sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Canais de distribuição reversos

Canais de distribuição reversos

Paulo Roberto Leite
Revista Tecnologística – ABRIL / 1999.
São Paulo, Edit. Publicare
A Coleta seletiva:
A Coleta Seletiva como Fonte Primária:
  • Temos analisado as diversas formas de “desembaraço” dos bens após o seu uso original , os quais darão origem aos chamados por nós Canais de Distribuição Reversos por se constituírem no retorno de seus materiais constituintes ao ciclo produtivo, conforme se pode observar no fluxograma anexo em que todas as etapas foram reunidas 
Os materiais constituintes de bens duráveis , apresentam valor relativamente alto e ciclos longos desde a sua produção até o seu final de vida, o chamado “ciclo de vida do bem”. Se ainda em estado de uso e enquanto apresentar valor residual será comercializado em mercado de 2. mão até exaurir este valor, sendo após destinado ao desmanche para o aproveitamento dos seus componentes ( motores, circuitos, materiais elétricos, etc.), os quais serão destinados ao mercado de usados. 
  • Ao término da vida útil do bem ou de seus componentes resta o valor residual de seus materiais constituintes, que são desembaraçados na forma do chamado “ferro velho”, retornando ao ciclo produtivo pelas etapas descritas. 
Ferro , aço , cobre e alumínio são os principais materiais constituintes destes bens, constituindo usualmente mais de 70% de participação em peso , tendo os outros metais , os plásticos, os vidros, etc. , uma pequena parcela em peso nestes tipos de bens, mesmo considerando o crescimento do uso dos plásticos nos recentes anos . 
  • Dos automóveis, no fim de sua vida útil, retiram-se cerca de 75% de metais ferrosos , sendo o restante distribuído entre plásticos, vidros, borrachas , etc.. Nestes casos de canais de distribuição reversos, as principais fontes de captação dos materiais constituintes são a da obsolescência final dos bens e a dos resíduos industriais. 
Os bens semi- duráveis apresentam “ciclo de vida do bem ” intermediários, e, sob o ponto de vista de canais reversos, tanto seus materiais constituintes como suas vias de “desembaraço” variam bastante dificultando generalizações. 
  • Baterias de veículos e óleos lubrificantes são alguns exemplos de canais reversos que se iniciam por coleta dirigida a estes materiais; o caso de computadores e seus periféricos são exemplos em que o desembaraço de dá por via de comércio de 2. mão até o desmanche do bem. 
Na categoria de bens descartáveis , com “ciclo de vida do bem ” de meses e cuja utilização cresce fortemente nas sociedades modernas, distinguimos característica bem típicas, sob o ponto de vista dos canais reversos .O maior segmento industrial desta categoria é o de embalagens , seguidos por utensílios de escritório, jornais e revistas , materiais de higiene, principalmente. 
  • Esta categoria de bem apresenta uma diversificada natureza de materiais constituintes , tais como os plásticos, metais , vidros , papéis , dos quais a sociedade se “desembaraça” através da coleta de lixo urbana , da coleta seletiva e da coleta informal , que se tornam portanto fontes de pós – consumo para os canais reversos.
Fatores que influem na Estruturação:
E Organização dos Canais Reversos:
  • As quantidades produzidas de certa matéria-prima, denominadas novas ou de primeira geração, e as quantidades que retornam ao ciclo produtivo, denominadas recicladas, sucatas ou de segunda geração, raramente são iguais provocando desequilíbrios nos mercados de materiais de segunda geração. 
Algumas matérias – primas secundárias apresentam condições de preços e logísticas favoráveis para seus pós – consumos ( sucatas), permitindo o transporte internacional ou de longas distâncias para o comércio de exportação e importação . É o caso de grande parte dos metais que possuem cotações de preços para a matéria-prima secundária em bolsa de mercadoria internacionais, caracterizando o comércio exterior nos canais de distribuição reversos destes materiais. 
  • Vários fatores , de naturezas diversas , podem influir na organização e estruturação dos canais de distribuição reversos , provocando excedentes ou faltas dos bens de pós – consumo destes materiais: fatores ligados à tecnologia nas diversas etapas dos canais reversos, fatores econômicos , logísticos, ecológicos , fatores ligados aos níveis de intervenção governamental nestes canais reversos , e possivelmente outros de outras natureza, que atuam simultaneamente e com interdependência . 
