asseguraria ela um equilíbrio sustentável? 
  • O fracasso dos modelos de cunho soviético e, mais do que isto, o elevado grau de insustentabilidade ambiental de tais experiências são uma primeira evidência histórica contra tais pretensões. Quanto às discussões atuais sobre sustentabilidade, seriam tais modelos factíveis no quadro institucional de uma economia de mercado, uma vez que, como vimos, elas implicam uma dupla redutibilidade da qualidade à quantidade? 
Senão, de que outra forma coadunar os fins multidimensionais dos equilíbrios vitais com a lógica unidimensional do mercado? Como bem lembrou Illich, a crise ecológica é apenas uma das facetas de uma crise mais geral da sociedade industrial, englobando a crise social, econômica, político-ideológica e moral. 
  • Essa crise não atinge apenas os países ditos subdesenvolvidos (ou em vias de desenvolvimento), como também atinge de forma aguda as nações industriais avançadas, crescentemente dilaceradas por uma polarização social, econômica e política que parece indicar uma exaustão histórica desse modelo de desenvolvimento (Illich, 1973:76-8). 
No nível político, essa crise se manifesta na descrença generalizada frente aos instrumentos políticos tradicionais, o crescimento de movimentos políticos revisionistas, de caráter xenófobo e autoritário, a banalização do debate político etc. 
  • Os desequilíbrios sociais e econômicos se refletem em níveis crescentes de desemprego e de marginalização social, nas disputas violentas entre diferentes grupos étnicos e raciais, na desagregação e no desenraizamento social, na concentração do poder econômico, enfim: nos resultados de um sistema orientado pelas necessidades da produção em detrimento das necessidades do produtor cidadão. 
Tais desequilíbrios se manifestam em nível cultural por um rompimento na certeza positivista de progresso que orientou e acompanhou os fins capitalistas até agora, levando a um crescente questionamento do modelo dominante de desenvolvimento. 
  • Concretamente, manifesta-se pela perda de um mito orientador e aglutinador que oriente a sociedade contemporânea, lançada no vazio da banalização e da massificação cultural, perdida na aceleração do tempo histórico que lhe retira os pontos de apoio capazes de servir de base para a reflexão. 
É, no entanto, nos desequilíbrios ecológicos que a crise se manifesta de forma mais dramática e espetacular, ameaçando, como já previa Illich, tornar-se a principal preocupação do leviatã tecnocrático contemporâneo (Illich, 1973:78).
  • Tal preocupação com a questão ecológica, que gradativamente vem ocupando o centro do cenário político e diplomático internacional, levanta diversas questões. A primeira é que, devido ao seu brilho, ela ameaça ofuscar as demais questões e desequilíbrios. 
Ignorando-se os níveis de interdependência entre essas diferentes crises, a preocupação ecológica ameaça desviar a discussão de outros temas, como o são a questão dos desequilíbrios nas relações de poder econômico e político, as relações de dependência internacionais e a própria lógica de um sistema que gera uma minoria de privilegiados às custas de uma maioria que, não tendo acessos aos frutos materiais do sistema, se contentam em usufruir dos seus lados negativos: as condições de trabalho subumanas, a poluição e a vida na periferia das grandes metrópoles, a violência e a desagregação social, as condições de alienação e desenraizamento social etc. 
  • Porém, será que, não se discutindo estas questões, alguma forma de sociedade sustentável é possível? Com o agravamento da crise ecológica, não podemos esquecer o alerta lançado pela ecologia política no início dos anos 70 quanto ao perigo de uma solução totalitária para a crise, a consolidação de um eco-fascismo procurando garantir a estabilidade à beira do abismo (Illich, 1973:144-5). 
De fato, tal tendência não pode ser descartada, refletindo-se na evolução histórica recente e na forma como o debate vem sendo levado. A única forma de se evitar um tal último recurso seria por uma inversão política total, que gerasse um novo equilíbrio, no qual a tecnologia, a economia e a própria história passassem a estar sob controle social. 
  • Uma inversão pela qual os meios estivessem subordinados a fins cuja definição política pressuporia uma redefinição da própria política e da prática democrática atualmente vigente 2. Utopias como a sociedade convivial de Illich, a sociedade do não-trabalho de Gorz, ou modelos como os do desenvolvimento durável de MaxNeef, certamente se encaixam em tal alternativa. 