Destacaremos os aspectos mais nítidos desta multiplicidade que consideramos essenciais para que exista uma certa estruturação e que uma conseqüente organização se estabeleça em um canal de distribuição reverso. Não pretendemos, no entanto, que sejam suficientes para garanti-la e tampouco que sejam somente estes a influir no mesmo:
1 – Tecnologia – é necessário que a tecnologia esteja disponível para o tratamento econômico dos resíduos no seu descarte , em sua captação como pós – consumo , na desmontagem, na separação dos diversos materiais constituintes , na reciclagem propriamente dita ou no processo de transformação dos resíduos em matérias – primas recicladas que substituirão as novas em sua a reintegração no ciclo produtivo, na reintegração deste material reciclado na fabricação de um produto de mesma natureza ou diversa do pós – consumo utilizado como fonte para extração. Um aspecto que pode ser também considerado como de responsabilidade empresarial face ao meio ambiente é a preocupação na concepção técnica do produto original, que deve prever o descarte do mesmo, após a sua vida útil. O caso dos pneus de veículos em geral tem sido apresentado como um exemplo em que a concepção de projeto do produto não tem facilitado à reciclagem. A evolução técnica dos produtos tem tornado mais altos os custos de reciclagem, que quando somados àqueles não menos altos de coleta e transporte, têm sido apresentados como os principais motivos da baixa eficiência deste canal reverso em todo o mundo. A tecnologia e o teor de determinada matéria – prima podem variar em função do produto de pós- consumo utilizado, redundando em custos diferentes e orientando o mercado de pós - consumo para aqueles que se apresentem mais convenientes.
2- Logística - na localização e nos sistemas de transportes entre os diversos elos da cadeia de distribuição reversa : fontes primárias de captação, centros de consolidação e adensamento de cargas dos materiais de pós – consumo, processadores intermediários, centros de processamento de reciclagem e utilizadores finais destes materiais reciclados. A característica logística dos materiais de pós – consumo, já analisadas em artigo anterior, e em particular a transportabilidade dos mesmos, revelam-se de enorme importância na estruturação e eficiência dos canais reversos.
3- Custos – conseqüência de tecnologia e logística que deverão redundar em valores inferiores às matérias-primas que irão substituir e deverão propiciar economias de consumo de energia no processo de fabricação.
4- Oferta - de materiais reciclados ( matéria-prima secundária) em quantidade suficiente e de forma constante permitindo um nível de trabalho em escalas econômicas adequadas e com a continuidade industrial necessária. Este fator está ligado à oferta de produtos de pós – consumo aptos a serem utilizados como fontes do material de interesse. Quantidade e teor do material no produto são dados que caracterizam esta oferta
5 – Qualidade – é difícil separar todos os aspectos anteriores da qualidade resultante mas esta deve ser adequada ao processo industrial e constante no tempo de forma a garantir rendimentos operacionais economicamente competitivos com a matéria – prima que irá substituir. Todo o processo de reciclagem de um material envolve fases de separação ou extração de um produto de pós – consumo o que gera impurezas que normalmente a matéria-prima nova não possui.Os resíduos provenientes de sobras sistemáticas de processo industrial industriais, chamados de fonte de resíduos industriais nestes artigos, apresentam uma constância de qualidade e de quantidade de seus resíduos normalmente maior que as outras fontes de captação, justificando a sua preferência no mercado
6- Mercado – é necessário que haja quantitativamente e qualitativamente mercado para os produtos fabricados com materiais reciclados que refletirá evidentemente nas demandas de reciclado . Com exceção dos metais em geral, usualmente existem restrições técnicas, no processamento e na performance final dos produtos fabricados com materiais reciclados. Também normalmente, estas restrições estão ligadas ao aspecto de especificações e qualidade diferentes da matéria-prima nova. Isto faz com que a matéria – prima secundária entre em proporções diferentes, variando em função do tipo de aplicação do produto final. Sacos de lixo no Brasil são feitos com produto 100% reciclados; vários tipos de papéis reciclados são misturados em proporções distintas ; garrafas de PET, para a indústria alimentícia, não pode ser feita com material reciclado. Evidentemente estas restrições não têm ajudado ao desenvolvimento dos mercados para estes produtos e portanto aos respectivos canais reversos de grande parte dos materiais. A Análise do Ciclo de Vida dos produtos, examinada em um dos próximos artigos e normalizada pelas recentes normas ISO 14000, é uma ferramenta de caráter técnico que torna mais objetiva as classificações tais como: “reciclável”, “biodegradável”, etc. e outras rotulações ambientais, que causam divergências no mercado destes produtos.