Todas elas, no entanto, pressupõem uma inversão completa do nosso atual modelo de sociedade e civilização (Gorz, 1991; Illich, 1973; MaxNeef, 1990). De certo modo, a forma como o debate atual vem sendo travado reflete claramente estas duas vias. Na CNUMAD-Rio/92 pudemos observar, de um lado, a Conferência oficial, levada a efeito por especialistas, técnicos, representantes dos governos nacionais etc. e, de outro, o Fórum Global com as ONGs e a sociedade civil em geral. 
  • Enquanto na primeira predominaram o debate tecnocrático, as recomendações técnicas de cima para baixo, os impasses criados pela luta pelos interesses imediatos dos diferentes agentes (lembrando os dois combatentes de Goya citados por Serres)3 , na segunda predominou um debate não-hierarquizado, a preocupação com o respeito da diversidade cultural, os interesses das minorias e a condenação do establishment tecnocrático. 
Os documentos saídos desta segunda via tiveram uma divulgação muito mais restrita, porém, devemos lembrar que o importante foi o processo desta discussão, ou como diria Patrick Legrand, os efeitos intangíveis , que deixam entrever esta nova cidadania global (citado no Libération, 15.6.1992:5) 4. 
  • No momento, o pêndulo político certamente pende mais para a solução tecnocrática, das instituições oficiais. Porém, um dos efeitos mais visíveis da atual crise do sistema é justamente o de ir corroendo os fundamentos ideológicos e culturais desse sistema, cuja irracionalidade do todo (para retomarmos a expressão de Marcuse) se mostra cada vez mais claramente. 
O descrédito em nível global frente à política oficial e aos partidos tradicionais é apenas a face mais visível desta crise de legitimidade que vem se espalhando cada vez mais, abrindo os caminhos para outras vozes e outras formas de expressão. Certamente a emergência das ONGs representa uma renovação importante no cenário político contemporâneo. 
Porém, como mostra Lester Brown, nenhuma das tendências negativas foi até hoje revertida e todos os indicadores ambientais se deterioraram de Estocolmo para cá (Brown, 1992:19-23). 
  • A concentração de gases de efeito estufa, a destruição da camada superior de ozônio e a pilhagem dos recursos naturais (pesqueiros, florestais, energéticos, minerais etc.) aumentaram; a destruição do solo agrícola e a poluição atmosférica continuam; o quadro social e político se polariza cada vez mais; o sistema econômico apresenta desequilíbrios crescentes (o fosso norte-sul se alarga, o desemprego e a marginalização se alastram globalmente, os instrumentos tradicionais de política econômica dos Estados nacionais e do sistema financeiro internacional saído de Bretton Woods são crescentemente impotentes para fazer frente a uma economia financeira globalizada, dominada pelos grandes conglomerados transnacionais). 
Toda crise é um momento que abre imensas possibilidades, assim como toda morte é uma possibilidade e o pré-requisito do (re)nascimento. É a forma pela qual a atual crise de civilização for abordada que determinará a sociedade humana futura. 
  • Encontramo-nos hoje confrontados com a possibilidade de colocarmos as imensas potencialidades técnico-científicas e culturais presentes a serviço de fins qualitativos, que assegurem a busca do desabrochar das potencialidades individuais na vida social e, de outro lado, paira sobre nós a ameaça de uma luta desesperada pela sobrevivência em uma sociedade cujo poder heroico e seu afã de dominar a natureza nos levou à beira do abismo. 
Jamais as possibilidades e ao mesmo tempo os perigos foram tão grandes, agora que, pela primeira vez, a humanidade inteira se vê confrontada com a natureza em sua totalidade (Serres, 1990:19) 5. Como mostram Alphandéry, Bitoun e Dupont, a busca de uma civilização sustentável passa pela discussão e redefinição do conceito de necessidades humanas (Alphandéry et al., 1992:105). 
  • Esta idéia não é nova, estando no centro da crítica radical à sociedade industrial tal qual a encontramos na chamada escola de Frankfurt, nas reflexões da ecologia política ou nas idéias de um Galbraith, por exemplo. 