7- Governo - o nível de intervenção ou omissão dos governos , através de legislação correspondente , poderá influir nesta organização dos canais reversos. O subsídio dado à matérias-primas ou à energia elétrica por exemplo , fatos relativamente comuns , deve reduzir o interesse ao material reciclado por baixar os preços destes ; a responsabilização dos níveis de reciclagens aos empresários de um determinado setor de bens deverá intensificar a organização dos canais de distribuição reversos; a coleta seletiva mandatória certamente melhora a eficiência dos canais reversos dos plásticos descartáveis . Supõe-se que os governos devam intervir e regular atividades na medida em que não existam condições de auto regulação do mercado, caso contrário , e temos muitos exemplos , a intervenção torna-se subsídio para alguns participantes .
8 – Responsabilidade Ambiental: alguns setores industriais já introduzem estes aspectos no projeto dos produtos . Temos exemplos de empresas automotivas desenvolvendo “linhas reversas”, ou seja, linhas de desmontagens experimentais de forma a aumentar a eficiência das mesmas e ao mesmo tempo modificar o projeto do produto para este fim ; os fabricantes de frascos rígidos de embalagens decidiram há algum tempo adotar um sistema de numeração na base de seus produtos, de forma a identificar o tipo de resina plástica constituinte, facilitando a separação visual para a reciclagem ; os frascos de PET, utilizados largamente em refrigerantes e outros segmentos de bebidas ,tiveram diversas modificações em seu projeto ao longo do tempo : foram eliminadas as tampas de alumínio que oneravam bastante o processo de reciclagem , foram eliminadas as bases de HDPE que dificultavam a reciclagem por ser uma outra resina , etc. Esta preocupação ambiental poderá influir significativamente nas quantidades dos materiais reciclados
9 – Ecologia : resultado ou motivação de vários aspectos anteriormente examinados , as pressões ecológicas se farão sentir através de regulamentação governamentais ou dos hábitos dos consumidores ligados aos fatores ecológicos. Estes novos comportamentos , principalmente em países mais desenvolvidos onde tornaram-se mais visíveis nos últimos 20 anos, passam a exigir novas posições estratégicas das empresas sobre os impactos que seus produtos e processos industriais de forma a manter-se competitivas .
O Exemplo do Canal Reverso do Alumínio:
  • O caso da cadeia reversa das latas de alumínio no Brasil revela um índice de reciclagem que evoluiu, desde o seu lançamento em 1989, até cerca de 64% em 1997 , conforme relatório anual da Associação Brasileira de Alumínio . Grandes esforços empresariais estão envolvidos na captação das latas de pós – consumo principalmente através de uma rede de sucateiros cuja principal fonte primária é a da coleta informal . Esta alta eficiência neste canal reverso tem sido obtida também nos Estados Unidos, no Japão, na Suíça , e outros países. 
Para se ter idéia do que representa para a indústria de alumínio este segmento, lembramos que a produção de latas em 1997 foi de cerca de 118 mil toneladas, correspondendo a 18% das 647 mil ton. do metal alumínio consumidas no país.
  • Os fatores de estruturação deste canal reverso são principalmente de natureza econômica e de disponibilidade de oferta de sucata . O fator econômico é justificado pela elevada economia gerada pela reintegração de alumínio secundário ( reciclado) no processo produtivo, onde economiza 95% da energia elétrica quando comparada ao processo com matéria-prima nova além da economia da própria matéria – prima bauxita , o que permite um alto preço à lata de alumínio pós- consumo . 
O fator oferta é justificado pela introdução da embalagem lata de alumínio ( descartável), de baixo ciclo de vida desde a produção até a reintegração do material constituinte ao processo produtivo, estimado em menos de 60 dias atualmente . 