Autores como Marcuse chamavam a atenção para a criação e reprodução de necessidades repressivas , na medida em que elas serviam para legitimar e perpetuar o todo irracional e opressivo (Marcuse, 1973:26-9). Já Illich chama a atenção para a necessidade de homens austeros , que limitem voluntariamente a produção e rejeitem os prazeres que degradam as relações pessoais (Illich, 1973:13-4). 
  • O próprio capitalismo e a expansão constante do sistema industrial se legitimam como necessidade de satisfação das necessidades individuais e coletivas. Trata-se da busca de bem-estar, um fim qualitativo, que pode ser visto em termos materiais como a satisfação das necessidades humanas pelo sistema econômico. 
Na teoria econômica esta idéia legitimadora se traduz na idéia de consumidor soberano , que pela manifestação dos seus desejos no mercado dirige a evolução do sistema produtivo ou ainda, em sua forma originária, a idéia da mão invisível de Smith. Como bem mostrou Galbraith, trata-se aqui de uma ficção, uma vez que a prática do sistema econômico caminha justamente em sentido inverso (Galbraith, 1972:56-62). 
  • No capitalismo, como vimos, a expansão constante do capital e a busca da produção pela produção refletem o fim último e o modus operandi do sistema. Longe de buscar a satisfação das necessidades, o capitalismo se sustenta justamente pela busca constante de criar e suscitar novas necessidades, única forma pela qual o excedente gerado na produção pode realizar-se no mercado. 
A produção crescente exige um consumo crescente, ou seja: necessidades continuamente insatisfeitas. A definição das necessidades, como bem lembrou Alphandéry, se inscreve necessariamente no âmbito de um certo número de regras relativas a um ou mais sistemas culturais (Alphandéry et al., 1992:116). As necessidades são, portanto, historicamente determinadas, apesar de sua base biológica última. Trata-se de uma sensação físico-psicológica de privação/insaciabilidade. 
  • Nesse sentido, cumpre lembrar a distinção feita por Gorz entre pobreza e miséria. Enquanto a miséria representa um estado de privação que põe em xeque a própria sobrevivência física do indivíduo, a pobreza é necessariamente uma questão relativa, frente aos valores socialmente aceitos do que seja necessário. 
Assim, no exemplo de Gorz, um camponês andino sem sandálias, um cidadão chinês sem bicicleta ou um operário alemão sem condições de comprar um automóvel do ano, sentem a mesma frustração e experimentam o mesmo sentimento de privação e de pobreza (Gorz, 1978:36). 
  • É neste sentido que Illich pôde observar que cada novo produto lançado no mercado cria mais necessidades do que satisfaz, no processo característico de usura ou obsolescência forçada, inerente ao sistema industrial (Illich, 1973:111). 
Ao desqualificar os produtos anteriores e ao ser acessível apenas a uma minoria, todo avanço na produção e assim o avanço do próprio capitalismo estão constantemente aumentando a pobreza e não contribuindo para erradicá-la. 
  • A eliminação da pobreza e a busca de bem-estar passam necessariamente pela questão da redefinição das necessidades (e dos símbolos de status no interior de uma sociedade) e da distribuição equitativa (e não da produção) destes. Confrontados com a aceleração da degradação entrópica, decorrente da sociedade de produção e do consumo em massa, esta questão certamente torna-se vital na busca de equilíbrios sustentáveis. 
O capitalismo se legitima como busca de satisfação das necessidades sociais. Neste contexto, como entender que uma grande parcela dos recursos materiais e do esforço social seja dirigido para atividades como publicidade e marketing, cujo objetivo é justamente suscitar continuamente novas necessidades e novas frustrações? 
  • Como entender que, discutindo-se a busca de sustentabilidade, em nenhum momento se tenha dado atenção nos textos oficiais à questão da produção e reprodução das necessidades, uma vez que esta produção visa apenas assegurar a expansão indefinida e insustentável da estrutura produtiva? 
Esta negligência se torna ainda mais grave se consideramos que, do outro lado da cadeia, grande parte do esforço social e dos recursos materiais são despendidos e gastos na necessidade de se remediarem os efeitos negativos, as chamadas externalidades negativas do processo econômico. 
  • Pense-se apenas, por exemplo, na porcentagem das atividades ligadas à indústria da saúde em função das externalidades negativas do nosso sistema. É neste sentido, que Goldsmith mostra como na sociedade industrial os ciclos naturais foram substituídos pelos ciclos industriais. 