  • Por outro lado o canal reverso da matéria-prima alumínio nos demais setores da indústria, cujas principais fontes de captação são a obsolescência e resíduos industriais, apresenta índices de reciclagem da ordem de 14 % sobre o consumo e de 7,5 % sobre a produção no país em 1997, motivo de importações de sucata em algumas ocasiões. 
A limitação de reintegração de reciclados destes canais se deve à falta de oferta de sucata em quantidade ou qualidade suficientes. Embora apresentando índices de reciclagem diferentes nestes segmentos do alumínio, a sucata existente é totalmente comercializada e é reintegrada ao ciclo produtivo . 

O Exemplo do Canal Reverso:
Dos Plásticos em Embalagens:
  • Se examinarmos o caso do canal reverso dos plásticos de embalagens veremos que no Brasil o nível médio de reciclagem dos mesmos é de cerca de 12% , considerado extremamente baixo em relação a outros materiais mas não muito diferente de outros países mesmo os mais adiantados. 
Este índice tem se mantido estável no tempo, e as principais razões apontadas para esta baixa eficiência é a relação preço – volume desfavorável dos plásticos em geral, do ponto de vista econômico e logístico, pois encarece processamentos de adensamento e de transporte, sendo preterido em favor de outros materiais de maior interesse. 
  • Segue-se que das 2500 mil toneladas produzidas no país, no setor de embalagens, deixam de ser recicladas mais de 2200 mil ton., que representam as sobras visualizadas em lixões e outros locais menos próprios . 
Tendo em vista que o crescimento da produção dos plásticos de embalagem é maior que 5% ao ano conclui-se que será necessária a ocorrência simultânea de diversos dos fatores acima mencionados para melhorar o equilíbrio deste canal reverso. Este material é um dos que mais se beneficiariam pelo sistema de captação pela Coleta Seletiva Domiciliar

A Coleta Seletiva:
  • A denominação Coleta Seletiva é normalmente reservada à operação que compreende a coleta seletiva de porta em porta tanto em domicílios como no comércio, à coleta seletiva nos chamados pontos de entrega voluntária ( PEV) remunerada ou não e à coleta seletiva em locais específicos, sendo dirigida aos produtos descartáveis principalmente:
A rigor qualquer coleta que contenha uma prévia seleção do material a ser captado ou que seja dirigida a determinado material pode ser considerada como “seletiva”. A Coleta Seletiva Domiciliar , compreendendo tanto os domicílios particulares como as atividades comerciais, caracteriza-se por selecionar , no próprio domicílio ou comércio, os produtos descartáveis não orgânicos, evitando que os mesmos sejam coletados pela Coleta de Lixo Urbana.
  • Desta forma grande parte destes produtos, em geral constituídos de materiais plásticos, vidros, papéis, latas, etc. descartáveis , que iriam sobrecarregar a Coleta de Lixo e que são potencialmente recicláveis , já estarão separados inicialmente sem se misturar com os orgânicos o que economiza trabalho e melhora a qualidade dos resíduos.
Ao evitar que estes produtos se misturem ao lixo urbano, a Coleta Seletiva Domiciliar satisfaz ao aspecto de qualidade dos resíduos captados, e ao desviar as quantidades que iriam para os aterros ou outra deposição final, propicia uma oferta de resíduos muito superior aos conseguido através da seleção dos catadores dos aterros, permitindo atividades empresariais subjacentes com melhor eficiência operacional e econômica. 
  • Este sistema de coleta tem contribuído, em diversas comunidades, para um maior equilíbrio entre o que é produzido de um material ou produto e o que é efetivamente reintegrado ao ciclo produtivo, índice este chamado de nível ou taxa de reciclagem de um material, e que mede indiretamente, esta estruturação e a organização destes canais reversos. 
Quando realizada de porta em porta, caracteriza-se portanto pela prévia separação dos produtos descartados não orgânicos no domicílio familiar que são recolhidos por um sistema de coleta, com veículo de transporte e com frequências específicas para estes materiais, independentes da coleta de lixo urbana. 