Na agricultura, por exemplo, a grande exploração agrícola aquece e sustenta a agroindústria, a indústria de fertilizantes e defensivos, que tem como efeito colateral a destruição dos ciclos naturais (pensemos, por exemplo, nos agrotóxicos destruindo ao mesmo tempo as pragas e os predadores naturais, suscitando uma seleção de pragas resistentes, estimulando assim a produção de novos agrotóxicos, reduzindo ou exterminando os predadores naturais, porém sem acabar com as pragas) (Goldsmith, 1992:297-307). 
  • Consumida pelo homem, tal produção suscitará problemas de saúde, que por sua vez terão de ser tratados pela indústria médica, expandindo-a etc. Os próprios desequilíbrios ambientais presentes são um exemplo claro desse processo, já que eles são uma poderosa alavanca dos processos industriais visando a substituir a produção natural pela biosfera. 
A indústria médica e farmacêutica respondendo aos problemas causados pelo aumento na radiação ultravioleta (aumento do câncer da pele, consumo e produção de protetores solares cada vez mais sofisticados etc.); a construção civil respondendo aos desafios de reconstrução após as catástrofes naturais resultantes dos desequilíbrios climáticos; a indústria farmacêutica e médica estimulada pelos problemas causados por cidades cada vez mais insalubres. 
  • Recursos como água potável e ar puro deixam de ser um produto do funcionamento equilibrado da biosfera e transformam-se em um produto industrial, produzido segundo a lógica de acumulação do capital. 
Academias de ginástica, apetrechos de jogging e todas as variedades de terapias nova-era encontram um fértil campo de expansão frente ao modo de vida antinatural e não-saudável moderno, assim como prisões, instituições psiquiátricas, a indústria da segurança pessoal e asilos para idosos são um fruto da desagregação social e das neuroses modernas. 
  • Como mostra Goldsmith, a idéia de que a riqueza possa apenas ser gerada pelo homem e o seu trabalho confunde riqueza com valor mercantil, uma vez que a grande fonte de riqueza é o próprio funcionamento equilibrado da biosfera, produzindo ar puro, o equilíbrio climático, a abundância em caça e pesca experimentada pelas sociedades tradicionais, protegendo os solos frente à erosão, controlando as pragas e os desequilíbrios nos ecossistemas etc. (Goldsmith, 1992:170-81). 
O PIB apenas indica o fluxo de bens e serviços produzidos pela atividade humana, jamais o total de riquezas disponíveis. Essa distinção se torna ainda mais importante se considerarmos que o que caracteriza a produção humana é justamente uma série de externalidades negativas, cujo custo em termos de bem-estar freqüentemente suplanta o seu valor. 
  • É essa mercantilização crescente da sociedade moderna, às custas dos equilíbrios naturais, das relações sociais e da autonomia individual, que tem de ser revista, antes de tudo, se quisermos pensar em uma sociedade sustentável e, mais do que isso, se nossa preocupação não se limita a uma simples questão de sobrevivência física, mas sim a uma busca constante de qualidade de vida. 
Como bem notou Jung, é ilusório imaginar que o homem possa dominar e controlar a natureza, se ele não foi ainda capaz de controlar e enxergar a sua própria natureza. Chamando a atenção para os fatores inconscientes da psique humana, a base arcaica da nossa mente e assim das nossas emoções e nossas ações, 
  • Jung aponta para os riscos de uma evolução voltada para fora, desprezando os fatores internos. Nosso intelecto criou um novo mundo que domina a natureza e ainda a povoou de máquinas monstruosas. Essas máquinas são tão incontestavelmente úteis que nem podemos imaginar a possibilidade de nos descartarmos delas ou de escapar à subserviência a que nos obrigam. 
O homem não resiste às solicitações aventurosas de sua mente científica e inventiva, nem cessa de congratular-se consigo mesmo pelas suas conquistas. Ao mesmo tempo, sua genialidade revela uma misteriosa tendência para inventar coisas cada vez mais perigosas, que representam instrumentos cada vez mais eficazes de suicídio coletivo (Jung et al., 1992:101). 
  • Jamais os instrumentos à disposição do homem foram tão ameaçadores, ao mesmo tempo em que representavam uma tal possibilidade de liberação. Os rumos tomados dependerão da capacidade individual de cada um e da coletividade como um todo de compreender as suas reais motivações e de integrar o seu lado sombra , integrando o lado arcaico e o lado consciente de nossa personalidade individual e coletiva, tornando-nos, assim, sujeitos de nossa vida e de nossa história. 