  • Nestes casos, a coleta resultará em uma miscelânea de produtos de naturezas diferentes, tais como vidros, plásticos, papéis , etc. Uma separação por natureza de matéria constituinte não é comum ser realizada no próprio domicílio , embora se tenham notícias de vários outros níveis de separação : jornais e outros periódicos muitas vezes são separados devido ao seu peso ; comunidades no Japão chegam a separar até 32 tipos de categorias diferentes de produtos nesta fase. 
Esta coleta seletiva, quando realizada em escritórios de grandes metrópoles, revela-se um excelente meio de captação de papéis devido ao intenso uso de computadores nos dias atuais.
  • Mesmo quando não se dispõe de coleta seletiva , como é o caso de São Paulo até esta data , observa-se um nível de captura informal importante nas regiões de escritórios da cidade, provocando um desvio de captura em relação ao lixo urbano.
A coleta seletiva em pontos de entrega voluntária (PEV) constitui-se da operação de recolhimento de diversos tipos de embalagens, pela deposição voluntária da população em recipientes separados e dispostos em locais próximos aos pontos de venda de grande movimento .
  • Esta devolução poderá se dar de forma remunerada, em certos casos, de modo a incentivar a reciclagem , sendo habitualmente separados os 4 tipos de descartáveis : vidros, plásticos, latas e papéis , o que evitará uma separação no processamento posterior destes materiais..
Os produtos coletados destas diversas formas são enviados para uma central de seleção ou centros de triagem onde são separados pela natureza do material constituinte, se for necessário, sem preocupação quanto aos diversos tipos de vidros , plásticos ou outros critérios .
  • Após a separação em grandes categorias estes são embalados para adensamento de carga ,visando a economia no transporte, e comercializados diretamente as industrias de reciclagem ou com empresas que realizarão a escolha e separação final dos materiais por tipo de vidro, tipo de plástico, por tipo de papel, etc. normalmente também especializadas por natureza de material.
Estas últimas empresas , correntemente denominadas de empresas de sucatas ou simplesmente sucateiros , especializam-se em certa natureza de material e constituem-se em um dos elos mais importantes dos canais reversos por serem os principais compradores de materiais de diversas fontes primárias.

Canais de distribuição reversos

Economias e Custos do Sistema:
  • Em peso, no lixo urbano das cidades de São Paulo e a média dos Estados Unidos onde se observa que se a captura desta fonte de pós – consumo fosse realizada antes do seu encaminhamento para a disposição final em aterros ou incineração ela seria de cerca de 30% em São Paulo e 65% nos Estados Unidos.
O sistema de coleta seletiva tem sido apresentado como uma das melhores soluções não somente para a redução do lixo urbano mas como uma excelente alternativa para a captação dos descartáveis em geral. Os descartáveis de plásticos e vidros seriam captados a taxas melhores em relação a outros sistemas de captação onde sofrem a concorrência de outros materiais que apresentam melhor relação preço-volume ou preço- peso respectivamente
  • Dentro desta mesma ótica, os ganhos seriam menores para os casos dos descartáveis constituídos de alumínio e outros metais , pois já apresentam maiores possibilidades de captura informal ou espontânea pelo alto valor da sucata. O exposto evidencia diferentes interesses dos setores industriais na coleta seletiva urbana, o que torna a adoção da mesma pelas comunidades uma decisão de difícil acordo econômico.
Existem divergências quanto às vantagens , viabilidade e principalmente quanto aos custos associados a estes sistemas de coleta, pois a complexidade de fatores que podem ser considerados torna o problema de difícil resposta única , justificando uma boa quantidade de livros e artigos técnicos chegando a conclusões bastante diversas, dependendo da posição de análise.
  • Até há poucos anos poder-se-ia considerar estas divergências de cunho acadêmico , no entanto atualmente tornam-se de vital importância para a sociedade, na medida em que as quantidades de lixo urbano crescem e as soluções tradicionais de aterro sanitário ou incineração revelam-se mais difíceis, como já discutido anteriormente . As soluções e encaminhamentos são variados em cada país ou comunidade em função das prioridades e pressões da sociedade.
Países como a França tem adotado e acreditado que o sistema de incineração seja o mais indicado para o lixo doméstico , embora mais recentemente, na cidade de Paris, a instalação de novos projetos de incineração estejam sendo questionados em beneficio de programas de coleta seletiva.
  • Nos Estados Unidos e Japão o sistema de coleta seletiva tem recebido enorme apoio das comunidades em geral, constituindo-se na principal fonte de captação de produtos recicláveis.
A título de exemplo, nos Estados Unidos existem cerca de 4000 programas de coleta seletiva instituídos que elevaram significativamente o nível geral médio de reciclagem no país. As principais vantagens apresentadas pelo sistema de coleta seletiva podem ser resumidas como:
  • O sistema porta a porta domiciliar apresenta alta taxa de captura de materiais de embalagens e descartáveis em geral quando comparado a outras formas , principalmente nos casos de plásticos e vidros .Taxa de captura de até 90% quando existe grande sensibilização da comunidade ou nos casos de coletas seletiva urbana por lei expressa ( mais de 40% dos casos nos Estados Unidos).
  • Aumento das quantidades coletadas melhorando a constância nas quantidades e na qualidade dos materiais permitindo melhoria de economia de escala empresarial em todo o sistema dos canais reversos .
  • Melhor qualidade dos materiais coletados por não haver mistura com os resíduos orgânicos.
  • Redução das quantidades e principalmente volumes da coleta de lixo urbana aliviando os sistemas de aterros e incineração com suas já comentadas repercussões sociais .
  • Economias diversas obtidas pela substituição de matérias-primas novas pelos materiais reciclados, sem dúvida a mais importante vantagem do ponto de vista econômico.
No entanto o grande desafio para a implantação destas coletas é o custo operacional para o agente da coleta seletiva , normalmente a prefeitura local , para quem a operação somente apresenta resultados financeiros positivos quando a escala de atividade é alta, o que o tornaria inviável para grande parte das comunidades menores.
  • Valores publicados em diversos meios especializados variam de US$50/ton. a US$ 300 / ton., dependendo dos fatores dos custos componentes e principalmente da escala de atividade . Observe-se que mesmo considerando os mais baixos valores ainda é considerada uma operação de coleta cara em relação à coleta de lixo que raramente supera U$ 50 / ton.( na cidade de São Paulo é de U$ 30 / ton.).
De acordo com pesquisa do IPT( Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e CEMPRE ( Compromisso Empresarial para a Reciclagem) , em oito cidades do Brasil , o custo médio em 1994 foi de US$ 240/ ton. destacando-se a cidade de Curitiba , com o programa “ O lixo que não é Lixo”, o mais antigo e de maior quantidade ( 800 ton./ mês, equivalente a uma “taxa de desvio” de 4,61% da coleta do lixo da cidade ) com um custo de US$ 177/ton..Nesta mesma pesquisa, a melhor performance de custo é da cidade de São José dos Campos que apresenta custo de US$ 104 / ton., com 80 ton./mês e taxa de desvio de 1,32% do lixo urbano
  • Como se pode observar nos programas citados nesta pesquisa, as quantidades “desviadas” do lixo urbano são ainda muito pequenas não apresentando economia de escala convenientes que permitam conclusões sobre o sistema de coleta seletiva Especialistas acreditam que estes custos em cidades como São Paulo poderão chegar a menos de US$ 70 /ton..
Tais custos , calculados como uma coleta adicional à coleta do lixo, acrescido dos custos de processamento e diminuído da receita auferida pela venda dos materiais, têm sido contestados por não considerar as economias proporcionadas pela substituição das materiais – primas originais, na reintegração dos materiais reciclados ao ciclo produtivo.
  • Esta contabilidade levaria em conta, além das despesas/receitas citadas anteriormente, as economias de matérias- primas substituídas , as economias das diversas formas de energia usadas na produção , a redução de custos correspondentes à coleta normal do lixo, a redução de custos devido à menor poluição geradas, etc.
Parece que a verdadeira contabilidade, que leva em conta todos os impactos dos produtos sobre o meio ambiente, ainda não está sendo usada para definir a escolha do sistema de coleta seletiva em muitas comunidades .
  • Sob esta ótica, existem desequilíbrios de ganhos entre os agentes envolvidos no canal de distribuição reverso de bens descartáveis: produtores , sociedade e governo, que quando equacionados, permitirão a adoção mais intensa deste tipo de coleta seletiva urbana, evitando que a perda de muitos seja o ganho de poucos.

Canais de distribuição reversos