Ou, nas palavras de Jung, Nossas vidas são agora dominadas por uma deusa, a Razão, que é a nossa ilusão maior e mais trágica. É com sua ajuda que acreditamos ter `conquistado a natureza' (Jung et al., 1992:101). Porém, O homem moderno não entende o quanto o seu `racionalismo' (que lhe destruiu a capacidade para reagir a idéias e símbolos numinosos) o deixou à mercê do `submundo' psíquico. 
  • Libertou-se das `superstições' (ou pelo menos pensa tê-lo feito), mas neste processo perdeu seus valores espirituais em escala positivamente alarmante. Suas tradições morais e espirituais desintegraram-se e, por isto, paga agora um alto preço em termos de desorientação e dissociação universais (Jung et al., 1992:94). 
Ao chamarmos a atenção para os aspectos psicológicos e em nível de consciência da atual crise, certamente não os estamos imaginando dissociados do modelo histórico de organização capitalista de produção. 
  • Todo modo de produção constitui um todo integrado, no qual não podemos dissociar a forma pela qual a sociedade se organiza materialmente para produzir das diferentes representações que esta sociedade faz. Acreditamos que a realidade deva ser vista como um todo dialético, para a compreensão da qual a noção de autonomia relativa dos pólos de Poulantzas muito pode contribuir (Poulantzas, 1977). 
Enquanto, de um lado, a gestão e a concepção de natureza que está na base da exploração capitalista pode ser datada a quase dois milênios antes do surgimento do capitalismo, no período da crise ateniense e da revolução socrática na filosofia (Gonçalves, 1990:28-35), de outro lado é inegável a forma como o modo capitalista de produção, por sua vez, moldou e influenciou as diferentes representações e concepções atuais. 
  • Trata-se, no nosso entender, de um todo interdependente, no qual as diferentes partes influenciam (ou determinam) em maior ou menor grau as outras e são por sua vez influenciadas por estas. 
Ao chamarmos a atenção para a base material do sistema industrial capitalista de produção, apontando para a sua insustentabilidade inerente, procuramos mostrar as limitações das análises voluntaristas quanto à sustentabilidade, que procuram definir modelos abstratos de desenvolvimentos sustentáveis ao mesmo tempo em que ignoram a realidade histórica, a própria base de aplicação desses modelos. 
  • A busca de modelos sustentáveis requer uma visão holística da realidade, capaz de integrar os requerimentos materiais da sustentabilidade (equilíbrios físico-químico-biológicos) à compreensão do funcionamento histórico da sociedade humana. 
Porém, mais do que isto, tal integração tem de estar integrada a uma redefinição política da nossa sociedade atual e do seu modelo de civilização, bem como um trabalho de consciência individual, de integração da psique pessoal, capaz de gerar ações rumo a mudanças. 
  • Sem embargo, como lembra Goldsmith, ao falarmos de ações, temos que ter consciência de que a base de toda ação são as emoções (no inglês temos motion movimento e emotion emoção ou pôr em movimento ). De fato, nossa razão parece mais prestar-se a justificar racionalmente nossos atos a posteriori do que propriamente motivá-los. 
Daí sermos antes seres racionalizantes do que seres racionais. Somos um imenso iceberg, do qual a razão representa apenas a pequena ponta fora da água. É este iceberg como um todo que tem que ser modificado. 
  • É da capacidade da crise atual em gerar modificações profundas na sociedade e nos indivíduos que lhe servem de base, e não apenas racionalizações superficiais (como vem ocorrendo com o conceito de desenvolvimento sustentável ), que depende, em última análise, se, nas palavras de Galbraith, um dia se abrirá o caminho àqueles que se emanciparam a si próprios e desejam levar uma vida conforme com os seus anseios e não com os da tecnostrutura. 
Pode parecer bizarra a idéia de que as pessoas poderão um dia consumir menos, trabalhar menos e viver mais. Foi disso que se tratou, no entanto, ao longo desta conferência (Galbraith, 1972:77)

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Capitalismo e Entropia: 
Os Aspectos Ideológicos de uma Contradição 
e a busca de alternativas Sustentáveis